De acordo com o mais recente relatório “Números da Ordem”, relativo em 2016, de todas as faculdades, públicas e privadas, com cursos de medicina dentária são quase 20% os alunos estrangeiros.
São as faculdades privadas que têm maior volume de estrangeiros e, segundo o bastonário da Ordem dos Dentistas, este fenómeno deve-se muito à dificuldade que estudantes de algumas nacionalidades têm de entrar nos cursos nos seus países de origem, por haver maior restrição de vagas.
Dos 3.200 alunos inscritos em mestrado integrado de medicina dentária em Portugal, 20% são estrangeiros e, dessa fatia, 39% são franceses, 25% espanhóis e 23% italianos.
“Nesses países é mais difícil, devido à existência de ‘numerus clausus’ entrar em medicina dentária e muitos jovens dirigem-se para estudar em Portugal, onde a qualidade do ensino é reconhecido, o que é positivo. Estas pessoas voltam depois aos países de origem pela questão da empregabilidade, porque em Portugal não há as oportunidades em termos de trabalho que têm nos seus países”, comenta o bastonário da Ordem dos Médicos Dentistas, Orlando Monteiro da Silva.
Considerando este como num fenómeno relativamente novo, o representante dos médicos dentistas diz que é uma realidade que traz prestígio ao ensino superior e que ajuda a mitigar os médicos formados e que entram no mercado de trabalho português, uma vez que estes estudantes se dirigem aos países de origem no fim dos seus cursos.
“Esta é sem dúvida uma oportunidade a explorar pelas faculdades em Portugal, porque permite reduzir o número de alunos portugueses sem perda de receita. Seria uma forma de as instituições contribuírem para minimizar o problema flagrante de excesso de médicos dentistas”, refere a Ordem.
Os médicos dentistas têm alertado consecutivamente para o aumento anual de profissionais além do necessário ao país, defendendo que a Ordem seja consultada no processo de definição do número de vagas nas faculdades.
Só em 2016 entraram no mercado de trabalho 660 novos médicos dentistas.
Dentistas portugueses que emigraram e não regressaram quase duplicam em dez anos
O número de médicos dentistas portugueses a emigrar e que não pretendem regressar quase duplicou em dez anos e continuam a sair anualmente das faculdades profissionais em excesso, segundo a Ordem destes profissionais.
O documento “Número da Ordem” relativo a 2016, a que a agência Lusa teve acesso, mostra que só num ano aumentou em 19% o número de dentistas com inscrição suspensa na Ordem, sendo a emigração o principal motivo desta suspensão.
O número de dentistas com inscrição suspensa e anulada, portanto inativos, quase duplicou, passando de 689 em 2007 para 1.300 ano passado.
“Continua a aumentar a emigração de médicos dentistas. Verificamos que cada vez está mais consolidado este fenómeno da emigração. Colegas que se dirigiam para outros países, como França e Inglaterra, têm vindo a anular essa inscrição mostrando que não fazem tenções de voltar a exercer em Portugal pelo menos nos próximos tempos”, afirmou à agência Lusa o bastonário da Ordem dos Médicos Dentistas.
Orlando Monteiro da Silva sublinha que a par destes profissionais há “muitos outros” que estão a exercer fora de Portugal mas que continuam por enquanto com inscrição ativa na Ordem.
“No surto emigratório que na medicina dentária se acentuou com a crise em 2007, 2008, 2009, o que verificamos é que este surto não teve retorno e as pessoas estão a ficar nos países por razões diversas, mas a empregabilidade atual da profissão em Portugal é uma questão crucial”, comentou.
Reino Unido e França são os principais países de destino dos médicos dentistas que emigram, com a Ordem a destacar que ainda é uma incógnita o que irá acontecer após a saída do Reino Unido da União Europeia.
Dos dados do documento “Números da Ordem”, constata-se ainda que o número de inscritos na Ordem continua a aumentar, estando nos 10.688 em 2016, um crescimento de 660 em relação ao ano anterior.
É um aumento acima das necessidades do país, sublinha o Orlando Monteiro da Silva.
“A emigração atingiu valores nunca vistos, mas não tem sido suficiente para diminuir o número de médicos a exercer em Portugal. Das universidades continuam a sair anualmente centenas de profissionais sem qualquer perspetiva de trabalho estável. Um problema que tem de ser resolvido pelos ministérios da Saúde e do Ensino Superior quanto à limitação de vagas”, afirmou o bastonário.
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