Convidado a visitar o Oceanário de Lisboa — que reabriu no passado dia 11, aquando da fase de desconfinamento — Marcelo Rebelo de Sousa foi questionado se o sistema político português podia colher lições deste aquário público, onde os animais que vivem neste aquário público coexistem entre si pacificamente.

No entender do chefe de estado, essa ideia de coexistência "é um bom retrato do que tem sido o enfrentar da pandemia nos últimos meses".

Para Marcelo Rebelo de Sousa, houve "harmonia entre Presidente da República, Presidente da Assembleia da República, Primeiro-Ministro, Governo, líder da oposição e partidos da oposição" no combate à pandemia, tendo estes atores políticos participado "em sessões epidemiológicas, num debate franco e na aprendizagem de um caminho comum que os portugueses respeitam e louvam".

Segundo o Presidente da República, "para vencer a pandemia é muito importante esta unidade, no diálogo e na ação", sendo que "só assim foi possível pôr de pé o estado de emergência pela primeira vez na democracia portuguesa, renová-lo duas vezes e continuar agora numa diversa situação jurídica o combate a uma pandemia que não desapareceu e que queremos que seja controlada, ao mesmo tempo que abrimos a economia e a sociedade".

As palavras de Marcelo Rebelo de Sousa foram proferidas num dia em que, por um lado, o ministro dos Negócios Estrangeiros elogiou a "combinação harmoniosa" que o chefe de Estado tem com o primeiro-ministro, e, por outro, surgiram críticas à sua atuação — e à do Governo — por parte de vários deputados na Assembleia da República.

O Presidente da República optou também por não comentar novamente o caso Centeno, preferindo dizer que quando "há um combate conjunto à pandemia, a convergência de um maior número é fundamental. Teremos depois um combate que já começou à crise económica e social, também aí o diálogo entre os protagonista políticos é muito importante".

O chefe de Estado pediu que no futuro próximo se mantenha "diálogo entre os protagonistas políticos" sobre o "combate que já começou à crise económica e social".

"E o mesmo quanto à realidade europeia: quanto maior for o consenso em Portugal, que tem havido, ao longo de décadas, em torno da realidade europeia, melhor, porque boa parte da solução desta crise passa pela União Europeia, passa pela Europa", acrescentou.

É preciso compatibilizar espetáculos culturais com dados de saúde pública

"Todos estamos com vontade de fazer face à situação dolorosa do mundo da cultura e do mundo do espetáculo durante muitos meses, todos. E, por outro lado, todos percebemos como é compreensível a sua vontade de começar mais cedo, mais depressa, o convívio com todos nós", afirmou Marcelo Rebelo de Sousa.

O chefe de Estado acrescentou: "Vamos tentar compatibilizar isso com os dados disponíveis, daqui até ao final do mês e no início de junho, no domínio da saúde pública".

Declarando-se "muito sensível a essa preocupação", Marcelo Rebelo de Sousa considerou que "tem havido a ideia da parte das autoridades sanitárias de chegar a um equilíbrio nos vários espetáculos".

O Presidente da República referiu que já recebeu representantes do setor cultural no Palácio de Belém, no dia 25 de Abril, e adiantou que na próxima semana irá receber o compositor e cantor André Sardet, "que representa umas centenas de protagonistas do mundo do espetáculo".

À saída do Oceanário de Lisboa, Marcelo Rebelo de Sousa foi também questionado sobre uma carta do presidente da Liga Portuguesa de Futebol Profissional, Pedro Proença, a pedir a sua intervenção para que os próximos jogos do campeonato sejam transmitidos em canal aberto, matéria que recusou comentar.

"Eu por acaso não recebi a carta, mas li-a na comunicação social", começou por dizer o chefe de Estado, acrescentando: "Eu não vou pronunciar-me sobre uma matéria que não é da competência do Presidente da República".

Marcelo Rebelo de Sousa salientou que se trata de "uma matéria sensível, que envolve realidades contratuais entre várias instituições" e argumentou que qualquer opinião da sua parte seria uma forma de se intrometer em matérias em que não deve.

Marcelo pede visitas ao Oceanário e aponta "economia azul" como estratégica

"Fizeram aqui um trabalho notável porque isto estava muito degradado, muito antigo, correspondia a uma museologia de há décadas", comentou o chefe de Estado, enquanto caminhava na plataforma de entrada no Oceanário, em conversa com José Soares dos Santos, presidente da Fundação Oceano Azul.

À saída, cerca de duas e meia mais tarde, o Presidente da República afirmou que esta sua visita "é um convite a que muitos mais venham ao Oceanário, que é realmente uma realidade espantosa e que soube adequar-se aos desafios destes tempos de pandemia" de covid-19, com normas que incluem a utilização obrigatória de máscara e um distanciamento de dois metros entre visitantes.

"Pudemos fazer a visita ao mesmo tempo que havia visitantes de várias gerações respeitando as regras de segurança e de saúde pública. Fica aqui feito o que é um convite virado para o futuro também. Porque esta fundação e este oceanário vão ser peças chaves na estratégia portuguesa no domínio dos oceanos", acrescentou.

Marcelo Rebelo de Sousa defendeu que "os oceanos são uma vocação natural" do país e que "a economia azul é um grande desafio para Portugal e para o mundo - mas em particular para Portugal, em termos de liderança nos próximos anos, nas próximas décadas".

"Não é por acaso que iremos ter em Portugal para o ano a conferência das Nações Unidas sobre os oceanos, marcada para este ano e adiada devido à pandemia. Não é por acaso que temos centros de excelência trabalhando no domínio da biodiversidade, da riqueza dos oceanos", considerou.

A chamada "economia azul", segundo o chefe de Estado, "é importante para a retoma da economia, mas é muitíssimo mais importante a pensar estrategicamente no futuro a médio longo prazo".

"Nós temos de fazer um esforço para aproveitar o tempo que vai até à conferência do ano que vem, mas muito para além dela, para que Portugal assuma um papel liderante que vocacionalmente pode e deve assumir. Nós temos o mar que temos. Não há na Europa muitos como nós a terem este mar. Não há mundo muitos como nós a terem este mar, e a terem a possibilidade de diálogo em torno dos oceanos como nós temos", argumentou.

Marcelo Rebelo de Sousa, que no interior do aquário teve uma visita guiada por João Falcato, presidente do conselho de administração do Oceanário de Lisboa, assinalou que se celebram este ano "22 anos de vida" deste espaço inaugurado durante a Expo98.

"Nós recordamos esse tempo, em 1998, sendo Presidente da República Jorge Sampaio e primeiro-ministro o atual secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, era eu líder da oposição. Foi um passo muito importante que foi dado, no quadro da Expo98, o avanço deste Oceanário. Era um salto qualitativo a todos os níveis na sociedade portuguesa", referiu.

Depois, o Presidente da República destacou a criação da Fundação Oceano Azul, em 2015.

"E é impossível não recordar uma personalidade que inspirou esse passo: Alexandre Soares dos Santos. Foi a sua visão também aqui que permitiu que houvesse uma colaboração entre o público e o privado, entre o público e a sociedade civil, de prestígio nacional e internacional, no domínio científico, educativo, pedagógico, social, e que hoje é uma grande realidade", disse.