Com inscrições limitadas a cem participantes, esta competição pretende trazer de volta carros icónicos ao Dakar. Até agora já se viram várias réplicas de carros icónicos, como o Porsche 911, de Jacky Ickx, ou o Peugeot 205 de Ari Vatenen. Mas, para os portugueses, nada mais histórico e memorável que os jipes portugueses da União Metalo-Mecânica, vulgo UMM.
Desde 1982 que Portugal participa nesta mítica prova. A primeira dupla foi José Megre e Manuel Romão, com o jipe UMM que transportava o número 214 nas portas. Juntamente com esta dupla, participaram nessa edição também Pedro Cortês/Joaquim Miranda e Diogo Amado/Pedro Vilas Boas, todos igualmente em UMM, tendo todos terminado.
Em 2024, estão de volta os UMM ao Dakar Classics. Paulo Oliveira (com licença moçambicana) e Arcélio Couto levam o número 724 nas portas, num projeto montado quase em contra-relógio, mas chegam à Arábia Saudita para fazer o seu melhor e, primeiro de tudo, terminar a prova. A dupla esteve à conversa com o SAPO24, e explicou como surgiu a ideia de fazer a edição deste ano. Ambos já com experiência em motas e SSV no Dakar e agora partem à descoberta dos prazeres de fazer um Dakar de carro.
A ideia de estarem presentes no Dakar Classics com um UMM surge através de outro piloto português, João Costa, amigo dos dois. Costa, que já fez o Dakar Classics de SsangYong, foi o primeiro piloto nacional a competir nessa categoria.
"Eu sou um apaixonado do Dakar desde miúdo. Acompanho desde as primeira edições. Eu vou fazer 50 anos e o Dakar já tem 46. Quando vejo aquelas máquinas [Clássicos], faz-me recordar a infância, quando o Dakar passava na televisão", explicou Oliveira.
"Em abril, maio, liga-me um amigo meu das corridas, o João Costa", especificou Oliveira. "Perguntou-me o que ia fazer, eu não tinha projeto, então perguntei-lhe o que ele ia fazer. Quando me disse UMM, foram as palavras mágicas. 'Uau, também quero ir' e a partir daí foi correr atrás do prejuízo. Foi conseguir encontrar um UMM Troféu em condições".
No Dakar Classics há que cumprir certos parâmetros para participar, como explicou Oliveira: "o carro tem de ter mais de 25 anos, tem de ser um carro que já tenha feito o Dakar e tem de ter as características de época. Essas são as três premissas para competir aqui".
O carro em que Paulo e Arcélio vão competir foi um "achado, um golpe de sorte. Este UMM Troféu já tem o equipamento preparado, porque vem de fábrica assim. Já tinha os pormenores que o fazem poder competir. O nosso carro é de 1991, um carro que já tem 32 anos. Não estava nas melhores condições, mas felizmente ainda temos muita gente em Portugal preparadas para reparações e preparações deste carro".
"Primeiro tivemos de reparar o carro (na oficina de Sérgio Cruz), por causa do motor e depois tivemos de o colocar num mecânico da área desportiva. Aqui já não é tanto UMM, mas são equipas que estão preparadas para mexer em qualquer carro", explicou Oliveira.
"Depois disto, foi aí que percebi o desafio, porque se leva um carro com quase trinta anos, sem tecnologia nenhuma, com as características da altura". Arcélio Couto ainda acrescenta mais um desafio: a "manutenção do carro. Porque são quase oito mil quilómetros. Não é um carro moderno, está submetido a grandes esforços, mas queremos chegar com ele ao fim, direito".
Antes de competirem no Dakar, piloto e navegador tiveram de se preparar. No que diz respeito à competição, ainda conseguiram participar na "Baja de Portalegre onde ganhámos a classe T0" - classe onde correm os carros com mais de 20 anos. "Aqui foi a primeira vez que conduzi e participado em corridas com um UMM", afirmou Oliveira
Depois da estreia como navegador na Baja de Portalegre, esta é a primeira participação de Arcélio Couto nos carros no Dakar, uma vez que já tem um Dakar 'no bolso' com mota. A ida para a edição de 2024, para Couto, foi "um pouco diferente", começou por explicar ao SAPO24. Conheceu Paulo Oliveira em 2019, "em África, Marrocos". A amizade é grande e combinaram que "quando fizéssemos o Dakar, faríamos juntos". O convite surgir para este ano e Couto "aceitou logo".
"Tive de estar mais dentro da preparação. Por exemplo, quando fui de mota tive o Pedro Bianchi Prata que me tratou de tudo. Desta vez, como navegador do Paulo, está a ser diferente. Tenho de preparar mais as coisas, tenho de aprofundar muito mais", disse Couto.
"Por exemplo, na parte das motos tive de me preparar mais fisicamente, muito treino de mota, mas a parte mental, quando lá chegas, é muito importante. O físico treina-se, mas a parte mental é o principal. No quarto, quinto dia de mota, questionei-me muitas vezes o que estava a fazer, mas consegui ultrapassar isso", explicou Couto.
"Como navegador, a parte física poderá ser mais fácil. Mas, a parte mental tem agora um acréscimo: ajudar o Paulo. Não vamos com pressão nenhuma, só queremos acabar e penso que será mais fácil. Já fizemos uma prova juntos, para afinar a nossa comunicação", explicou Couto.
No fim, tanto piloto como navegador têm o mesmo objetivo, chegar ao fim, "querendo estar no palanque final, com mais um UMM a terminar a prova", termina Oliveira.
Ao contrário do Rally Dakar, o Dakar Classic é uma prova de regularidade. Apesar de partilharem o mesmo bivouac (parque de assistência), o percurso é apenas 60% coincidente com o do Rally Dakar e não é por se ser o mais rápido que se vence o Dakar Classics. Nesta prova, os participantes têm de respeitar "uma velocidade média para fazer a etapa", explicou Arcélio Couto ao SAPO24.
"Faz-se um contrato com a organização, consoante a classe que se entra. É essa média que tem de se ter durante a prova, ou seja, se se combina que a média é de 90km/h, tem que se cumprir. Não se pode ir antes, nem depois", explicou Paulo Oliveira. "Nunca se pode chegar a um ponto de controlo antes ou depois, tem de ser no horário exato".
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