Cem anos de história são celebrados entre 10 e 11 de junho de 2023: neste fim-de-semana corre-se durante 24 horas no Circuito de La Sarthe, localizado na pequena localidade francesa de Le Mans.
O que são as 24h de Le Mans?
As 24h de Le Mans são uma corrida de resistência, que faz parte do Campeonato do Mundo de Resistência FIA. Corre-se no Circuito de La Sarthe, composto por 38 curvas, ao longo de 13.626 quilómetros. Le Mans é uma das provas que faz parte da Tripla Coroa (prémio não oficial) do desporto motorizado.
Circuito de La Sarthe? Onde fica? Como é constituído?
O circuito é localizado na pequena localidade francesa de Le Mans, que faz parte da região de Pays de la Loire. Uma região com cerca de 145,155 mil habitantes, recebe desde 1923 corridas de carros. Este circuito é uma mistura de estradas nacionais e de uma parte em circuito permanente. Para explicar melhor o desafio que os pilotos vão ter pela frente, o SAPO24 falou com Henrique Chaves, vencedor da prova de 2022 na classe LMGTE Am
"É uma pista bastante complicada. Dividimos em setores, com o primeiro a ser a parte permanente do circuito, até à curva Tetre Rouge. É uma zona muito técnica, muito rápida. Mas, é a parte mais fácil da pista. Na descida seguinte é muito importante utilizar o declive da pista para ser o mais rápido possível".
"No segundo setor, apesar das longas retas, há muito que explorar. Ganhas tempo na reta se fizeres as curvas que a antecedem bem, ou seja, tens de encontrar um 'balanço' com um 'não travar' muito cedo, mas também 'não travar tarde'. Utilizar muito os corretores. Mais os carros de GTs do que os protótipos", explicou Chaves.
"Um dos pontos mais difíceis da pista é a chegada à curva Indianapolis. Uma curva que, nos GTs, se chega a cerca de 300km/h, nos protótipos a 330km/h. Juntando isto com o tráfego natural de Le Mans é algo muito difícil, especialmente durante a noite. Nessa altura, quando estás no carro, apenas vez luzes, não sabes se estão perto ou longe", disse Chaves ao SAPO24, falando também da sua experiência em Le Mans em 2022.
"Nas curvas finais, a chicane Ford, é uma curva muito exigente para o carro em termos mecânicos. Apesar de teres de atacar, tens também de saber poupar o carro na passagem por esses corretores. Lembro-me muito bem de 2022, com a nossa caixa de direção ter uma folga muito grande. Eu terminei o meu stint ainda faltavam cinco horas para o final. Nem imagino como estaria nos últimos minutos", recordou com um sorriso Henrique Chaves.
Quantos carros competem?
Em competição vão estar 62 carros divididos em três categorias: 16 hipercarros, 24 LMP2 e 21 LMGTE Am (GTs). Para além deste pelotão, há sempre lugar à inovação. O projeto da garagem 56, que existe desde 2012, procura sempre trazer algo de novo. Em 2023, a NASCAR (National Association for Stock Car Auto Racing) compete com o projeto Garage56.
A classe rainha, os Hypercars, é a que atrai a maior atenção. Para esta nova era, para além da Toyota (que transita de anos anterior), chegam a Ferrari, a Porsche, Cadillac, Vanwall, Peugeot e Glickenhaus. A Alpine e a Lamborghini só estarão nesta classe em 2024. António Félix da Costa, atual Campeão do Mundo de LMP2 no FIA WEC estará ao volante de um Porsche na equipa Hertz Team Jota.
Para além da classe rainha, ainda existem as classes de protótipos LMP2 e a classe de carros de GTs, a LMGTE. A LMP2 consiste em carros com o mesmo motor (4.2l V8 da Gibson), com chassis apenas da Oreca, Ligier e Dallara. Chegaram a produzir cerca de 600cv, mas hoje em dia estão limitados, perante a classe Hypercar.
Os LMGTE vêem uma grande mudança para 2023, com a extinção da classe LMGTE Pro, a LMGTE Am passa a ser a única categoria de GTs no FIA WEC. Para já, mantêm-se o Ferrari 488 GTE, o Aston Martin Vantage AMR, os Porsche 911 RSR a que se junta o Chevrolet Corvette C8.R
O que é o Garage56 e o que difere do resto do pelotão?
