No verão de 1999, uma bomba caiu em Lisboa: Peter Schmeichel, por muitos considerado o melhor guarda-redes do mundo à data, aterrava em Lisboa para representar o Sporting CP, meses depois de conquistar a Premier League, a Taça de Inglaterra e a Liga dos Campeões (na memorável vitória por 2-1 em Camp Nou, frente ao Bayern Munique, com os dois golos ingleses a serem marcados já depois dos 90 minutos).
O treinador dos leões era Giuseppe Materazzi, pai de Marco Materazzi, o recetor da cabeçada de Zidane na final do Mundial de 2006 e o homem que chorou como um bebé na despedida de Mourinho do Inter de Milão, depois da conquista da Liga dos Campeões em 2010. Ora, o pai Materazzi era dono de um currículo modesto: chegava proveniente do Piacenza, 13.º classificado do campeonato italiano na época anterior. Alguns sobrolhos franziram, mas com Schmeichel tudo é possível, certo?
Ok, talvez não seja assim tão certo. Cinco jornadas volvidas, e duas vitórias e três empates depois (com uma humilhação por 3-0 frente ao Viking da Noruega que praticamente afastou os leões da fase de grupos da Taça UEFA), Materazzi é despedido. A paciência era pouca num clube que não festejava a vitória no campeonato há 18 anos, ainda que os quatro pontos de desvantagem para o SL Benfica, líder à data, não possa ser considerada uma distância “irrecuperável”, como mais tarde se viu, de resto. Mas já lá vamos.
Sai Materazzi, entra Augusto Inácio e até final de dezembro o Sporting CP reduz para três pontos a diferença para o líder do campeonato, que nesta altura já era o FC Porto comandado pelo Engenheiro do Penta (e, anos mais tarde, do Euro português) Fernando Santos e onde pontificava um tal de Mário Jardel, que viria a equipar de verde-e-branco dois anos depois.
Até que chega o novo milénio e com ele três reforços que se tornaram decisivos na caminhada verde-e-branca rumo ao título que fugia há 18 anos: André Cruz, César Prates e Mbo Mpenza.
Comecemos pelo último do trio. Mbo Mpenza chegou ao Sporting CP como uma promessa do futebol belga. Irmão mais velho de Émile Mpenza (também ele, à altura, um jovem avançado a quem se augurava um grande futuro), o já então avançado internacional pela Bélgica fez 22 jogos e marcou três golos pelos leões, sendo quase sempre titular desde a sua aterragem em Lisboa.
Ficou apenas mais uma época em Alvalade, até ser incluído no pacote de jogadores (juntamente com o avançado croata Robert Spehar e o médio checo Pavel Horvath) que seguiu para o Galatasaray no âmbito da transferência de Mário Jardel para o clube leonino. Nunca chegou a jogar pelos turcos, passando as épocas seguintes na Bélgica ao serviço de Mouscron e Anderlecht e terminando a carreira em 2009 no Larissa, da Grécia.
Já César Prates era um rapidíssimo defesa-direito, internacional pelo Brasil, que vinha para competir com o marroquino Saber pelo lado destro da defesa leonina. Fez 18 jogos, apontou dois golos e pegou de estaca na equipa. Dono de um pontapé fortíssimo, estreou-se com um golo na 5.ª eliminatória da Taça de Portugal frente ao União de Leiria e permaneceu em Alvalade até ao verão de 2003, quando se transferiu para o Galatasaray onde já não encontrou os seus ex-companheiros de equipa Mpenza, Spehar e Horvath.
Depois da Turquia voltou ao Brasil para jogar pelo Figueirense e Botafogo, regressou à Europa para atuar em Itália pelo Livorno e pelo Chievo e passou os últimos anos da carreira novamente no Brasil, envergando das camisolas do Figueirense (um regresso), Atlético Mineiro, Portuguesa, Joinville e Náutico, onde arrumou as botas em 2011. Os últimos relatos dão conta da sua devoção à Igreja Evangélica e da influência que teve num tal de... Cristiano Ronaldo.
Para o fim deixamos André Cruz, o mais conceituado dos três. Tendo feito parte da Seleção do Brasil que chegou à final do Mundial de 1998 em França, o defesa-central canhoto chegou a Alvalade com 31 anos e com o estatuto de um internacional canarinho que já tinha passado por Standard de Liège, Nápoles, AC Milan e Torino. Fez 23 jogos na época de estreia, apontando cinco golos.
Exímio marcador de livres, é dele um dos golos ao FC Porto em Alvalade que embalou os leões para o título, bem como um bis no jogo que decidiu o campeonato desse ano, na última jornada, frente ao Salgueiros, no mítico Estádio Engenheiro Vidal Pinheiro. Tal como César Prates, sagrou-se bicampeão pelo Sporting CP dois anos depois e sair do clube como um dos grandes obreiros dos dois títulos conquistados no início do milénio. Prosseguiu depois a carreira no Brasil, onde pendurou as chuteiras em 2004, no Goiás. Mais recentemente, fez parte da lista de João Benedito nas últimas eleições à presidência leonina.
Comentários