Os países mais ricos já encomendaram milhões de vacinas para combater a Monkeypox, conhecida como varíola dos macacos, mas nenhum deles anunciou que iria partilhar doses com África, onde o vírus se está a disseminar mais rapidamente.
“Os erros que vimos durante a pandemia de covid-19 já estão a ser repetidos”, afirmou Boghuma Kabisen Titanji, professor assistente de medicina na Emory University, citado pela agência Associated Press (AP).
Desde maio, contabilizam-se mais de 21.000 casos de Monkeypox em 80 países.
Em África verificaram-se 75 mortes, cuja causa recai sobre este vírus, sobretudo na Nigéria e no Congo.
Esta sexta-feira, também o Brasil e Espanha comunicaram a ocorrência de mortes relacionadas com a varíola, as primeiras relatadas fora do continente africano.
Portugal totaliza 633 casos confirmados de infeção pelo vírus Monkeypox, 45 na última semana, segundo dados da Direção-Geral da Saúde (DGS), que indica que 82,6% dos casos foram reportados na região de saúde de Lisboa e Vale do Tejo.
“Os países africanos, que lidam com surtos de varíola há décadas passaram a uma nota de rodapé nas conversas sobre a resposta global”, lamentou Kabisen Titanji.
Os cientistas defendem, que ao contrário do que aconteceu com a covid-19, não serão necessárias campanhas de vacinação em massa contra o Monkeypox.
Assim, o uso direcionado das doses disponíveis, em conjunto com outras medidas de proteção podem controlar a epidemia, que já foi classificada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como uma emergência global.
Os Centros de Controlo e Prevenção de Doenças (CDC) de África já pediram que este continente tivesse prioridade no que concerne às vacinas, notando que estavam a ser, novamente, deixados para trás.
“Se não estivermos seguros, o resto do mundo também não estará”, assinalou o diretor interno do África CDC, Ahmed Ogwell.
A OMS está a desenvolver um mecanismo para a partilha de vacinas com os países mais afetados, mas ainda não são conhecidos pormenores.
Por sua vez, a ONU referiu que as vacinas serão disponibilizadas de acordo com a necessidade epidemiológica.
“Pedir apenas que os países compartilhem não é suficiente”, defendeu a consultora para a área das vacinas dos Médicos Sem Fronteiras, Sharmila Shetty, acrescentando que, quanto maior a circulação, maior a probabilidade do vírus entrar em reservatórios de animais ou se espalhar entre a população.
“Se tal acontecer, as necessidades de vacinas podem mudar substancialmente”, considerou.
Conforme noticiou a AP, neste momento, existe apenas um produtor da vacina mais avançada contra a Monkeypox, a empresa dinamarquesa Bavarian Nordic que, este ano, tem uma capacidade de produção de cerca de 30 milhões de doses.
Em maio, a Bavarian Nordic pediu que os EUA abrissem mão de 215.000 doses “para ajudar os pedidos internacionais”, uma recomendação que foi acatada pelo país.
Os EUA reservaram um lote de 13 milhões de vacinas, tendo sido entregues 1,4 milhões.
“Eu nunca achei que este vírus se disseminaria muito, tendo em conta que a varíola dos macacos não se espalha como a covid”, apontou o epidemiologista de doenças infecciosas da Universidade de KwaZulu-Natal, na África do Sul, Salim Abdool Karim.
Para este especialista, a África deve adquirir algumas vacinas, mas deve ser priorizado o diagnóstico e a vigilância.
Ingrid Katz, especialista em saúde global da Universidade de Harvard, avisou que é necessário ter-se "cuidados com as estratégias de prevenção e rápidos com as respostas”.
Em Espanha, a procura já ultrapassa em muito a oferta disponível.
“Há uma lacuna entre o número de vacinas que temos disponível e as pessoas que podem beneficiar das mesmas”, precisou o diretor médico de um centro de saúde de Barcelona, Pep Coll.
A presença do vírus Monkeypox (VMPX) foi detetada em Portugal em 03 de maio, com a confirmação laboratorial de cinco casos de infeção, e, desde então e até à última quarta-feira, foram identificados 633 casos.
De acordo com o relatório semanal da DGS, todas as regiões de Portugal continental e a Madeira reportaram casos de infeção humana pelo vírus VMPX, o Norte é a segunda região do país com mais casos reportados de Monkeypox (66), seguindo-se o Centro (11), o Alentejo e Algarve (sete) e a Madeira (três), refere a informação semanal da autoridade de Saúde.
Segundo a DGS, do universo de casos reportados no Sistema de Vigilância Epidemiológica, a maior parte pertence ao grupo etário entre os 30 e 39 anos e a grande maioria das infeções (99,6%) são homens, havendo dois casos (0,4%) do sexo feminino.
Em 16 de julho, foi iniciada a vacinação dos primeiros três contactos próximos de casos e, desde então, continuam a ser identificados e orientados para vacinação os contactos elegíveis nas diferentes regiões do país, informou ainda a DGS.
Até 27 de julho, foram vacinadas no país 59 pessoas, contactos próximos de casos.
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