Este projeto consiste na preparação de um Stock Car, que corre no campeonato americano NASCAR, para o circuito de Le Mans. A equipa americana Hendrick Motorsports pegou num dos seus Chevrolet e modificou-o ao máximo. Mike Rockenfeller, Jenson Button e Jimmie Johnson são os pilotos que vão estar ao volante desta inovação.
Se são 24 horas de corrida, temos apenas um piloto por carro?
Não. Os carros são divididos por três pilotos, em qualquer das categorias. Cada piloto tem de fazer um mínimo de seis horas e só pode fazer no máximo 14 horas. Em cada período de seis horas, também não pode exceder as quatro.
Há portugueses em pista?
Sim. António Félix da Costa , como já referido acima, estará a competir na classe dos hipercarros (Porsche #38), enquanto Filipe Albuquerque regressa para competir na classe LMP2, a bordo do carro da United Autosports #22.
Para António Félix da Costa, em comunicado, Le Mans e o facto de correr nos hipercarros é "um grande momento para mim e para a Hertz Team JOTA, já ganhei esta corrida na LMP2, mas agora é para lutar à geral".
"Depois de muito trabalho, preparação do nosso carro e esforço de toda a equipa, chegou a altura das 24 horas de Le Mans e acredito que estamos preparados para este grande desafio".
"Sabemos que somos uma equipa privada e lutamos contra várias marcas oficiais, com orçamentos bem mais elevados, mas também sabemos do valor desta grande equipa, que conta com alguns dos melhores engenheiros do automobilismo mundial, portanto encaramos esta corrida com muita responsabilidade, um enorme espirito de equipa e muita vontade de terminar as 24 horas sem problemas e lutar por um lugar no pódio".
Para Filipe Albququerque e apesar de ser a décima participação na prova e de já contar com uma subida ao lugar mais alto do pódio entre os LMP2, em 2020, Filipe Albuquerque não esconde que ainda sente “aquele friozinho na barriga em como vai começar a corrida mais difícil do ano. Aquela que move tudo e todos e que pode mudar o rumo dos campeonatos. Estamos na frente, cientes de todo o nosso potencial e confiantes num bom resultado. Não impomos limites a nós próprios, apenas fazer de tudo para chegar à vitória. Vencer Le Mans pela segunda vez e manter a equipa na frente do campeonato é tudo o que posso desejar”, concluiu o piloto.
Para além deste, há comissários portugueses em pista e também o diretor de corrida, Eduardo Freitas. No Safety-Car, temos um antigo piloto português ao volante, Pedro Couceiro.
Em pista estes são os intervenientes, mas fora dela, os adeptos já marcam presença em peso. E claro, oriundos de Portugal também os há. Vasco Moura, de Ermesinde é um desses adeptos.
Ao SAPO24, Vasco contou que "desde que me lembro vejo a corrida, posso não ver o campeonato todo, mas nunca falho Le Mans! O meu pai passou-me o gosto quando era criança e as primeiras memórias que tenho são os Audi dominarem as corridas. É uma das provas que me faz perceber o porquê do desporto automóvel ser especial! Durante vinte e quatro horas homem e máquina lutam contra o relógio, cansaço, os rivais e o limite das suas capacidades. É algo surreal, mas é o expoente máximo da resistência no desporto motorizado".
Através desse gosto e do grupo de amigos que se junta todos os anos para ver a especiais do Rali de Portugal, Vasco e mais nove pessoas tiveram a ideia de "expandir fronteiras e irmos ver pelo menos uma grande prova internacional e acabamos por decidir por Le Mans".
David Luís, de Lisboa, é outro adepto português que vai estar em Le Mans. A aventura de David começou em Lisboa e ao contrário de Vasco, esta é feita de maneira solitária.
David arranjou uma carrinha e um local para acampar. Mas, não arranjou o seu meio de transporte em Portugal. Segundo David contou ao SAPO24, a viagem primeiro foi até "Munique, na Alemanha, onde comprei a carrinha". Daí, e apesar de alguns atrasos, David foi até Le Mans.
Agora, vai passar o fim de semana à beira da pista, parado a "200 metros da entrada este, a 500 metros da reta Mulsane". Para David, ir a "Le Mans era um sonho e não há melhor do que o ano do centenário. É incrível o ambiente e ainda estou no primeiro dia e já quero voltar para o ano".
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