Até à data, o Serviço Nacional de Saúde (SNS) gastou pelo menos 54 milhões de euros em testes moleculares para detetar infeções de Covid-19 realizados pelos laboratórios privados, noticia o jornal Público esta quarta-feira.
Com a chegada, esta semana, aos quatro milhões de testes realizados desde o início da pandemia, o Público avança que 45% desse total foram feitos no setor público e uma percentagem semelhante no privado. Os 10% restantes foram realizados em laboratórios de universidades.
Apesar de os laboratórios privados terem realizado até 4 de novembro, segundo dados do Ministério da Saúde, mais de 1,5 milhões de testes moleculares para detetar a Covid-19, menos de 40% terão sido pagos pelo erário público, segundo estimaram responsáveis das principais redes de laboratórios privadas do país ao Público. Isto significa que uma parte significativa foi paga pelos particulares que realizaram os testes, que despenderam à volta de 100 euros por análise. Também empresas, instituições do setor social e seguradoras estão na lista dos principais clientes.
Na semana passada, testes rápidos de antigénio começaram a ser utilizados em massa, sendo que têm passado todos os dias úteis a fasquia dos mil por dia, escreve o jornal. Na sexta-feira passada chegou-se perto dos 2700 exames rápidos - mesmo assim muito longe do máximo de quase 47 mil testes feitos num só dia, que se registou nessa mesma sexta-feira.
Apesar destes números, Portugal já não figura no top 10 mundial dos países com mais testes de diagnóstico à Covid-19 por milhão de habitantes, como aconteceu em abril. Esta terça-feira, Portugal surgia então em 29º. lugar no Worldometers, acima da Alemanha e da França numa lista que de mais de 200 países.
A Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS) informou o Público que, entre março e setembro, foram apresentadas faturas no valor de quase 41,6 milhões de euros pelos laboratórios que têm convenção com o SNS. Isso corresponde a um total de 474.788 testes - a maior parte dos quais pagos a 87,95 euros.
Só nos últimos dias de setembro é que o SNS passou a pagar um valor mais baixo por exame molecular: 65 euros. Os restantes 12,4 milhões de euros que terão sido gastos em outubro e na primeira metade deste mês de novembro resultam de uma estimativa, conservadora, feita pelo Público tendo por base o número de exames realizados pelos laboratórios e a percentagem que estes dizem ser paga pelo SNS.
A ACSS justifica apenas dispor dos valores até ao final de setembro “devido ao tempo de processamento necessário relacionado com a faturação”. O Público solicitou à ACSS o número de testes realizados em outubro e nos primeiros dias de novembro, mas a entidade não disponibilizou o número. Mas não deixou de destacar um quadro da execução orçamental do Ministério da Saúde, com dados acumulados até setembro, que notava que até esse mês tinham sido gastos 969 milhões de euros em meios complementares de diagnóstico e terapêutica, menos 73 milhões do que o desembolsado o ano passado até à mesma altura.
Os laboratórios privados, apesar de admitirem realizar testes rápidos de antigénio (que custam cerca de um terço dos testes moleculares), parecem querer continuar a apostar nos testes moleculares, que procuram o material genético do vírus. Estes testes continuam a ser considerados os de referência por terem uma maior fiabilidade. A Unilabs anunciou no início do mês a abertura, em Matosinhos, do maior laboratório de biologia molecular do grupo na Península Ibérica, com capacidade para a realizar entre 12.000 a 15.000 testes de despiste para a Covid-19 por dia.
O S. João, no Porto, e INSA (Laboratório Nacional de Referência para o vírus da Gripe e Outros Vírus Respiratórios do Departamento Doenças Infeciosas do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge) têm estudos a decorrer para avaliar a fiabilidade de se recorrer à saliva como amostra dos testes de deteção de Covid-19.
Tiago Guimarães, diretor do serviço de Patologia Clínica do Hospital de S. João, no Porto, um dos maiores centros hospitalares do país, assegura que até agora os resultados são bons e acredita que, em breve, a saliva será uma alternativa à zaragatoa. “A colheita é mais simples e demora menos tempo a processar”, nota o patologista.
Raquel Guiomar, responsável pelo INSA, e Germano de Sousa, dos laboratórios Germano de Sousa são mais cautelosos. “As células da mucosa da nasofaringe são muito mais ricas do que as da saliva. Mas na impossibilidade de recolher, essa pode ser uma alternativa. Ou uma opção para testar crianças em surtos nas escolas”.
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