“Este crime, quando praticado por agentes desportivos, tem uma moldura penal máxima de 10 anos de prisão. Entendemos que tudo o que se tem passado desde sexta-feira é contrário aos interesses da Aves SAD. Por isso, entendemos que é lícito perceber se podemos estar aqui perante atos de natureza criminosa, que pretendemos que sejam investigados”, revelou o presidente Rui Pedro Soares, em conferência de imprensa virtual.
A participação foi apresentada esta manhã numa esquadra da Polícia de Segurança Pública (PSP), com Rui Pedro Soares a apelar igualmente à necessidade de “regras claras”, lembrando que o futebol português passou por um caso idêntico, em 2012, quando o União de Leiria se apresentou na última jornada apenas com oito jogadores em campo.
“Oito anos depois, a Liga de clubes ainda não tem sequer condições para prevenir que uma situação destas voltasse a acontecer. É altura de repensarmos muito em relação à Liga de clubes, em relação à matéria de regulamentos e também a necessidade de a Liga ter capacidade financeira para acorrer a uma situação destas”, apontou.
Apesar de assegurar que o Belenenses SAD “vai fazer os seus 34 jogos e vai disputar a vitória em todos os jogos, sempre com total profissionalismo e respeito por todas as regras”, o presidente dos ‘azuis’ frisou que esta situação “desestabiliza as equipas que estão a lutar pela manutenção, sem exceção”, apontando críticas ao futebol português.
“Estamos aqui no sexto melhor campeonato da Europa, no país campeão da Europa, com alguns dos melhores jogadores e treinadores da Europa e, portanto, não podemos estar à mercê de tudo isto se passar e, passado quatro dias, ser a Belenenses SAD a primeira que vem denunciar publicamente a prática de crime”, sublinhou.
O dirigente da formação que ocupa o 14.º posto da tabela classificativa, com 35 pontos, e muito perto de garantir a permanência, tem confiança que, “se tal depender do grupo de trabalho do Desportivo das Aves, os jogos sejam disputados”, mas não altera a imagem do futebol português, que “já está a ser manchada”.
“É também altura para se mudarem práticas e regulamentos, fazer um trabalho sério, deixarmo-nos de falatório e sermos consequentes no trabalho que fazemos”, afirmou, acrescentando: “É preciso, neste momento, criar regras claras em relação às SAD, para que se separe o trigo do joio”.
Rui Pedro Soares referiu existir “muito trabalho a fazer” para a próxima temporada, realçando que todos têm “de estar à altura das responsabilidades e a Liga de clubes também vai ter de estar à altura das suas responsabilidades”.
A formação orientada por Nuno Manta Santa manifestou a intenção de disputar os últimos dois encontros da temporada, apesar de a sociedade liderada pelo chinês Wei Zhao ter informado no domingo que não iria comparecer à receção ao Benfica, num encontro de encerramento da 33.ª e penúltima jornada, marcado para terça-feira, às 21:15.
Fonte da SAD confirmou à Lusa a anulação da apólice de seguro de acidentes de trabalho, o que compromete a realização do jogo, e cancelou o treino agendado para as 17:30 de domingo e a despistagem à covid-19, obrigatória nas 48 horas anteriores ao duelo com as ‘águias’, consoante o protocolo definido para o reinício da I Liga em plena pandemia.
Os avenses ameaçaram há três dias faltar ao jogo no estádio do Portimonense, da 34.ª e última jornada da I Liga, marcado para 26 de julho, de forma a “salvaguardar a transparência na luta pela permanência”, uma vez que receiam “não reunir jogadores suficientes e que garantam uma equipa competitiva” contra os algarvios.
O guarda-redes Quentin Beunardeau e o avançado Welinton Júnior desvincularam-se do emblema do concelho de Santo Tirso em abril, em plena pausa competitiva motivada pelo novo coronavírus, alegando sucessivos incumprimentos salariais, verificados desde dezembro de 2019, enquanto o defesa Jonathan Buatu, os médios Aaron Tshibola, Estrela e Pedro Delgado e o avançado Kevin Yamga saíram nas últimas duas semanas.
A SAD do Desportivo das Aves foi absolvida em 30 de junho da acusação de incumprimento salarial com jogadores e treinadores entre dezembro e março, mas aguarda pela resolução de outro processo idêntico, assente na ausência de documentos comprovativos quanto à regularização dos vencimentos dos meses de março e abril.
O assunto foi remetido da LPFP para o Conselho de Disciplina da Federação Portuguesa de Futebol em 9 de junho, podendo custar uma penalização de dois a cinco pontos, face aos 17 somados em 32 jornadas pelos nortenhos, que confirmaram a despromoção à II Liga em 29 de junho.
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