O Absa Cape Epic, ultramaratona em BTT, arranca no próximo dia 15 de março, da Cidade do Cabo. Ao longo de oito dias, um prólogo e sete etapas, 647 quilómetros, 15,500 metros de subida vertical, entre trilhos rochosos, terrenos arenosos vinícolas e descidas por antigas cordilheiras, das encostas icónicas do Parque Nacional de Table Mountain ao luxo do Val de Vie Estate, 1300 atletas de mais de 50 nacionalidades, homens e mulheres, desafiam-se a si mesmo pelas paisagens selvagens e indomáveis do Cabo Ocidental da África do Sul.

A dura prova em bicicleta de montanha, por equipas, em duplas, atrai uma mistura eclética de corredores. Na linha de partida, perfilham-se profissionais que fazem parte da elite UCI (Federação Internacional de Ciclismo), campeões olímpicos, mundiais, continentais, nacionais, ciclista de toda a vida ou simplesmente alguém que quer desafiar os limites em cima de um selim. Desengane-se, no entanto, quem pense que a competição, destinada a profissionais e amadores, está aberta a todos, sem limite ou critério.

“Não dá para nos inscrevermos. A entrada é feita das seguintes formas: ranking UCI e por convite (Elite), através da compra bilhetes para uma lotaria no valor de 10 euros em que se sorteados ficamos com acesso ao slot de inscrição que custa, para todos, seis mil euros. E os jornalistas (número limitado), creio, que a inscrição é gratuita”, disse, em conversa com o SAPO24, Rui Porto Nunes, ator e mais conhecido pela representação em séries e novelas do que propriamente por ser um artista nas duas rodas.

Uma informação complementada através da leitura do "site" da prova. Os primeiros 100 compradores de um bilhete de participação, adquirido imediatamente a seguir ao final evento do ano anterior (2019, no caso), ou quem doar dinheiro (leilão) para instituições de caridade, número limitado, ganham igualmente acesso.

“É como o Real Massamá ir parar ao pote 1 da Liga dos Campeões”

Rui Porto Nunes é um dos nomes inscritos na 17ª edição da mítica competição. Uma estreia que teve o seu quê de sorte. Fará dupla com André Filipe.

“Fui pela via da lotaria, que não saiu. Depois pelo convite, enviei uma carta de apresentação, por e-mail, disse que era um ator português, com os meus números das redes sociais, Facebook e Instagram, que era um apaixonado pelo ciclismo, que tinha sido atleta e que estava ligado à Volta a Portugal”, recordou.

“Em maio de 2019, recebi um e-mail com slot de inscrição com valor de 6 mil euros e que tinha de ser pago até setembro. Paguei. Fiz tudo direitinho”. A surpresa veio depois. “Quando saiu a lista de inscritos um amigo avisou-me que era o nº30 (e estava no grupo de Elite. Perguntei à organização sobre o sucedido e a resposta é que éramos atletas UCI”, relatou. “Informei que nem como atleta (UCI) federado estava. Disseram-me que não havia nada a fazer, que já tinha sido aprovado e assumiram o engano”, continuou.

“É como o Real Massamá ir parar ao pote 1 da Liga dos Campeões”, comparou. “Ou o Grupo Desportivo da Esperança, como escrevi (no Instagram) em resposta a um comentário do brasileiro Henrique Avancini, um dos corredores em competição”, sorriu.

“Parto ao lado dos campeões do mundo e da Europa e com 5 minutos antes da Elite (onde deveria ir), mais cinco que o pelotão de Elite feminina e do 4º grupo a sair, que é o salve-se quem puder”, explicou. “Vamos estar em três classificações. A classificação UCI, Elite total e geral. Portanto, podemos até ir aos Jogos Olímpicos se conseguirmos tempo”, atirou, sorrindo de novo.

“Um dia ainda vou fazer isto”

O ciclismo não é um mundo estranho para o ator de “Morangos com Açúcar” (2007) e “Lua Vermelha” (2010). Faz, aliás, parte desse mundo. Ou antes, fez, deixou de fazer e voltou a fazer.

“Fiz alta competição de BTT até aos 18 anos. Uma escoliose atirou-me fora de jogo”, relembrou Rui Porto Nunes. “Dediquei-me então a que também gosto muito que é o cinema. Tinha o sonho de realizador. Ator foi quase sem querer”, confidenciou.

Vestir a pele de uma personagem na novela da TVI, "Jardins Proibidos" (2014), fê-lo “engordar 10 quilos”. A recuperação do peso surgiu pela mão do amigo, ciclista e atleta olímpico, David Rosa (campeão nacional XCO). “Fui a uma prova e nunca mais parei”, frisou.

créditos: DR

O Brasil Ride, em outubro passado, foi uma das competições, feitas ao lado de Tiago Alexandre. Depois de um repouso, de “três semanas”, seguiu um plano de treinos “durante o inverno, debaixo de chuva, sol, vento e da tempestade Elsa”, realçou. “Em dezembro, treinei seis dias por semana, cerca de 10 a 12 horas semanais. Em janeiro, 20 horas, e em fevereiro, entre vários tipos de intensidade, oscila entre as 15 e as 20 horas”, enumerou.

Além do ginásio, o treino em BTT é feito “no Monsanto” ou então, “saio de casa, em Benfica, sigo para Loures, Bucelas, Arruda-dos-Vinhos, Lousa, Sobral de Monte  Agraço e Torres Vedras”, descreve. Na preparação para os terrenos sul-africanos apontou dois desafios. “Um, fazer 100 km de uma só vez, no Monsanto, feito na semana passada. O segundo, é ir de casa ao Alentejo, Esperança, em Arronches (Portalegre). É ir jantar e regressar. Ainda não fiz e não sei se consigo fazer antes”, reconhece.

Faz uma pausa e recua a 2004. Nesse ano, “li a primeira reportagem sobre a Cape Epic, na revista Bike Magazine, escrita por Mário Roma (que fundou o Brasil Ride). “Disse, no meu quartro, um dia ainda vou fazer isto”.

“Se é épico para mim, imagina o gajo que ganha?"

Daqui a 15 dias cumpre esse sonho. “Vamos dia 12 de março, chegamos dia 13 e a prova começa a 15. Com o fuso horário de 2 horas, começa às 7h00, levantamo-nos às 5h00 (3h00, em Portugal). Um dia para a habituação, vai sair do corpo. Os profissionais e os outros já lá estão”, assegura.

Nada que o desmotive. “Se é épico para mim, imagina o gajo que ganha? Deve ser incrível”, desabafa de contentamento.

“Esta prova está para o BTT como a Volta a França está para o ciclismo. É tudo ao pormenor”, explica o ator e ciclista. Sobre o trabalho de equipa, em dupla, explica. “Temos que andar lado a lado. Há separação sim, mas não pode ir além de 2 minutos e é controlado por GPS”, anotou. “O segredo das duplas está no mais fraco, e neste caso sou eu”, sorriu. “O truque, nas zonas rápidas, vai o André à frente e eu na roda, em zonas de subidas e mais duras, ando eu na frente, porque se for o André a impor o ritmo, não acompanho e parto o motor”, assume.

Para o fim, deixa um lamento. “Tenho pena que o Tiago Ferreira, ex-campeão mundo e atual europeu de maratonas, não participe por decisão da equipa, assim como o Luís Leão Pinto, que em 2017 obteve o 4º lugar, a melhor classificação de um português”.

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