“Nós estamos virados para o futuro, é uma questão que foi levantada cá em Portugal, mas que, honestamente, não nos preocupa, não faz parte das nossas prioridades e não faz parte da nossa agenda”, afirmou em declarações à Lusa o chefe do Governo são-tomense, que tomou conhecimento hoje em Lisboa, onde se encontra, das afirmações da sua ministra da Educação, Cultura e Ciência.

Isabel Abreu afirmou hoje aos jornalistas que o Governo são-tomense vai pedir a Portugal a reparação dos danos morais da colonização, adiantando que o assunto seria discutido na reunião do Conselho de Ministros.

“São danos morais causados pela colonização durante todos esses anos e se Portugal concorda e aceita a reparação dos danos, o Governo está a trabalhar nesse aspeto”, referiu Isabel Abreu, interpelada pela Lusa à margem do V encontro das Agências Reguladoras do Ensino Superior da CPLP, que se iniciou hoje na capital são-tomense.

Patrice Trovoada interpretou estas declarações como resultado da “pressão” dos jornalistas, considerando que Isabel Abreu esteve num “dia mau”.

“Eu acho que a ministra não… Há dias maus, acho que não era um bom dia para ela”, disse à Lusa o chefe do executivo são-tomense.

“Em São Tomé, evidentemente, algumas pessoas… É uma questão de opinião de cada um, algumas pessoas em São Tomé começaram a reagir favoravelmente às ideias do Presidente Marcelo [Rebelo de Sousa], e os jornalistas estavam a insistir com ela e ela não… Encontrou a pior maneira de sair dessa insistência”, considerou.

“São questões de opinião, mas não é a posição do Governo”, acrescentou o governante.

Quanto a Isabel Abreu, o caso não passará daqui, disse Trovoada. “Não há nenhuma polémica com a ministra, eu acho que a ministra saiu-se mal de uma pergunta, de uma pressão feita pelos jornalistas, e acabou-se”.

“Agora, é preciso dizer qual é a posição do Governo e eu é que tenho que dizer que a posição do Governo é que não está na agenda e não vai estar na agenda do Governo essa questão”, fez questão de reiterar.

Questionado sobre a posição assumida pelo Presidente são-tomense, Carlos Vila Nova, na semana passada em reação às declarações de Marcelo Rebelo de Sousa, que reconheceu a responsabilidade de Portugal na reparação pelo seu passado colonial junto das suas ex-colónias, Patrice Trovoada fez questão de sublinhar que a condução da política externa são-tomense cabe ao Governo, não ao chefe de Estado.

“O Presidente Carlos Vila Nova tem uma opinião, mas o que eu quero dizer é que o Governo de São Tomé e Príncipe é que define a política externa do país, e, em relação a Portugal, nós não temos de facto essa questão na agenda”, afirmou.

“A descolonização pode estar resolvida, mas os atos de maus tratos, de violência e outros que aconteceram não estão resolvidos, portanto eu vejo isso [as declarações do Presidente de Portugal] com normalidade até porque ao nível de outras potências colonizadoras esse processo já está um bocado avançado, já está em discussão”, disse na semana passada Carlos Vila Nova em declarações aos jornalistas.

Hoje, Patrice Trovoada fez questão de sublinhar que as relações bilaterais entre São Tomé e Princípe e Portugal têm outro foco: estão voltadas para o “futuro”.

“Para nós, não é uma questão que nos preocupa, nós, em relação a Portugal, não estamos interessados nessa questão, estamos virados para o futuro com Portugal e com os portugueses e temos muitas coisas a construir em conjunto”, acrescentou Patrice Trovoada.

“Por conseguinte, com Portugal é amizade, é solidariedade, é procurarmos estabelecer pontes sobre as questões que preocupam não só Portugal, mas São Tomé e Príncipe, e [sobre] outras questões que preocupam toda a gente, como o clima, como a paz, como a democracia”, disse ainda.

Quanto às questões levantadas por Marcelo Rebelo de Sousa na semana passada, “não fazem parte da preocupação e da agenda do Governo são-tomense”.

“Isso tem que ficar claro e assim, pelo menos, passamos a outra coisa”, concluiu.