Uma delegação de viticultores do Douro desloca-se na terça-feira a Lisboa para expor ao Presidente da República os problemas da região, onde produtores sentem dificuldade em escoar uvas, disse o presidente de São João da Pesqueira.
Por causa da queda do helicóptero de combate a incêndios que provocou a morte a cinco militares da GNR, Marcelo Rebelo de Sousa cancelou na sexta-feira uma visita a São João da Pesqueira, onde tinha marcado um encontro com viticultores.
“Mas pediu-me que comunicasse aos viticultores que estaria disponível para os ouvir”, afirmou Manuel Cordeiro, que adiantou que, nesse sentido, a audiência no Palácio de Belém foi agendada para terça-feira à tarde.
A delegação integra 20 viticultores e ainda os presidente e vice-presidente da Câmara de São João da Pesqueira, e o que se pretende é sensibilizar Marcelo Rebelo de Sousa para que use a sua magistratura de influência para ajudar a encontrar soluções para o Douro.
Ao chefe de Estado vai ser entregue um manifesto e, segundo explicou o autarca, os produtores querem manifestar uma preocupação imediata, porque há viticultores com dificuldades em escoar as uvas nesta vindima, que já está em curso, e preocupações com o futuro de uma região em crise.
Invocando quebras nas vendas e ‘stocks’ cheios, operadores não estão a comprar uvas ou estão a comprar em menos quantidade.
No entanto, os agricultores alegam também que têm vindo a receber cada vez menos pelas suas uvas, enquanto os custos de produção são cada vez maiores.
Depois de saírem à rua em manifestações e de promoverem a petição “Salvem os viticultores do Douro”, que conta com cerca de 1.500 assinaturas, os produtores querem, agora, apelar “à sensibilidade” e intervenção do Presidente da República e exigir soluções para a viticultura duriense.
Em dois anos, verificou-se ainda uma quebra de 26.000 pipas (550 litros cada) para as 90.000 pipas no benefício, ou seja, na quantidade de mosto que cada produtor pode destinar à produção de vinho do Porto, uma das principais fontes de receita dos viticultores durienses.
No manifesto, a que Lusa teve acesso, os viticultores pedem que o Governo “aja de uma vez por todas” e reclamam soluções para resolver a crise instalada na região, nomeadamente a utilização obrigatória, na campanha de 2025, de aguardente da região na produção de vinho do Porto.
Relativamente a esta reivindicação, na quinta-feira, o ministro da Agricultura, José Manuel Fernandes, disse à Lusa que pediu ao presidente do Instituto dos Vinhos do Douro e Porto (IVDP) para ver a possibilidade legal e a viabilidade económica do vinho do Porto passar a ser exclusivamente produzido com aguardente vínica da Região Demarcada do Douro.
Está é, para o autarca Manuel Cordeiro, “uma boa notícia” para a região e abre uma porta de esperança porque mostra que, “aparentemente, o Governo central está preocupado e começa a dizer que tem vontade de fazer alguma coisa”.
Os viticultores pedem ainda, no manifesto, a proibição total de entrada de vinhos de fora da região, a fiscalização efetiva do IVDP e um apoio urgente e direto já para esta campanha ao viticultor que não consiga escoar as suas uvas.
Reivindicam ainda a descativação das receitas das taxas pagas ao IVDP, o reforço imediato do valor previsto para a destilação de crise, visando um aumento da eficácia da medida, a aplicação da taxa turística aos barcos cruzeiro.
A reativação da nova Casa do Douro (associação pública de inscrição obrigatória) como “voz da produção” e uma “reformulação profunda” de todo o quadro legal e institucional da região são também consideradas “absolutas prioridades” para este território.
Neste documento, os subscritores revelam que a “paciência e a resiliência” se esgotaram, lamentam o “desinteresse reiterado” da tutela, a “triste e generalizada falta de empatia com a região”, a legislação “permeável e obsoleta” e alertam para um “IVDP inoperacional”.
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