Portugal entra hoje em ação no campeonato da Europa de Andebol. Na organização bicéfala entre Hungria e Eslováquia, os Heróis do Mar, epíteto com que a seleção nacional é conhecida, estreiam-se hoje (19h30) diante a poderosa Islândia. O Grupo B integra a Hungria, uma das anfitriãs, e os Países Baixos.
Até chegar a Budapeste, Portugal atravessou o caminho das pedras. Primeiro, o processo da convocatória sofreu um sangramento devido a lesões, ainda para mais de jogadores nucleares na seleção, que nos últimos dois anos conseguiu três feitos ímpares na história do andebol nacional: o sexto lugar no Europeu 2020 (na Suécia), a melhor classificação na competição europeia, foi 10.ª classificada no Mundial, além da participação inédita nos Jogos Olímpicos Tóquio 2020.
Luís Frade (Barcelona), André Gomes (Melsungen), Pedro Portela (Nantes) e João Ferraz (Aarau) são alguns dos nomes ausentes de uma lista na qual dos 18 escolhidos em 2020, metade não se apresenta no Europeu, prova em que a Espanha se apresenta como bicampeã.
Às lesões, somou-se mais de meia equipa afetada pela covid-19, o que perturbou a preparação do Europeu da Hungria e Eslováquia, obrigando à desistência no torneio Yellow Cup, agendado para a Suíça. “Tivemos uma participação catastrófica naquilo que é planificar um campeonato da Europa”, atestou Paulo Jorge Pereira, selecionador nacional e timoneiro no anterior Europeu, na participação olímpica e no mundial.
“Foi lesões e covid. Covid, não, muita covid. Uma barbaridade. Tive atletas a integrarem o estágio nos últimos dois dias, a 27 de dezembro. Imaginem o que é preparar sem ter atletas presentes ou com atletas de forma intermitente. É uma complicação”, lamentou em conversa telefónica com o SAPO 24.
Zero casos numa prova gerida dia a dia
“Cada dia é um dia novo”, avisou. “Mas temos de nos adaptar a viver dia a dia”, assinalou. “Hoje [quarta-feira] estamos muito satisfeitos, muito contentes porque o que mais pensávamos era não ter nenhum jogador positivo. E assim aconteceu, estamos todos negativos. Foi uma festa”, confidenciou Paulo Pereira Jorge Pereira. “Estamos a celebrar não uma vitória, mas uma festa por não estarmos positivos”, enalteceu após terem ultrapassado, até ver, a tempestade perfeita que enfrentaram.
Tiago Rocha, capitão de Portugal, pega nas palavras do timoneiro: “Como o selecionador disse estamos num caos e cada dia é um novo desafio e temos que responder a esse desafio. Houve lesões e covid, muitas pedras pelo caminho, mas estamos aqui e todos bem e, isso, é o mais importante”, reforçou o líder dos Heróis do Mar.
No entanto, o perigo pode espreitar fora do grupo. “A forma como estamos a ser testados, depois convivemos com pessoas sem máscaras no elevador [do hotel] e nas refeições... Estamos a ser confrontados com pessoas sem máscaras. Como é possível planificar assim?”, questionou Paulo Jorge Pereira.
Tiago Rocha, sossega os espíritos nacionais e retira um slogan dos Três Mosqueteiros, figuras imortais do romance de Alexandre Dumas. “Temos de ter muito cuidado para não prejudicar toda a equipa. Usar o lema 'um por todos, todos por um' para não que estraguemos o europeu”, destacou.
O selecionador acrescenta a palavra "sorte". “Estamos também um pouco dependentes da sorte de que nada mais aconteça”, disse, acrescentando que, depois, “é tentar focar o mais possível no que podemos fazer”. “Agora, tendo em conta as circunstâncias que vivemos, é entrar rapidamente no que podemos fazer e ver quais as soluções que temos de encontrar para defrontar estas equipas”, frisou.
"Energizar". O verbo na boca do selecionador nacional para dar força às tropas
Ultrapassar a fase de grupos é um objetivo traçado por selecionador e capitão.
Perante os factos, “a ambição de passar a main round é algo equilibrado ao que tem acontecido”, assinalou Paulo Jorge Pereira.
“É o principal objetivo. Depois é passo a passo. Não foi fácil em 2020 e será difícil em 2022, mas tudo faremos para dar esse passo”, assegurou Tiago Rocha. “Obviamente gostaríamos de repetir o feito do 6.º lugar e, quem sabe, fazer melhor, mas sabemos também da qualidade das outras seleções”, antecipou o pivot de 36 anos.
Tiago Rocha, 140 internacionalizações e um dos mais internacionais em campo (Fábio Magalhães contabiliza 160), cita as páginas de sucesso mais recente da seleção. “Tem demonstrado nos últimos anos uma enorme qualidade e isso tem sido evidente nos jogos”.
Sobre o que espera na Hungria recua a 2020. “Sabemos das dificuldades, assim como soubemos no anterior europeu em que tivemos pela frente a França e a Noruega. Agora temos a Hungria (Domingo, 17h00) e a Islândia, equipas difíceis”, alertou Tiago Rocha. Os Países Baixos (terça-feira, 19h30) seriam, à primeira vista, o elo mais fraco, mas a vitória de ontem (31-28), no Budapeste Handball Arena, diante os húngaros, orientados pelo treinador do Benfica, Chema Rodriguez, promete baralhar as previsões iniciais.
Ainda assim, o factor 'casa' inclina os magiares, 13.º europeu consecutivo, para o lado dos favoritos. A Islândia tem menos um, 12, e recolhe igual favoritismo. Portugal contabilizará a sétima participação. Esteve em 1994 (país organizador) e de 2000 a 2006, seguido de um interregno de 14 anos até 2020.
Paulo Jorge Pereira recordou igualmente a última competição portuguesa. “Tivemos seleções de medalhas (França) que ficaram de fora e nem passaram ao main round. É tudo muito flexível em quem avança e quem fica. Há umas que passam mais vezes”, reconheceu. “Nós andámos uns anos fora, sim, mas esta é a segunda participação de alguns atletas no Europeu”, destacou.
Para o fim deixou uma mensagem: “Foram dias muito difíceis. Uma das obrigações de treinador é energizar as pessoas. Se não formos capazes, para que as pessoas acreditem que é possível obter bons resultados, de manter este orgulho em nós próprios, no ser português e representar a seleção, então não estou aqui a fazer nada”, atestou. “Enquanto sentir isso é sempre um prazer representar a seleção. Tento todos os dias acordar e pensar no que posso fazer para sermos melhores. Eu e os outros que me rodeiam. Tenho de ser mesmo positivo”, confidenciou.
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