Depois de quase 100 dias sem um único caso confirmado de Covid-19, Da Nang, a terceira maior cidade do Vietname, regista vários casos de infeção por coronavírus. Hoje, no último dia do mês de julho, o país regista uma vítima mortal. Trata-se de “um homem de 70 anos que morava em Hoi Na [no centro do país] e que testou positivo no início da semana”, segundo noticiaram os meios de comunicação social.

Com 95 milhões de habitantes, o Vietname deixa assim de ser o maior país do mundo sem vítimas mortais de Covid-19.

Pelo menos 50 pessoas que tiveram contacto com o primeiro doente foram colocadas sob quarentena e o Ministério da Saúde vietnamita informou que o homem de 57 anos, residente em Da Nang, no centro do país, apresentou os primeiros sintomas de pneumonia a 17 de julho.

De acordo com as autoridades de Da Nang, no último mês, o doente, "o paciente 416", não saiu da localidade onde vive, o que poderia indicar a presença oculta do novo coronavírus na comunidade.

Esta é a primeira infeção comunitária no Vietname desde 16 de abril. Todos os casos detetados desde então foram diagnosticados em vietnamitas repatriados ou trabalhadores vindos do estrangeiro, colocados em quarentena em instalações militares desde a chegada ao país, segundo a Lusa.

Segundo a Lusa, o Vietname registou cem 100 novos casos esta semana. Isto perfaz um total de 509 casos no território até hoje, sexta-feira, dia em que se contabiliza a primeira morte.

Sabe-se que até quarta-feira, dia 29, o vírus "viajou" para norte até Hanoi, para sul até à cidade de Ho Chi Minh, e para o centro do Vietname, afetando duas províncias no centro do país. Também chegou às Terras Altas do Centro (Tay Nguyen), onde uma mulher de 21 anos, que estuda em Da Nang de regresso a casa, testou positivo.

Mapa Vietname
A localização da cidade de Danang está destacada com um pin vermelho, a este do território. créditos: Google Maps

“Depois de 100 dias sem casos, as pessoas já não estavam a tomar precauções"

"Na minha opinião, este surto é mais perigoso do que o anterior, porque está a acontecer em muitos lugares ao mesmo tempo", disse ao The New York Times Nguyen Huy Nga, diretor de saúde pública e enfermagem da Universidade Quang Trung, na província de Binh Dinh, no Vietname.

E acrescenta: "Não sabemos a fonte da doença, especialmente com dezenas de milhares de turistas que viajam para Da Nang".

Para lidar com o aumento de casos de Covid-19, o país asiático está a preparar camas. O professor Nguyen Huy Nga nota que equipamentos como ventiladores são limitados no Vietname.

Conta que as pessoas já não estavam a ter os comportamentos de higiene necessários: “Depois de 100 dias sem casos, as pessoas já não estavam a tomar precauções", disse Nguyen Huy Nga. "Não estavam a usar máscaras ou a lavar as mãos com sabão. Estavam a frequentar locais cheios de gente.”

Com as fronteiras fechadas desde 23 de março, com a exceção para vietnamitas repatriados e trabalhadores especializados estrangeiros, que têm de fazer testes e cumprir duas semanas de quarentena, as autoridades ainda não conseguiram detetar a origem deste novo foco da doença.

Uma das possibilidades é que o vírus da Covid-19 tenha entrado no país através de imigrantes ilegais. Nas últimas semanas, as autoridades vietnamitas detiveram naquela zona meia centena de chineses que atravessaram ilegalmente a fronteira. Ainda de acordo com o The New York Times, a polícia de Da Nang percorreu a cidade, numa tentativa de localizar “estrangeiros que possam ter trazido o vírus consigo”.

Já no sábado, dia 25 de julho, a política prendeu nove cidadãos chineses que entraram ilegalmente no Vietname, dizem as autoridades locais. O jornal americano escreve ainda que “dúzias de chineses que entraram ilegalmente no país foram presos, no início deste mês, no centro do Vietname.” E acrescenta que um homem chinês, que a polícia liga a uma rede de imigração ilegal, foi preso esta segunda-feira, dia 27.

A polícia disse ter posto estes cidadãos chineses em campos de quarentena ou isolados em hospitais.

"Isto é importado. Um vírus não sobrevive três meses numa comunidade sem infetar pessoas"

Quase 80 mil turistas locais chegaram a Da Nang durante as férias de verão. Horas depois de se confirmar a existência de casos de Covid-19 nos hospitais da cidade, no início desta semana, as autoridades anunciaram o encerramento do aeroporto. Mas, ao suspender os transportes públicos, anulou-se a decisão de retirar estes 80 mil turistas domésticos da cidade.

De acordo com o Ministério dos Transportes vietnamita, nos próximos 15 dias nenhum avião, comboio, autocarro, táxi ou barco pode entrar ou sair da cidade. Os transportes públicos também estão suspensos e foram impostas medidas de distanciamento social.

Segundo a Lusa, a cidade reativou protocolos de segurança em empresas e edifícios públicos, e impôs o uso de máscara. Foi levado a cabo o encerramento de estabelecimentos escolares e comerciais não essenciais como salões de massagens, discotecas e cabeleireiros.

Além desta turística cidade costeira, com pouco mais de um milhão de habitantes, todo o país está em prevenção, com centenas de pessoas que tinham visitado Da Nang a cumprir uma quarentena de duas semanas em casa.

Novas regras surgem: máscaras e gel desinfetante voltam a ser parte da rotina dos habitantes; restaurantes e bares fecharam; nadar no mar é proibido. Eventos públicos, como a liga de futebol, foram já cancelados. Segundo a agência EFE, na semana passada, o Vietname baniu o comércio de vida selvagem, já que o tráfico de espécies exóticas deu início ao último surto.

O ministério da Saúde vietnamita disse que a estirpe do vírus detetado em Da Nang é diferente daquela que circulou durante o surto anterior.

"Isto é importado", disse o professor Nguyen Huy Nga "Um vírus não pode sobreviver três meses numa comunidade sem infetar pessoas", diz ao The New York Times.

O professor acredita que o vírus provavelmente chegou ao Vietname no final de junho ou início de julho.

 Ali ao lado

A China está logo ao lado e os casos não abrandam. Em Hong Kong cerca de 100 pessoas estão a adoecer por dia. Os focos estão a aparecer em lares e restaurantes.

Carrie Lam, a chefe do Governo de Hong Kong, alertou na terça-feira, dia 28 de julho, que Hong Kong estava "à beira de um surto comunitário em larga escala".

Hoje, 31 de julho, Carrie Lam, anunciou que as eleições legislativas, marcadas para o dia 6 de setembro, vão ser adiadas devido ao "agravamento da pandemia" de Covid-19 na região.

"É a decisão mais difícil que tomei nos últimos sete meses, mas temos de garantir a segurança das pessoas e que as eleições decorram de forma livre e justa", afirmou Carrie Lam, em conferência de imprensa.

* Com Agência Lusa