Baseada na tragédia homónima de Eurípides, o dramaturgo grego que primeiro coloca Medeia como assassina dos seus próprios filhos, a peça centra-se em Medeia, princesa da Cólquida, famosa pela sua prudência e pela arte de curar.
A Companhia João Garcia Miguel põe em evidência a relação entre o passado e o futuro e levanta várias questões que considera estarem subjacentes à obra de Eurípides - o papel do feminino a redefinição do tecido social e político, questões sobre a transparência das relações interpessoais, questões sobre a emigração e o estatuto do refugiado, entre outras.
"É neste sentido que esta obra mantém uma atualidade e pertinência que permite refletir sobre a diminuição do poder simbólico no mundo contemporâneo", escreve a companhia, na apresentação da obra.
Medeia apaixona-se por Jasão, que foi para a Cólquida para conquistar o velo do ouro, ajuda-o, contrariando o pai, salva-o e foge com ele para a Grécia.
Ao fim de muitos anos de matrimónio, Jasão deixa Medeia, casando-se com a filha de Creonte, rei de Corinto, Gláucia. Para a proteger, Creonte envia Medeia e os seus filhos para o exílio. Mas Medeia, incapaz de controlar a ira e sede de vingança, mata a amante de Jasão, o rei Creonte e os seus próprios filhos, do casamento com Jasão.
A Companhia João Garcia Miguel recorda que a tragédia levanta "uma questão central sobre os protagonistas da História e a vida dos indivíduos", componente que considera determinante "na abordagem da obra, em busca das sombras que nos moldam o ser".
"Eurípides é o primeiro dramaturgo que coloca Medeia como assassina dos próprios filhos", escreve a companhia, na apresentação da peça. Numa versão mais antiga, era a rainha de Corinto e os seus súbditos, descontentes, teriam morto os seus filhos.
"Medeia, em grego Mideia, significa 'a do bom conselho' e, durante muitas tradições, ela é apresentada como dotada de inteligência superior. Um dos seus poderes mais conhecidos era o de rejuvenescer, que conjugava o poder sobre a morte, o poder sobre a vida e sobre o renascimento", recorda a companhia.
As lendas mais antigas tinham um final mais feliz para Medeia e Jasão. Há versões que contam que Medeia rejuvenesceu Jasão, homem envelhecido. Há ainda a história de que os Corintos subornaram Eurípides, para que ele os livrasse das culpas de terem morto os filhos de Medeia.
A figura de Medeia, nas diferentes lendas, é ambivalente e é símbolo de um período de transição do matriarcado para o patriarcado, recorda a companhia. Passa de deusa da cura e da sabedoria, para feiticeira ameaçadora e poderosa e, por fim, para mulher ciumenta e infanticida.
Assim, "a feminilidade e, principalmente, a feminilidade dotada de poder, foi desvalorizada e vista como demoníaca, na mesma proporção do crescimento do poder patriarcal", escreve a companhia, na apresentação da obra.
Com direção e encenação de João Garcia Miguel, que assina também a cenografia, a peça tem interpretação de Sara Ribeiro e David Pereira Bastos.
João Garcia Miguel e Sara Ribeiro assinam os figurinos.
“Medeia”, com que a Companhia abre a temporada de 2018, estará em cena de 22 a 24 de fevereiro e de 28 de fevereiro a 03 de março, no Teatro Ibérico, em Lisboa.
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