Na primeira visita ao campo, o português Valério não ficou com dúvidas: há “pouca informação” no sítio histórico onde desde 2000 funciona o Museu da Resistência. “Uma pessoa quando se desloca aqui a uma distância destas é para recolher alguns dados que nos digam alguma coisa do que foi isto. A informação aqui é muito escassa”.
Em declarações à agência Lusa, Valério, 65 anos, notou que não há muita informação sobre os portugueses que estiveram no espaço, que por sinal foram a maioria, mas também de cabo-verdianos, guineenses e angolanos.
Valério disse que esperava encontrar “tudo ali exposto, pelo menos tudo escrito, visível”.
O Governo cabo-verdiano quer elevar o campo a Património Mundial da Humanidade, mas segundo Valério, da forma como está o sítio não tem condições para alcançar o título.
“Se fizeram aqui algumas coisas, ponham isto mais acessível às pessoas e com mais informação, penso que seria mais fácil para poderem fazer essa candidatura”, considerou.
Também Jorge Garcia, natural de Barcelona, Espanha, visitou as celas, pátios, museu, capela, entre outros sítios pela primeira vez, mas disse igualmente que não encontrou toda a informação no espaço.
“Deveria haver mais dados, mais informação escrita de tudo o que acorreu aqui”, pediu, confessando que o que mais o impressionou foram as celas de isolamento.
O catalão foi ao campo acompanhado de um guia turístico, mas garantiu que mesmo que tivesse ido sozinho teria entendido o que se passou no espaço.
Sobre a candidatura a património mundial, Jorge Garcia disse que é boa, entendendo que vai permitir ter mais informação e que o espaço vai passar a estar mais protegido. “É importante manter a memória”, afirmou.
O cabo-verdiano Salazar Santiago, guia turístico que acompanhou Jorge Garcia, realçou a importância do campo, indicando que é mais procurado por portugueses, mas também por alguns espanhóis.
Salazar Santiago referiu que o campo está dividido em três fases, sendo a primeira dos antifascistas, de que há menos informação, seguida dos anticolonialistas e de um quartel militar.
“Antigamente havia mais informação do que agora, havia imagens, peças pessoais, cartas. É desse tipo de informação que os turistas reclamam. Há coisas escritas, mas não se consegue ter imagem visual do que se passou aqui”, considerou o guia turístico profissional, que trabalha para uma agência portuguesa, que envia cerca de 40 turistas por semana ao campo.
Para Salazar, os visitantes só saem com uma ideia do que se passou no campo se estiverem acompanhados de um guia turístico capaz de lhe explicar o que aconteceu.
“As pessoas dizem que é um campo tão grande, que alguma coisa está mal aqui. Falta alguma informação”, avançou.
Questionado sobre se a classificação poderá dar mais vida em termos de resposta turística, Salazar disse que sim, mas defendeu que os responsáveis do campo devem ouvir os operadores turísticos.
“Os responsáveis têm de contactar os profissionais da área, os guias turistas, as agências de viagens, porque é onde as reclamações vão parar. São os guias que entendem o que falta”, reforçou.
Situado na localidade de Chão Bom, o campo de concentração do Tarrafal foi construído no ano de 1936, tendo recebido os primeiros presos políticos em outubro do mesmo ano, e funcionado até 1956.
Em 1962, foi reaberto com o nome de “Campo de Trabalho de Chão Bom”, destinado a encarcerar os anticolonialistas de Angola, Guiné-Bissau e Cabo Verde.
Ao todo, estiveram presas no “campo da morte lenta” quase 600 pessoas, sendo 340 antifascistas e 230 anticolonialistas.
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