E como perigos de retrocesso o escritor dá o exemplo da Grã-Bretanha, uma democracia saudável que cedeu à demagogia, “a um modelo chauvinista e xenófobo” quando do referendo para a saída da União Europeia.
Mário Vargas Llosa, o escritor peruano que foi prémio Nobel da literatura em 2010, falava hoje em Lisboa no encerramento de uma conferência organizada pela Fundação Francisco Manuel dos Santos, que trouxe à capital pensadores e politólogos para oito conferências sobre o tema “Que Democracia?”.
Foi dela que o escritor falou durante quase uma hora, afirmando que todos os sistemas que a combateram, o mais “sério” o comunismo, acabaram por desaparecer, porque nenhum contribuiu tanto como a democracia para diminuir as violências.
Do comunismo, acrescentou para uma sala cheia, subsistem regimes anacrónicos, como o de Cuba ou da Coreia do Sul. E se o comunismo já não é o inimigo há outro, hoje o “inimigo principal, a gangrena”, que é a corrupção.
Porque, disse, “nada desagrada mais do que ver o enriquecimento ilegítimo” e a corrupção afeta hoje países de todos os continentes. E Vargas Llosa dá como exemplo a Espanha, o país onde decidiu viver e que era “uma história feliz dos tempos modernos” que se desagregou pelos casos de corrupção envolvendo os principais partidos e que levou ao descrédito e ao afastamento da política por parte da sociedade.
E a Venezuela outro exemplo onde a corrupção pode desagregar a democracia. “O fenómeno (Hugo) Chavez não se explica se não pelo desencanto provocado pela corrupção”.
E na América do Sul o narcotráfico agrava a situação, razão que leva “muitos de nós” a defenderem a legalização da droga, marijuana e cocaína, continuou Vargas Llosa.
E depois, porque a democracia e o capitalismo são “inseparáveis”, porque há um “capitalismo que vive na ilegalidade”, outro fenómeno que ameaça a democracia é a desigualdade. Assim: “Quando uma sociedade pensa que essa desigualdade não é produto do talento e da contribuição livre mas do privilégio e do favoritismo, então o sistema está ameaçado porque perde o apoio da população”.
Para o escritor o fundamentalismo muçulmano e o terrorismo não são uma ameaça, porque são tão “absurdos” e um “retrocesso tão grande” que se irão extinguir.
Na conferência da Fundação, na tarde de hoje falaram também os especialistas em política Pia Mancini (Argentina) e Daniel Innerarity (Espanha), sobre a influência da internet, e depois Marcelo Neves (Brasil) e Poiares Maduro (Portugal), estes sobre pluralismo e justiça social.
O antigo ministro Poiares Maduro disse que a democracia desilude cada vez mais as pessoas, que a política é cada vez menos espaço de reconciliação mas de amplificação de conflitos. Crítico, Poiares Maduro disse que se discute não o que é importante mas o que é fácil e que hoje na democracia a politica a experiencia é desvalorizada. Donald Trump, “corre o risco de ser eleito porque não sabe de matéria nenhuma”, disse.
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