Alírio Martins, o presidente da organização sindical com sede em Santa Maria da Feira, concelho do distrito de Aveiro onde se concentra a maior parte da indústria nacional de transformação de cortiça, disse à Lusa que o tema está a ser objeto de uma petição lançada no final da semana passada - não só nesse setor, mas também nos do vidro, cerâmica e construção, em paralelo à negociação dos respetivos contratos coletivos de trabalho.
"Pode haver casos em que uma indústria tem que trabalhar 24 horas por dia, mas não há razão nenhuma para as rolhas terem que ser feitas à noite. Até há 10 anos, por exemplo, a produção só se verificava tradicionalmente durante o dia e, se muitos jovens aceitaram fazer o turno da noite para ganharem mais, o que eles entretanto perceberam é que isso não é bom para a saúde e também lhes dificulta a vida quando querem constituir família, ter filhos e conciliar a profissão com as obrigações familiares", declarou o dirigente à Lusa.
O abaixo-assinado que começou a circular pelas fábricas refere que "diversos estudos realizados ao longo dos anos confirmam as gravosas consequências que o regime de trabalho por turnos causa ao nível da saúde, do bem-estar social e da conciliação entre o trabalho e a vida familiar e pessoal, o que tem repercussões na educação dos filhos, na formação dos próprios trabalhadores e na sua participação social".
A isso acresce ainda "a redução da sua esperança média de vida", já que os operários que exercem funções por turnos - sobretudo os que o fazem no período noturno, seja de modo regular ou alternado - "encontram-se numa situação de conflito e desequilíbrio crono biológico", já que o seu ritmo de vida difere do normal e os deixa mais expostos a problemas de saúde.
"Traumatismos digestivos e nervosos, incluindo o desenvolvimento de úlceras e outras patologias; transtornos gastrointestinais e falta de apetite, derivados dos horários irregulares das refeições; problemas cardiovasculares; e perturbações da cronologia do sono, já que o défice de sono profundo agrava a insuficiência da recuperação dos tecidos e aumenta a probabilidade de fadiga mental, que adquire caráter crónico e se intensifica com o envelhecimento", são algumas das debilidades apontadas.
No setor corticeiro, que, segundo Alírio Martins, "emprega umas 8.000 pessoas e tem em regime de turnos 15 a 20% delas", a essa lista de problemas físicos juntam-se ainda as doenças respiratórias relacionadas com a inalação de cortiça, de que resulta a suberose. Idêntica situação caracteriza as indústrias do vidro e da cerâmica, onde há a agravante da silicose, patologia pulmonar associada às poeiras de sílica.
É por isso que o presidente do sindicato defende que os trabalhadores por turnos devem poder reformar-se aos 55 anos de idade. "Como o desgaste deles é maior, é justo que possam aposentar-se mais cedo, sem perda de direitos e com bonificação dos anos de contribuição para a Segurança Social, e isso também deve acontecer com os trabalhadores por turnos que tenham acumulado 40 anos de descontos, independentemente da sua idade", conclui.
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