Em conferência de imprensa, o comandante distrital de Faro da PSP, Dário Prates, adiantou que os três jovens detidos, todos com 16 anos, são “os mais ativos e violentos” do grupo, composto por oito rapazes e três raparigas, todos estudantes e residentes em Olhão.
“Foi possível relacionar o grupo com oito ocorrências, cinco por roubos e três de agressões, só no mês de janeiro”, sublinhou, acrescentando que a operação policial de hoje visou “a recolha de prova através da realização de seis buscas domiciliárias”, bem como a detenção de três dos jovens mais ativos, com vista à sua apresentação ao tribunal.
Segundo o comandante distrital daquela força de segurança, a PSP visualizou mais de 20.000 vídeos, bem como centenas de horas de imagens recolhidas pelas câmaras do circuito de videovigilância instaladas na cidade de Olhão, imagens que se revelaram “essenciais para a investigação”, tendo também sido ouvidas várias testemunhas.
“Sabe-se agora que os jovens comunicavam entre si através de um grupo fechado na rede social Instagram, a que atribuíram o nome de 8700 [código postal de Olhão]”, referiu, acrescentando que a atuação do grupo passava pela escolha de vítimas especialmente vulneráveis.
Os seus alvos apresentavam essa vulnerabilidade quer pela sua naturalidade, como é o caso dos imigrantes das comunidades indiana e nepalesa, quer pela sua condição social – tendo havido um episódio de violência contra um sem-abrigo, que ainda não foi identificado - ou pela idade (há registo de um jovem de 16 anos vítima de roubo).
De acordo com Dário Prates, as agressões e os roubos eram cometidos “com aproveitamento da força do coletivo, alicerçados numa extrema violência gratuita e espontânea, especialmente por parte dos três jovens com maior ascendência no grupo, hoje detidos”.
Os suspeitos, que deverão ser ainda hoje presentes a tribunal para a aplicação de medidas de coação, estão indiciados por cinco crimes de roubo, quatro crimes de ofensa à integridade física qualificada e um crime de dano com violência.
“Acreditamos que, para além das motivações inerentes aos crimes indiciados (roubo e ofensas à integridade físicas qualificadas), existem também motivações que se prendem com a promoção da sua afirmação nas ruas de Olhão, e os que os acompanharam e presenciaram os atos violentos, como forma de pertença ou integração no grupo”, sublinhou.
Dário Prates acrescentou que alguns dos membros do grupo residem em bairros sociais, mas não todos, afirmando acreditar que a motivação não será “a mera xenofobia”, mas sim a “exploração da vulnerabilidade” das vítimas, na sua maioria imigrantes.
O responsável do comando distrital de Faro ressalvou ainda que esta é a primeira fase da investigação, pelo que há “ainda muito trabalho por fazer” a este nível, uma vez que “ainda não está cabalmente percebido qual é a intervenção” de cada membro do grupo nos atos criminosos.
Questionado pelos jornalistas sobre se os processos dos jovens com menos de 16 anos – idade a partir da qual passam a estar sujeitos ao processo penal - serão encaminhados para o Tribunal de Menores, Dário Prates referiu que o facto de terem presenciado os atos pode fazer com que sejam testemunhas, mas também pode corresponder a uma situação de menores em risco.
“Caso haja da parte dos menores a realização de atos contrários à lei, aquilo que associamos ao conceito de crime, serão sujeitos depois a uma medida tutelar educativa. Em caso de serem meros observadores ou que presenciaram os atos, podem estar numa situação de risco e aí pode ser comunicado à Comissão de Proteção de Crianças e Jovens”, referiu.
No entanto, ressalvou, esta é uma questão que tem que ser “articulada com o Ministério Público para o devido encaminhamento”.
A agressão cometida contra o imigrante nepalês em Olhão (distrito de Faro), que se tornou pública com a divulgação de um vídeo nas redes sociais, foi condenada pelas autoridades portuguesas, que consideraram tratar-se de “comportamentos inaceitáveis” que têm de ser “exemplarmente punidos”.
Além da violenta agressão, que ocorreu em 25 de janeiro, o grupo roubou a mochila da vítima, que não apresentou queixa.
Conforme é visível no vídeo divulgado, o cidadão nepalês suplicou para que parassem de o agredir e lhe devolvessem pelo menos os seus documentos.
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