Entre as mais de 60 mil Testemunhas de Jeová que hoje participaram no primeiro dia do congresso internacional, em Lisboa, muitas foram as que optaram pelas novas tecnologias.

Alice Henriques, Testemunha de Jeová desde 1973, explicou à Lusa a sua opção: “A Bíblia era muito pesada. É mais fácil ver a Bíblia no tablet”, que permite aumentar o tamanho de letra e saltar mais facilmente para uma determinada página ou texto.

No entanto, Alice Henriques disse que no sábado irá regressar à versão em papel. O que não muda é o uso do seu caderno onde durante toda a manhã foi registando “os pontos que interessam para depois aplicar na pregação”.

A maioria dos presentes no Estádio da Luz, onde decorre o encontro internacional, também optou pela mesma metodologia, anotando passagens da Bíblia ou apenas alguns versículos.

O objetivo, contaram, é poder no futuro fazer um trabalho melhor quando estiverem a pregar ou apenas para quando quiserem meditar.

Pregar de porta em porta é a imagem de marca das Testemunhas de Jeová que dizem ser uma missão cada vez mais difícil.

As histórias de quem anda de porta em porta a tentar divulgar a mensagem da Bíblia são todas diferentes, mas com muitos pontos em comum, segundo relatos ouvidos hoje durante o Congresso Internacional.

Contra si, dizem ter uma sociedade na qual o medo e a desconfiança imperam. Abrir a porta a um desconhecido tornou-se uma raridade e, por isso, às vezes são os idosos ou as crianças quem quebra essa barreira.

Mas quando aparece uma criança sozinha “somos os primeiros a dizer para fechar a porta”, contou João Pedro Cabral, um dos porta-vozes da iniciativa, que conta com a participação de mais de 60 mil pessoas.

Muitas Testemunhas de Jeová admitem que, por vezes, também têm medo do desconhecido, receio de quem está do lado de lá da porta.

“Não é fácil, mas também não custa tentar. A gente anda de porta em porta para salvar as pessoas. Não pode ter medos senão não sai de casa”, disse Alice Henriques.

“Somos pacíficos e não queremos causar conflito nenhum. Quem não nos quer ouvir, nós não teimamos”, contou por seu turno Daniel Vidinha, que apesar de seguir esta máxima já foi “posto de fora de um prédio onde estava a pregar”.

Mas, estes contratempos que o desmobilizam. Com 32 anos, Daniel Vinha conta que aproveita “todos os momentos para pregar”, inclusive no local de trabalho e, quando estudava, com os colegas da escola.

Apesar do esforço, “ainda não tive o privilégio de dirigir nenhum estudo bíblico nem de trazer ninguém à verdade”, contou à Lusa.

Apesar das dificuldades, garantem que não desistem e lembram que o objetivo é mostrar que “O amor nunca acaba”, sublinhou Pedro Cabral, citando o lema do congresso que termina domingo.

“Com estas 65 mil pessoas aqui presentes conseguimos mostrar que o amor nunca acaba”, disse Pedro Cabral, contando que hoje de manhã, quando saiu do prédio onde está alojado com a família descobriu que no mesmo edifício estavam muitas outras testemunhas de Jeová hospedadas.

Com sotaque do norte, Pedro Cabral anunciou à Lusa animado: “Nós invadimos Lisboa”.

Milhares de Testemunhas de Jeová encheram um estádio de futebol, ocuparam prédios onde há alojamento local e prometem continuar a pregar de porta em porta, mas também pelos cafés e restaurantes da capital.

“As pessoas recebem-nos muito bem. Estão contentes por terem cá as testemunhas de Jeová”, disse Pedro Cabral.