“A minha equipa fez um excelente trabalho para me colocar na frente no início da subida. Sei que sou um homem rápido e ‘sprintei’ a dar tudo o que tinha para ganhar. O António Carvalho atacou de longe e o Daniel Mestre teve de fechar o espaço. Fui na roda dele e poupei-me para a parte final. Foi esse bocadinho que fez a diferença”, reconheceu um emocionado Gomes, que se impôs aos ‘dragões’ Daniel Mestre e Gustavo Veloso, que manteve a amarela.
Numa jornada sem diferenças de tempo entre os principais candidatos, que cortaram a meta com o tempo de 04:24.41 horas, só a forma de Joni Brandão (Efapel) deixou dúvidas, com o campeão em título, João Rodrigues (W52-FC Porto), a dar uma demonstração de força na véspera da Senhora da Graça.
A primeira etapa em linha da edição especial foi também o primeiro grande momento de implementação estrita do protocolo sanitário relativo à covid-19, originando o caos na chegada das equipas e motivando mesmo o atraso do arranque da tirada em Montalegre, devido ao ritual a que foram sujeitos os ciclistas, obrigados a retirar a máscara para um contentor próprio e a desinfetar as mãos antes de alinharem diante do risco de saída.
Numa Volta estranha para todos, a etapa mais longa desta edição (180 quilómetros) começou também ela de forma atípica, com a fuga do dia a ser formada apenas por Marvin Scheulen (LA Alumínios-LA Sport).
O jovem de 23 anos, que saltou do pelotão nas primeiras pedaladas, chegou a ter mais de oito minutos de vantagem sobre o pelotão, placidamente comandado pela W52-FC Porto, mas, na passagem pelo alto de Covide, a primeira contagem de montanha deste ano, de terceira categoria, a diferença já estava reduzida a quatro minutos.
Ainda antes de Marvin Scheulen ser alcançado, a 13 quilómetros da meta, outro português assumiu o protagonismo momentâneo da primeira tirada: na zona de abastecimento apeado, o sempre azarado Frederico Figueiredo (Atum General-Tavira-Maria Nova Hotel) caiu, levantou-se, mas teve de aguardar, sentado nos rails e de braços cruzados, por uma nova bicicleta.
Chateado, o vencedor do Troféu Joaquim Agostinho ‘barafustou’ com César Martingil, já quando reentrava no pelotão, e continuou a erguer repetidamente os braços para o seu carro, num claro sinal de descontentamento para com aquilo que, depois de cortar a meta, definiu como “falta de experiência de um colega que está a fazer a primeira Volta a Portugal”.
Seria esse o episódio mais marcante antes do início da ascensão a Santa Luzia, momento escolhido por João Rodrigues (W52-FC Porto) para assomar à frente do pelotão, quando Rafael Lourenço iniciava a estratégia delineada pela Kelly-Simoldes-UDO para levar Luís Gomes à vitória e Henrique Casimiro a salvo até ao ponto mais alto de Viana do Castelo – só a primeira missão seria bem sucedida, com o alentejano a ceder 32 segundos na meta.
“No ‘briefing’, tínhamos decidido que íamos fazer a corrida para mim e tentar que o Henrique Casimiro não perdesse tempo aqui. Os meus colegas colocaram-me muito bem lá em baixo, entrei na frente. Tive de sofrer um bocadinho porque estava tudo muito desorganizado, mas consegui manter-me ali. À medida que os quilómetros da subida foram passado, eu ia sentindo-me bem e, quando vi a placa dos 250 metros, tentei a minha sorte. Tenho explosão para este tipo de finais e, graças a Deus, consegui ganhar”, descreveu o ciclista de 26 anos.
Para somar o seu segundo triunfo profissional, e o segundo na Volta a Portugal depois da escalada vitoriosa à Serra do Larouco no ano passado, Gomes teve de resistir a um ataque em força de António Carvalho, que deixou em apuros o seu líder Joni Brandão. Embora tenha terminado a tirada com o mesmo tempo dos restantes candidatos, o chefe de fila da Efapel deu sinais de debilidade, sentando-se no chão, exausto, após cortar a meta, sob o olhar atento de João Rodrigues.
Na terça-feira, as dúvidas quanto ao estado de forma dos favoritos serão esclarecidas, nos 167 quilómetros entre Paredes e a mítica Senhora da Graça, para os quais Veloso vai partir com um segundo de vantagem sobre Daniel Mestre e quatro sobre Daniel Freitas (Miranda-Mortágua).
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