De acordo com as notícias saídas nesta quarta-feira, nesta reunião que se avizinha a maioria dos clubes poderá votar na descida de divisão automática dos três últimos classificados, caso estes avancem com o esperado bloqueio ao ‘Project Restart’ - que visa retomar a liga, mas que irá envolver, entre outras novidades, que se jogue em estádios neutros, devido ao receio de aglomeração de adeptos nas suas imediações.

Já aqui falámos há uma semana de três fatores que irão, de uma forma ou outra, dificultar o regresso aos relvados. Quer seja pelo potencial ajuntamento de pessoas que pudesse levar ao cancelamento de jogos, pela falta de condições de segurança — levando a que haja o risco de jogadores poderem declarar negligência por parte da sua entidade patronal —, ou mesmo até pelo número limitado de testes disponíveis desde o momento em que os jogadores comecem a treinar, o que já acontece. Todas elas razões mais do que viáveis para que se pense duas vezes.

A juntar às razões acima mencionadas está o facto de os seis últimos classificados alegarem que dois terços dos rendimentos vêm, precisamente, dos jogos em casa. Já para não dizer que obrigar a jogar em estádio neutro os clubes em situação de eminente despromoção e que precisam, desesperadamente, das receitas desses jogos cinco ou seis jogos em casa, é tremendamente injusto.

Segundo o diretor executivo do Brighton, dizer que os últimos seis classificados são os responsáveis máximos pelo impasse é injusto. Paul Barber diz existirem preocupações genuínas de muitos mais clubes que apenas os seis últimos classificados e que a informação de que serão estes os responsáveis por dificultar as negociações é falsa. 

Por muito que as pessoas gostem de futebol e sintam a sua falta e que as envolventes económicas em torno do seu regresso sejam enormes, o bom-senso terá que, eventualmente, imperar, ou não será assim?

Em declarações ao The Football Show na Sky Sports, Gary Neville foi pragmático ao dizer que apesar da totalidade dos clubes querer, de facto, terminar a temporada, a forma de regresso não está a agradar a todos e o jogo está a ficar “sujo”, nos bastidores do ‘Project Restart’, falando inclusivamente em “chantagem”. A mesma refere-se ao mencionado acima acerca da despromoção dos três últimos classificados caso não se chegue a um acordo para a conclusão da época 2019-20.

“Não há dúvida que temos uma Premier League dividida neste momento, no que diz respeito ao que os clubes querem. E isso não é saudável nesta situação. Quando pensamos na mensagem desde o primeiro dia desta pandemia global, todos falaram numa abordagem social, em permanecer juntos, ser bondoso, mas o futebol não é um sítio bondoso neste momento. Está cheio de interesses pessoais. Eles (a Premier League e os clubes) estão a tentar de alguma forma chegar a um acordo, mas está a ficar muito sujo nos bastidores tendo em conta o que disseste esta manhã (a possibilidade de despromoção direta dos três últimos classificados caso não haja acordo). Eu acho que é com maus olhos a forma como o futebol está a ser visto pelas pessoas que estão do lado de fora", comentou o antigo jogador do Manchester United.

Os outros problemas 

A própria Federação Inglesa (FA) já rejeitou a outra possibilidade que estaria em cima da mesa, de se jogar a próxima temporada com 22 clubes em vez dos tradicionais 20. A ideia seria de que os clubes que estão abaixo da linha d’água permanecessem na Premier League na próxima temporada, caso não se chegue a concluir a liga e que os clubes da Championship que se encontram neste momento em posições de promoção direta, o primeiro e segundo classificado, Leeds United e West Bromwich Albion respectivamente, fossem promovidos. Assim, a época de 2020-21 teria um número total de 22 clubes.

A FA já veio recusar o plano, alegando os poderes que lhe foram dados em 1991 aquando da formação da Premier League, em que a Federação Inglesa teria de ser consultada relativamente a alterações nos processo de promoção e despromoção de clubes, tal como no número total de clubes na competição. A juntar à posição da FA, esta disse também que não apoiaria a despromoção de clubes. O que nos leva a crer que, caso não se termine o campeonato, a época teria de ser nula, pelo menos no que à subida e descida de clubes diz respeito.

Como seria de prever, Rick Parry, o presidente executivo da English Football League (EFL), já veio dizer que seria desastroso não se promoverem três clubes da Championship para a Premier League.

Para quem perdeu o nosso artigo sobre a época do Leeds United e a forma como estes, na temporada anterior falharam a promoção à Premier League, poderá, na sequência do que foi dito acima, ver o impacto que tal decisão teria na equipa e adeptos de um dos grandes do futebol inglês.

Relativamente à integridade desportiva, já vimos o caso de se jogar em campo neutro, mas existem outras perspectivas que também poderão colocar a mesma em causa. Segundo o Daily Mail, um director executivo de um dos clubes que participou na primeira reunião do ‘Project Restart’ levantou uma muito questão pertinente. Quando o Liverpool se sagrar campeão, e caso a Champions League esteja, ou não, no activo, o que fará Jürgen Klopp? Naturalmente irá proteger os seus jogadores e, muito provavelmente, apresentar-se-á com uma equipa muito longe da habitual. Quem sabe não jogará nenhum titular daí em diante, e de forma compreensível claro, uma vez que estaria a proteger da melhor maneira os seus jogadores mais valiosos. Se esse for caso e o Liverpool começar a perder pontos que, naturalmente, ganharia, onde fica a verdade desportiva?

Mais um argumento a juntar aos inúmeros que não vêm o regresso do futebol como uma oportunidade viável mas acima de tudo, uma oportunidade justa para todos.

Também segundo o Daily Mail, alguns clubes da Premier League já deram conhecimento à liga que estão a ter dificuldades em fazer com que os seus jogadores e funcionários assinem o documento que confirma que terão lido e perceberam o que lhes é requerido durante o ‘Project Restart’. E apenas por mencionar o ‘Project Restart’, jogadores e funcionários já estão de pé atrás não querendo assinar nada que possa fazer com que sejam ‘obrigados’ a trabalhar e a perder os seus direitos caso fiquem infectados. 

Um simples documento, que aparentemente não significa mais do que concordar com os regulamentos do clubes relativamente ao Covid-19 e aos procedimentos a ter quando estiverem nas instalações do clube, está a colocar os nervos à flor da pele e a fazer com que jogadores e funcionários não o assinem. O que vem colocar dar força ao que dissemos anteriormente relativamente a jogadores poderem, mais tarde, processar os clubes e a Premier League por negligência ao não serem garantirem todas as medidas de segurança necessárias. Assim que um jogador seja infetado, as consequências que essa informação terá nos restantes será, tal como o vírus, imprevisível.