As vacinas que estão disponíveis atualmente não chegam para o número de gatos a vacinar e “vêm a conta-gotas”, afirmou Jorge Cid, bastonário da Ordem de Médicos Veterinários (OMV) ao SAPO24.
Uma das explicações para a rutura é a crescente procura, motivada pelo aumento das adoções de animais de companhia durante a pandemia.
“De algum tempo para cá, tem havido uma grande dificuldade na aquisição de vacinas dos gatos. Têm estado esgotadas e vêm a conta-gotas. Houve um aumento de consumo a nível da Europa, devido ao grande número que adoções durante a pandemia e, portanto, há mais gatos a serem vacinados”, explica o bastonário.
Jorge Cid associa ainda a rutura à “quebra de produção devido à pandemia", cujo impacto se fez sentir "quer ao nível dos recursos humanos, quer nas matérias-primas e nos transportes. Houve mais procura, menos produção e [o stock] esgotou”.
O médico-veterinário Luís Asseiro de Sá, da Clínica Veterinária Vale d'Álvaro, confirma ao SAPO24 as dificuldades no acesso às vacinas.
"Relativamente às vacinas polivalentes para gatos, houve uma rutura grande ao nível do fornecimento para os Centros de Atendimento Médico-Veterinários (CAMV), imaginando nós que por falta de produção", diz o médico veterinário, assegurando que, no que tem conhecimento, “nunca foi explicado qual o motivo para isso”.
“O que foi notório foi o facto ser transversal a todos os grandes produtores de vacinas para animais, pelo menos ao nível europeu”, refere, acrescentando que, no seu caso, "o stock tem vindo a ser reposto gradualmente ao longo deste mês de outubro".
Apesar de a maior escassez se verificar nas vacinas para gatos, "nas dos cães também já se começa a sentir”, confirmou o bastonário. Jorge Cid assegura, porém, que no caso da vacina da raiva – transmissível a humanos – “não tem havido grandes problemas” e que a rutura se verifica principalmente "nas chamadas vacinas múltiplas”, que visam "várias doenças" – a vacina polivalente protege contra a rinotraqueíte viral felina (uma doença do tipo gripal causada por um herpesvírus), calicivirose felina (uma doença de tipo gripal acompanhada de inflamação da boca, causada por um calicivírus) e panleucopenia felina (uma doença grave causada por um parvovírus semelhante ao vírus responsável pela parvovirose canina).
“Nessas é que tem havido uma quebra grande. Os laboratórios não estão a conseguir fazer face às encomendas, há rutura de stocks e depois cada laboratório vai pondo [vacinas] no mercado a ‘conta-gotas’, e vai rateando segundo os pedidos que têm e distribuindo ‘o mal pelas aldeias’”.
Sobre a forma como os CAMV estão a organizar e a dar resposta a esta rutura, Jorge Cid afirma não ter essa informação, mas refere que “todos os clínicos farão o seu protocolo vacinal conforme o seu critério clínico”. O bastonário faz um paralelismo em relação à vacina da covid-19 e da gripe, relembrando que “também não havia para todos e, portanto, foram elencados grupos de risco que seriam os prioritários e depois quando houvesse [maior disponibilidade de vacinas] seriam os outros a seguir”.
“Em cada CAMV, a direção clínica estabelece as prioridades, segundo o seu critério clínico, o que também varia muito de CAMV para CAMV. Há uns que tinham stocks maiores e e conseguem ainda fazer face à procura, outros não. Portanto, tem de se definir um critério, segundo a prática clínica, já que dificilmente há vacinas para todos”, remata.
O bastonário considera ainda que “não é expectável que essa situação melhore ou esteja resolvida antes do fim do primeiro trimestre de 2022, princípio do segundo”.
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