Em entrevista à agência Lusa, o bastonário dos Médicos, Miguel Guimarães, recorda que a medicina começa na relação médico/doente, considerando que uma melhor comunicação e maior proximidade favorecem utentes e profissionais, inclusivamente no campo da prescrição de fármacos.
“Utilizam-se antibióticos em excesso porque a relação médico/doente não é tão próxima como devia ser. Se fosse mais próxima, provavelmente havia menos necessidade de usar antibióticos. É mais fácil medicarmos um doente do que não medicarmos”, afirmou Miguel Guimarães.
O representante da classe médica insiste que há uma elevada pressão na relação entre médico e doente, além da responsabilidade associada, levando à prática de uma medicina defensiva.
“A medicina defensiva está a crescer porque as condições de trabalho não são as melhores. Neste momento, no nosso país, são particularmente más”, indicou.
O que ocorre, com a falta de tempo entre médico e doente e com as deficientes condições de trabalho, é que os médicos tentam proteger-se e acabam, por vezes, por atuar por excesso, “o que é mau”, reconhece Miguel Guimarães.
A este propósito, o bastonário alude ainda ao “elevado nível de responsabilidade que os médicos têm em termos de sociedade civil”, pagando até indemnizações aos doentes não por erro médico ou negligência mas por “complicações que eram previsíveis no decurso de um tratamento”.
“Os médicos têm grande pressão e em última análise tentam proteger-se e atuam por excesso. Temos de desaconselhar esta atuação. É uma situação a que a Ordem vai ter particular atenção para tentar definir recomendações clínicas que protejam os próprios médicos para que, em determinadas circunstâncias, os médicos se sintam mais confortáveis para fazer só o que devem fazer e não medicina defensiva”, afirmou Miguel Guimarães.
Um exemplo desta medida defensiva é a realização de um exame que o médico está seguro de que não será necessário, mas avança com a prescrição por temer eventuais queixas formais por parte do doente.
Ainda no que respeita ao uso excessivo de antibióticos, apontado no recente relatório do Observatório dos Sistemas de Saúde, o bastonário lembra que há cada vez infeções mais complexas, uma realidade não exclusivamente nacional.
“Mas também é verdade que o investimento que tem sido feito pela indústria farmacêutica na procura de novas soluções de antibióticos praticamente não existe. Nos últimos 10 anos não apareceu nenhum antibiótico novo, o que surge são réplicas dos que já existem”, sustentou o representante dos médicos.
A investigação nesta área está atualmente a ressurgir, mas a eventual falta de lucro destes fármacos para a indústria pode ser uma das causas para durante tantos anos ter havido pouco investimento.
Comentários