Na sexta-feira, um Veículo de Conservação de Catenária (VCC) foi abalroado pelo comboio Alfa Pendular, em Soure, distrito de Coimbra. O comboio seguia no sentido sul - norte com destino a Braga e o descarrilamento ocorreu após o embate entre o Alfa e uma máquina de trabalho. O acidente causou dois mortos e 44 feridos, três dos quais, à hora que este texto é escrito, ainda internados nos hospital de Coimbra.

Um dia depois, é isto que sabemos:

Como é que o acidente aconteceu

Segundo uma Nota Informativa do Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes com Aeronaves e de Acidentes Ferroviários (GPIAAF), pelas 15h12, de sexta-feira, o VCC parou na via de resguardo (linha III) da estação de Soure a aguardar pela passagem do Alfa Pendular mas, alguns momentos depois, “por razões, que neste momento estão indeterminadas e que serão aprofundadas no decurso da investigação, o VCC reinicia a sua marcha, ultrapassando o sinal que se mantinha com aspeto vermelho” e invade a linha I, onde circulava o Alfa Pendular.

O Alfa Pendular circulava corretamente?

A investigação conta que o atravessamento da estação de Soure pelo Alfa Pendular “foi feito à velocidade prevista de cerca de 190” quilómetros hora, momento em que os maquinistas visualizaram o sinal vermelho na linha[I] do Norte (sinal passou de verde para vermelho porque o VCC entrou na linha I) e o VCC convergiu para a via em que circulavam.

Havia forma de evitar o sucedido?

“Os VCC, tal como a generalidade dos veículos de manutenção de via no nosso país, não estão equipados com o sistema CONVEL, motivo pelo qual não foi desencadeada a frenagem automática resultando na consequente imobilização do VCC 105 antes de atingir um ponto de perigo”, sublinha a Nota Informativa.

Desde a entrada do VCC na Linha do Norte até ao embate passaram 20 segundos.

“O freio foi acionado, sem que tal pudesse impedir a colisão, a qual ocorreu às 15:26. Na sequência da colisão, descarrilaram os primeiros dois veículos do CPA 4005 [Alfa Pendular] e o VCC foi arrastado à sua frente durante cerca de 500 metros, até à imobilização do conjunto”, refere a nota.

O que é o CONVEL?

Um sistema de controlo automático de velocidade.

Porque é que a maioria dos veículos ferroviários não está equipada com este sistema?

A Infraestruturas de Portugal tinha-se comprometido há dois anos com a instalação do sistema em Veículos de Conservação de Catenária, mas a medida, “sujeita a cabimentação financeira”, nunca avançou.

O compromisso consta num relatório do Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes com Aeronaves e de Acidentes Ferroviários (GPIAAF), divulgado em julho de 2018, e é uma resposta a uma recomendação de segurança deste organismo, que alertou para o risco de estes veículos circularem sem o sistema CONVEL, após um deles ultrapassar “indevidamente” um sinal vermelho na estação Roma-Areeiro, em Lisboa, em janeiro de 2016.