Victory selfies. Selfies da vitória, em português, uma das imagens de marca dos Jogos Olímpicos Paris2024 — tal como a fotografia de Gabriel Medina e da sua prancha de surf a levitarem nas poderosas ondas da Polinésia francesa.
Todos assistimos durante os dias e noites de Paris2024 ao inusitado momento dos atletas medalhados, juntos, apertados no pódio, de olhos fixos numa lente à espera de que um destes super-heróis, de telemóvel na mão, “apanhasse” as caras dos vencedores com as medalhas à mostra na hora de maior magnificência olímpica.
Quem não se lembra da força da imagem que juntou as equipas de pares mistos mesatenistas das “inimigas” Coreia do Sul (Lim Jonghoon e Shin Yu-bin), de bronze, e da Coreia do Norte (Ri Jong Sik e Kim Kum Yong), prata, ao qual se juntaram os vencedores, medalha de ouro, da República Popular da China, Wang Chuqin e Sun Yingsha. Um registo para a posteridade do verdadeiro espírito olímpico capaz de juntar países que vivem de costas voltadas.
O procedimento, simples e inédito, inseriu-se num acordo embrulhado num chorudo contrato de patrocínio, cujos valores para este ciclo olímpico não são conhecidos, entre o Comité Olímpico Internacional (COI) e um dos patrocinadores (Samsung) de longa data dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos.
Parceiro global desde os JO Inverno em Nagano1988, a multinacional asiática apoia em Paris 66 atletas (59 olímpicos e sete paralímpicos), incluindo o estreante breaking, surf, skate, ténis de mesa, esgrima e atletismo, entre outros.
Do product placement de tabuleiros a caminho do pódio aos telemóveis
A cerimónia de abertura de Paris2024 começou por levantar o véu de uma nova era de diálogo entre atores que serpenteiam pela fina barreira da preservação dos ideais mais puros da Marca Olímpica e a naturalmente requerida exploração de novos caminhos de quem patrocina e investe nos JO.
Assim, a edição de 2024 inaugurou uma nova era olímpica de product placement e foi assinalada uma comercialização, sem precedente, dos Jogos Olímpicos.
O caminho foi trilhado por marcas como a Coca-Cola (com a garrafa de ouro) ou a holding de luxo francesa, LVMH, em cujos tabuleiros foram entregues as medalhas.
Por sua vez, ao longo do Rio Sena, todo o segundo do que aconteceu foi visionado através de 200 smartphones da empresa sul-coreana Samsung, instalados em 85 barcos.
O modus operandi permitiu aproximar atletas e delegações olímpicas dos espectadores que acompanhavam o momento pelos ecrãs. Para estes homens e mulheres, o aparelho não foi, contudo, um bicho estranho que os obrigasse a ir ao livro de instruções.
Mal começaram a aterrar em Paris (e em Teaphoo’o, no Taiti, onde decorreu o surf), os mais de 10 mil atletas receberam uma edição, ainda fora do mercado, de um aparelho que dobra e desdobra (Galaxy Z Flip6 Edição Olímpica) e permite mostrar, à distância de um braço esticado, o lado mais favorável que há no desportista de medalha pendurada ao pescoço. Os atletas paralímpicos, registe-se, merecerão igual brinde de boas-vindas, tradição de oferta que remonta aos JO de Inverno Sochi2014.
A história pode ser revisitada na loja da marca em plenos Campos Elísios, em Paris. Por um ecrã táctil, viajamos do velhinho N206, em Nagano, 1988, ao SGH-600 (Sydney2000) que guardava 100 números, e do SGH-i530 que usou Palm OS e mostrou a aplicação Wireless Olympic Works (WOW), o primeiro serviço oficial de informação olímpica no telemóvel em Atenas 2004 ao Galaxy S7 Edge Olympic Games Edition, desenhado com os cinco anéis e feito propositadamente para o Rio de Janeiro2016.
Mas é hora de regressar a Paris2024.
Passada a hora de competir, terminadas as provas, quem conquistou ouro, prata e bronze, nos desportos individuais e coletivos, homens, mulheres e equipas mistas, perfilharam em frente aos pódios de cores sóbrias (cinzento e branco), inspirados nas linhas metálicas de Gustave Eiffel.
Chamados a dar o último passo neste longo caminho até à suprema glória eterna – é assim desde os JO de verão Los Angeles 1932 —, subiram os 20 centímetros (prata e bronze) e 35 cm (campeões olímpicos), curvaram-se para receber as respetivas medalhas transportadas no tal tabuleiro Louis Vuitton e ainda uma longa e retangular caixa dourada por cuja janela se poderia espreitar a existência de um papel enrolado.
Mapa do tesouro ou diploma de reconhecimento, os leigos poderiam questionar-se sobre o que estava dentro, mas raros foram os vencedores que desvendaram o conteúdo misterioso.
Explicação oficial: é uma versão cartoon de um mapa de Paris e dos locais onde se disputaram as provas desenhado pelo artista francês Ugo Gattoni e que terá nova versão para os Jogos Paralímpicos, que acontecem de 28 de agosto a 8 de setembro.
Por fim, dotados de superpoderes, estes atletas assistiram, alguns em lágrimas, ao içar das bandeiras ao som do hino nacional do país natal de quem conquistou o ouro.
Até aqui tudo normal, quanto normal tem sido o ajuntamento após os hinos, para a fotografia da praxe no lugar mais alto do Olimpo.
Juntos, terão sempre um registo de Paris, mas poucos partilharam
Mas Paris não ficou por aqui. Após a habitual fotografia coletiva de “olha o passarinho”, procurou-se dar nova roupagem à frase “teremos sempre Paris”.
Com os atletas no centro do palco, colocaram-se debaixo de olhares mais próximos, quase de nariz colado à lente. Quem ficou no último lugar do pódio, após a boa nova da conquista olímpica, estava reservado uma “má” notícia. O seu trabalho ainda não terminara.
Na hora da despedida do palco olímpico, esses “últimos” foram incumbidos de nobre tarefa, como se o propósito fosse transformar o bronze num protagonismo coberto de ouro. De telemóvel na mão e braço atirado até ao além, foram responsáveis por registar o espírito e camaradagem olímpica na popularizada selfie.
Nesse momento de “Recordar Paris para sempre”, além de primeiro rosto na fotografia, fizeram e levaram os demais a fazer aquilo que qualquer comum dos mortais faz em situações similares. Abraçam-se e sorriem para a fotografia, despida a capa de superpoderes.
Uma recordação “colocada” no espaço reservado a atletas — Athlete365 — mas que poucos, muito poucos, quiseram partilhar nas redes sociais, preferindo aparecer, eles mesmos, a morder a medalha a solo enquanto seguram a tal caixa de conteúdo misterioso.
Foi assim com os medalhados olímpicos portugueses, Iuri Leitão e Rui Oliveira, Pedro Pichardo e Patrícia Sampaio na hora da celebração da vitória.
Os Jogos Olímpicos Paris2024 terminaram. Agora, veremos que imagens os Jogos Paralímpicos nos reservam.
*O jornalista do SAPO24 viajou até Paris a convite da Samsung Portugal
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