"Tanta pressa no verão, todos querem carvão, nunca vimos nada assim", diz Frithjof Engelke, fornecedor de Berlim desse combustível em desuso e mais uma vez cobiçado na Alemanha devido à crise do gás, que deve piorar a partir do outono.
A temida escassez de gás russo devido à guerra na Ucrânia está a causar uma procura pouco comum por essa forma de aquecimento, apesar de todas as características nocivas que a utilização do carvão enquadra.
Para Engelke, diretor da centenária empresa familiar Hans Engelke Energie, "as férias vão ter de esperar".
Agora precisa de fazer pedidos, organizar as entregas - já tem entregas programadas até outubro - e preparar o produto para quem compra diretamente na sua loja.
Em Berlim, entre 5.000 e 6.000 casas ainda são aquecidas com carvão, uma pequena fração dos 1,9 milhões que compõem o parque habitacional, indica o município local.
São geralmente pessoas mais velhas, por vezes totalmente dependentes deste combustível e que vivem em casas antigas que nunca foram reformadas. Ou amantes do calor intenso que emana dos fogões antigos.
Mas este ano, novos clientes chegaram "em massa", conta Engelke, cuja pequena empresa também vende pellets (combustível de madeira granulada) e óleo combustível.
Agora, "quem costumava usar gás, mas ainda tem fogão em casa, quer carvão", um fenómeno, segundo ele, generalizado em toda a Alemanha.
'Ressurgimento': O carvão regista um boom no país
O governo alemão decidiu aumentar o uso de centrais elétricas para responder às enormes necessidades energéticas da sua indústria, situação que fez com que levasse à escassez de aquecedores elétricos.
Apesar disso, o chanceler Olaf Scholz declarou recentemente que não vai desistir do seu objetivo de abandonar essa energia poluente em 2030 e descarta "um ressurgimento das energias fósseis, particularmente do carvão".
Mas com o surgimento de todos estes novos clientes particulares, é difícil responder à elevada procura e muitos pequenos comerciantes de carvão da capital não têm mais nada para vender. "Produzimos a plena capacidade durante o verão, com três turnos, sete dias por semana”, disse à AFP, Thoralf Schirmer, porta-voz da empresa LEAG, localizada na bacia mineira de Lusácia (no leste da Alemanha).
A outra fábrica que abastece o mercado alemão, com sede na bacia do Reno, vai interromper a produção no final do ano, reduzindo ainda mais a oferta num momento em que Vladimir Putin já cortou parcialmente a torneira de gás para a Alemanha.
"Tenho um pouco de medo do inverno", admite Frithjof Engelke. Atualmente, as pessoas parecem mais tranquilas quando descobrem que vão ter de esperar pelo menos dois meses antes de receber o pedido, diz ele. "As coisas serão diferentes quando começar a esfriar lá fora", afirma.
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