Hoje de manhã, um dia após as eleições ganhas pelo PS, eram cerca de 20 as pessoas que circulavam pelo Largo Bento de Gões, bem no centro de Vila Franca do Campo: algumas estavam sentadas nos bancos, havia um trabalhador que inspecionava os papéis de estacionamento nos carros - não o vimos passar uma única multa -, uma senhora passeava o cão e pouco mais.

Carlos, reformado, na casa dos 70, diz que foi votar, vai "sempre". No entanto, e mesmo desconhecendo o indicador que atira Vila Franca do Campo para o topo da tabela de abstenção em todo o país, diz compreender "o descontentamento".

"Há tanta asneira, tanta gente desmotivada, as pessoas acabam por ter razão. Já viste o que é, ver tantas notícias, tanta coisa da justiça, e tudo prescreve, não acontece nada a ninguém", atira à agência Lusa.

O facto de as eleições serem para a Assembleia da República e não de índole regional tem também um peso nos dados da abstenção, acredita o micaelense, para quem "as pessoas votam nos candidatos dos Açores, as pessoas estão mais próximos do Governo" Regional do que do da República.

Umas ruas abaixo, perto da fábrica de Queijadas da Vila do Morgado, doce típico da ilha e dos Açores, duas vizinhas conversam, cada uma na sua moradia. Interrompidas pela Lusa, admitem não ter votado, mas não entram em detalhes.

"Não fui votar, não. Mas não quero falar muito", diz uma das moradoras, que admitiu também não ter votado nas últimas eleições europeias, tidas este ano, mas que foi às urnas nas autárquicas de 2017, que reconduziram o socialista Ricardo Rodrigues na presidência da autarquia.

Mais abaixo, junto à marina e com vista privilegiada para o Ilhéu de Vila Franca, um dos maiores tesouros naturais dos Açores, o funcionário que tira a bica à Lusa diz que não foi votar porque não estava "informado" sobre o que estava em causa.

"Sei que ganhou o [António] Costa, mas aqui nos Açores não ligamos muito, o nosso Governo é outro", conta, admitindo um fosso entre a política regional e a de cariz nacional.

Contudo, admite: "Eles lá é que mandam, eu sei. O dinheiro vem de lá. Mas como tudo está mais ou menos tranquilo não há grande interesse agora para votar", frisa, embora admitindo que, no próximo ano, com regionais nos Açores, a importância de ir às urnas seja "maior" na região.

O concelho de Vila Franca do Campo, em S. Miguel, nos Açores, foi o que registou a taxa mais alta de abstenção em território nacional nas legislativas de domingo, com 70,4% dos eleitores a optarem por não votar.

De acordo com os resultados disponíveis no portal de análise de dados estatísticos da Social Data Lab para a agência Lusa, no concelho de Vila Franca do Campo, dos 10.588 inscritos votaram 3.137 eleitores.

(Por: Pedro Primo Figueiredo da agência Lusa)