Na sexta-feira, o líder do Chega, André Ventura, acusou os jornalistas de serem “inimigos do povo”, recorrendo a uma expressão reiteradamente utilizada pelo antigo Presidente dos Estados Unidos Donald Trump.

Na origem da acusação estiveram perguntas de jornalistas sobre um vídeo colocado nas redes sociais de André Ventura que mostra parte da sua interação com um imigrante que o abordou na quinta-feira numa ação de campanha na Póvoa de Varzim.

Hoje, numa publicação na sua página oficial, o Sindicato dos Jornalistas recorda que este tipo de acusações já foi usado por outras forças políticas de outras nações, incluindo líderes considerados antidemocráticos, em reação ao trabalho de escrutínio das ações, declarações e coerência de figuras e forças políticas.

A par de condenar as “declarações de incitamento contra os jornalistas”, o sindicato acusa o Chega de manipular um vídeo atribuído à SIC e divulgá-lo nas redes sociais “com o objetivo de criar uma versão alternativa de factos relatados por jornalistas no cumprimento das suas funções através de uma ação propositada de desinformação”.

No vídeo partilhado nas redes sociais, o Chega utiliza apenas parte das imagens da interação para sugerir que o imigrante mentiu quanto à sua nacionalidade e profissão. Na legendagem que o Chega fez, o homem afirma ser indonésio e pescador, apesar de ter dito aos jornalistas que era nacional do Bangladesh.

O Chega deixa de fora a parte em que André Ventura o questionou diretamente se trabalha na pesca e o homem responde, num português esforçado, que trabalha nas estufas e que ajuda outros imigrantes indonésios, esses sim, pescadores.

Questionado pelos jornalistas, Ventura recusou que o vídeo tenha sido manipulado e insistiu que o homem lhe disse ser da Indonésia e “depois disse que era do Bangladesh”, preferindo virar-se contra a comunicação social, em especial a SIC, classificando como “miserável” o trabalho feito por esta estação televisiva.

“Se alguém mentiu primeiro foram vocês… vocês ontem foram os inimigos do povo, os inimigos das pessoas. Ao partilhar uma peça mentirosa, falsa, e a manipular as pessoas”, acusou, recorrendo a expressão de Donald Trump.

Perante a situação, o Sindicato dos Jornalistas espera que o Chega esclareça que importância atribui ao jornalismo livre e independente, e “se retrate relativamente às declarações do seu líder”, que considera serem “profundamente injustas e apontam para um retrocesso nos valores democráticos de quem devia estar na linha da frente da sua defesa”.

O sindicato diz ainda não encontrar de momento condições para aceitar o pedido para uma reunião feito pelo deputado do Chega e vice-presidente da 12.ª Comissão de Cultura, Comunicação, Juventude e Desporto, Jorge Galveias.

“O SJ entende que não existem condições para uma reunião com quem ataca com o objetivo de desacreditar e caluniar a classe profissional jornalística e os meios de comunicação social”, refere.