Daniel Alves chegou ao São Paulo como campeão, capitão e melhor jogador da Copa América de 2019. Disse ser “São Paulino desde criancinha”. Disse, ainda, que vinha para ser campeão no clube de coração, para coroar a sua extensa lista de títulos mundo a fora.

O São Paulo, por outro lado, vivia – e ainda vive – a sua maior seca de títulos da sua história. Uma crise sem fim, com uma enormidade de fracassos, em campo e fora dele. Desde 2012 sem gritar “é campeão”, a pressão no clube é enorme e a gestão do atual presidente, Leco, que escolheu Raí, um dos maiores ídolos da história do clube, para gerir o futebol, acumulou derrotas marcantes e trocas de rumo nas escolhas de campo.

O futebol mudou. Evoluiu a ponto de que é praticamente impossível ter resultado sustentável em campo sem o mínimo de planeamento fora dele. “A bola não entra por acaso”, já dizia Ferran Soriano do seu Barcelona. Uma vitória aqui e outra acolá até pode ser. Mas o preço será cobrado, como aconteceu com o Cruzeiro este ano.

O São Paulo vem de uma sequência de más gestões, até com escândalos de corrupção. E errou muito nas escolhas que fez para o futebol. Sem ter uma visão concreta de que clube gostaria de ser, alternou nos estilos nas escolhas de treinador. Deu pouco tempo de trabalho para quem poderia ser promissor.

Contratou jogadores de estilos diferentes dos propostos pelos seus treinadores. E vendeu todos os principais talentos que surgiam da formação (e foram muitos) para pagar dívidas e investir, num ciclo sem fim, em jogadores velhos, caros e de desempenho duvidoso. Michel Bastos, Pato, Maicon, Diego Souza, Nenê e etc. Todos vieram por fortunas, deixaram a desejar em campo (não só por culpa deles) e deixaram o clube sem trazer retorno financeiro.

Perto do fim do seu mandato, Leco e a sua turma tiveram uma ideia brilhante. Para resolver o problema de vitórias e títulos, foram buscar o jogador com mais títulos na história. Pelo menos um ele há de ganhar conosco, devem ter pensado. Será que é tão fácil?

Daniel Alves é um campeão. Tem mentalidade vencedora. Mas foi sempre um ator secundário. Venceu tudo com o Barcelona, mas era o Barcelona de Messi. Tem troféus pelo Sevilla, pela Juventus e pelo PSG. Em todos foi importante, mas nunca foi o craque da equipa. Na Seleção esteve em conquistas, mas não ganhou um Mundial e esteve nos grandes fracassos recentes também. Daniel é um lateral direito. Raramente laterais são os protagonistas das suas equipas. Apesar de ser um armador a partir da lateral, de ter decidido jogos e brilhado, era uma figura secundária.

Mentalmente forte e trabalhador, Daniel é, também, excêntrico na sua vida fora de campo. Gosta do holofote e da polémica, procura chamar a atenção do público. No entanto, não se pode criticar o jogador de não jogar em campo por excessos fora dele.

A direção do São Paulo vendeu a mentira, para o adepto, que era só colocar Daniel Alves com o número 10, com o equipamento tricolor, que prontamente todos os problemas do clube estariam resolvidos. Criou uma expectativa enorme nos adeptos e expectativa é a mãe da decepção.