A assembleia rejeitou, no dia 23 de janeiro, a proposta de uma estátua da Margaret Thatcher em Canning Green, na Praça do Parlamento (a célebre “Parliament Square”), situada no centro de Londres.
A ideia - lançada pela organização Public Memorials Appeal - era ter uma estátua de bronze da antiga primeira-ministra virada para o parlamento. Em julho do ano passado, o conselho de Westminster já tinha manifestado a sua oposição, por considerar que existia elevado risco da estátua ser vandalizada.
A Public Memorials Appeal submeteu, assim, uma nova proposta com atentas alterações: a estátua - que custou cerca de 300 mil libras - ficaria por cima de um plinto de quatro metros, para ser difícil de escalar. A figura devia ainda ser circundada por soquetes de andaimes e ficaria entre os memoriais de George Canning e Abraham Lincoln.
Ainda que o conselho de Westminster aprove que o escultor — Douglas Jennings, com uma “reputação internacional” —, a proposta de colocação da estátua na Praça do Parlamento foi novamente rejeitada, e há quatro razões que explicam o porquê.
1.A poeira demora 10 anos a assentar
No documento oficial é relembrado que em Westminster uma pessoa tem de ter morrido pelo menos há uma década para ter uma estátua em sua homenagem. Os 10 anos é o tempo indicado para que, como se pode ler no documento, “as paixões partidárias esfriem e permitam uma reflexão sóbria”. Porém, Thatcher morreu há apenas 5 anos, no dia 8 de abril de 2013, quando tinha 87 anos de idade.
São também reconhecidas, no documento, as exceções à regra, como o caso de Nelson Mandela, cuja estátua foi erguida 6 anos após a sua morte. Ainda que existam, “estas exceções têm de ser raras”, é afirmado no documento.
Apesar de referido, este não foi o ponto determinante para o "não" de Westminster.
2.A estátua não mexe mas pode fazer mexer
O conselho de Westminster considerou que a presença da estátua de Thatcher poderia ser motivo para protestos. Para além disso, a própria estátua corria um risco elevado de ser vandalizada.
Segundo o jornal The Guardian, também uma associação de vizinhos, a Thorney Island Society, se opôs à colocação da escultura por receio de que se tornasse alvo de vandalismo, uma vez que, para alguns, Thatcher continua a ser um símbolo de políticas de austeridade e de ultraliberalismo.
3.A associação quer mas a família não responde
A outra grande barreira à construção da estátua é a falta de apoio da própria família da ex primeira-ministra. A organização, avança o The Guardian, terá enviado uma carta a partilhar a ambição de erguer a estátua, mas os filhos - Carol e Mark - não terão respondido.
Também a Royal Parks, que gerencia a zona em que estátua ficaria situada, relembra que não foram dadas garantias de que a família Thatcher aprovava o monumento.
4.Se é para celebrar Thatcher, que seja com a estátua certa
No documento oficial é também referenciado que a estátua de Thatcher não reflete o papel dela enquanto primeira-ministra, cargo pelo qual ela deve ser memorizada. “É uma descrição inadequada do assunto”, pode-se ler no documento.
Ao The Guardian, o presidente do planeamento do conselho de Westminster, Richard Beddoe, diz que Thatcher é uma figura “extremamente significativa na história britânica” e que o conselho poderia estar a favor da estátua se esta tivesse o “design apropriado” - entre outras coisas, como o apoio da família de Thatcher por trás.
Assim, só haverá uma estátua da Thatcher no Reino Unido: a que se encontra dentro do parlamento.
Margaret Thatcher: o verdadeiro pau de dois bicos
Ao longo dos anos, as políticas de Thatcher têm sido largamente debatidas e suscitam uma panóplia de opiniões - onde não se encontra homogeneidade.
Em 2016, a Margaret Thatcher liderou a lista das mulheres mais influentes nos últimos 70 anos. No momento da divulgação da lista, a jornalista Emma Barnett confessou considerar a conservadora um “ícone”: “Há coisas que não se podem negar. Ela influenciou a forma como as mulheres olham para uma mulher no poder”, disse ao The Guardian. Barnett acrescentou ainda que Thatcher galvanizou politicamente uma nova geração de mulheres - mesmo aquelas que se colocam do lado oposto da barricada.
Porém, várias figuras políticas teceram críticas a Thatcher - desde o ex primeiro ministro do Reino Unido Tony Blair até ao líder soviético Mikhail Gorbachev. Os políticos criticaram a primeira-ministra de ser uma figura do “free-market”, das privatizações de empresas estatais e das alterações no setor financeiro.
Em 1975, Margaret Thatcher foi eleita líder do partido conservador, sendo a primeira mulher a liderar um dos principais partidos do Reino Unido. Em 1979, tornou-se a primeira mulher a ser primeira-ministra do Reino Unido, cargo que manteve até 1990. Ficou conhecida como Dama de Ferro por ter sobrevivido a uma tentativa de assassinato em 1984, pela dura oposição aos sindicatos e pelas criticas feitas à União Soviética.
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