“Sou levado a pensar que foi um bando de amadores que fez isto”, disse o coronel, ouvido hoje na comissão parlamentar que investiga o furto de material de guerra dos paióis de Tancos, em junho de 2017.
Frisando que a análise que faz é baseada na sua sensibilidade, o coronel destacou que os autores do furto “não conseguiram escoar” o material, que acabou por ser recuperado, acrescentando que “rebentou-lhes a castanha nas mãos”.
Perante as declarações do coronel, que foi responsável pela vigilância dos paióis enquanto comandante do Regimento de Paraquedistas entre outubro de 2013 e outubro de 2016, o deputado do CDS-PP António Carlos Monteiro manifestou-se “bastante preocupado”.
“Trata-se de uma análise feita por alguém conhecedor”, frisou o deputado centrista, questionando como terá sido possível a “um bando de amadores” furtar material de uma instituição como o Exército.
Na resposta, o coronel explicou que analisa o assalto como operacional do Exército: “Eu não encontro à partida um objetivo para quem perpetrou, o material parece não ter sido usado, foi recuperado e não escoado, não foi entregue a outros grupos”, observou.
“Houve a capacidade a subtrair material dos paióis de Tancos mas não encontro à partida um nível de trama mais denso subsequente, na análise enquanto leigo na matéria”, justificou o militar.
O ex-comandante considerou que o furto “é sério” porque o material, a ter sido utilizado, poderia provocar “danos assinaláveis”.
Neste ponto, o militar frisou que, tecnicamente, não foram furtadas “armas” mas sim “munições, explosivos e artefactos” de uso militar.
“Se podia causar dano? Efetivamente sim, caso estivesse em condições de operacionalidade”, acrescentou.
Quanto aos efeitos que causou na instituição militar, o coronel admitiu “embaraço” pela “falha” e considerou que o “Exército após Tancos é diferente do Exército antes de Tancos”.
“Foi uma situação triste porque pôs em causa instituições que nos merecem o maior respeito”, disse o ex-comandante.
Questionado pelos deputados, o coronel confirmou que a decisão do ex-Chefe do Estado-Maior do Exército Rovisco Duarte de exonerar os comandantes das cinco unidades responsáveis pela vigilância dos paióis dias depois do furto “causou mal-estar” no Exército.
Já quanto às demissões de dois generais [Antunes Calçada e António Meneses] em divergência com Rovisco Duarte, o coronel Alves Pereira recusou comentar, afirmando que “isso não pôde constatar”.
O furto do material militar, entre granadas, explosivos e munições, dos paióis de Tancos foi noticiado em 29 de junho de 2017.
O caso do furto de armas em Tancos ganhou importantes desenvolvimentos em 2018, tendo sido detidos, numa operação do Ministério Público e da Polícia Judiciária, sete militares da Polícia Judiciária Militar (PJM) e da GNR, suspeitos de terem forjado a recuperação do material em conivência com o presumível autor do roubo.
Entre os detidos está o diretor da PJM e um civil (que já foi militar), principal suspeito da prática do furto, encontrando-se ambos em prisão preventiva, num caso que levou à demissão de Azeredo Lopes do cargo de ministro da Defesa e cujas implicações políticas levaram à criação de uma comissão parlamentar de inquérito.
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