No segundo dia da Jornada Mundial da Juventude, as atenções voltaram-se para o primeiro peregrino inscrito no encontro: chegou o Papa Francisco.Depois de cumprido o protocolo durante a manhã, sabia-se que a meio da tarde o pontífice iria estar no Mosteiro dos Jerónimos, para rezar vésperas com os bispos, diáconos, consagrados e consagradas, seminaristas e agentes pastorais.
A multidão de peregrinos na zona de Belém correspondeu em força. Foram muitos os que, ao longo da tarde, se juntaram nas barreiras de segurança, à espera de ver passar o carro que transportaria o pontífice.
A polícia controlava o local. Os acessos estavam vedados e ninguém conseguia passar para o lado do mosteiro. Quando questionados pelo percurso que faria o carro do Papa, diziam não saber. Naquele momento, os olhos estavam postos nos jovens que agitavam bandeiras no ar.
Uma grande bandeira da Argentina começava a enchente. Atrás dela, um grupo de jovens sorridentes. Uma delas, Pilar, resume rapidamente ao SAPO24 o que a levou ali: "O Papa é argentino. Estou cá pelo Papa, para a Jornada Mundial da Juventude".
"É uma loucura estar com um Papa argentino aqui. Estão muitos jovens unidos para o receber, para mostrar que a Igreja é muito jovem e que estamos todos unidos num caminho até ao céu", acrescenta.
Esta não é a primeira vez que tem um breve encontro com Francisco. "Vi-o na JMJ do Brasil e vi-o em Roma uma vez, numa audiência. Foi emocionante, começámos a gritar no fim para que nos visse e olhou-nos nos olhos e disse que tinha a praça disponível para todos os argentinos", recorda.
Apesar de partilhar o país de origem com Francisco, confessa que não se lembra de Bergoglio antes de ser eleito Papa. "Eu vivia noutra cidade e ele era bispo de Buenos Aires, então não tive muitas possibilidades de o ver antes. Mas fui conhecer o seu lugar de origem, é um orgulho ter um papa argentino", reforça a jovem.
Quando questionada do porquê, não hesita: "conseguimos entendê-lo, sabemos o que quer dizer, gostamos que saiba o nosso idioma, que use palavras muito argentinas, que tome mate [bebida típica]", enumera a rir.
E se, por sorte, lhe pudesse dirigir algumas palavras, Pilar tem já o discurso preparado. "Dizia-lhe que rezo todos os dias por ele, para que seja santo, e que gostaria de o ver de novo na Argentina, mas que entendo que possa não ser fácil lá ir. Tem uma agenda apertada e é normal não sermos uma prioridade", remata com um encolher de ombros.
Quanto a conversa termina, as jovens argentinas unem-se num grito único: "Esta é a juventude do Papa", ouve-se. E a frase contagia todos os que ali se reunem.
Mais à frente, a América Latina continua representada. Desta vez, há uma bandeira do Brasil que se destaca. Inês veio de Minas Gerais, para participar na JMJ e ver um Papa que "transmite uma paz muito grande, uma alegria. Representa união, paz. É o que a gente vem buscar", conta ao SAPO24.
Está na primeira fila pela segunda vez no mesmo dia. Não se cansa de ver Francisco. "Já vimos o Papa hoje. Foi emocionante. A gente tentou filmar e fotografar e não conseguiu. A memória ficou nos olhos e no coração".
Perto de si está Carlos, também brasileiro. "Deu um adeuzinho para todos nós. Foi maravilhoso e emocionante. Espero uma segunda oportunidade de o ver", diz.
Por isso, nem o sol faz com que arredem pé. "Vale a pena apanhar calor. É um Papa da comunidade, um Papa do povo. É um Papa do mundo inteiro. Transmite uma interligação entre todos os povos, sem diferenças".
Do lado da Cidade da Alegria, também em Belém, muitos eram os jovens que circulavam pelos stands das diversas congregações e movimentos. Entretidos a descobrir novas facetas da Igreja, a participar em jogos ou a trocar elementos dos seus países entre si, pareciam nem saber que o Papa estaria a passar a alguns metros.
Antes de se chegar ao Parque do Perdão — onde a fila para as confissões se adensava —, a capela. Um espaço simples, quase apenas um toldo, construído para momentos de pausa e reflexão pelo meio da agitação juvenil.
Como se fosse um mundo dentro de uma bolha, vários peregrinos permaneciam em adoração ao Santíssimo Sacramento, exposto numa custódia no centro do altar. Alguns rezavam com recurso a folhas de papel, outros pelo telemóvel.
A par com a oração, o descanso. Sentados, ajoelhados, uns descalços, outros numa postura que evidenciava o desgaste ao segundo dia de uma semana cheia. Mas compenetrados no que ali os levou.
Afinal ainda há espaços de silêncio no meio dos gritos de alegria da Jornada Mundial da Juventude.
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