“Foram vários fatores de stress que levaram a isto [à depressão], não é um estigma, agora já me sinto confortável para falar, sei também que muitos atletas estão a passar por isso, foi um período muito complicado [o da pandemia] não só para os atletas, para o mundo todo”, revelou à Lusa a judoca.
Os primeiros sinais vieram com a perda inexplicável de peso, mas Bárbara Timo reconhece que foi um aglomerado de situações que contribuíram para essa depressão ainda em 2020, que se prolongou e para a qual procurou ajudou médica já este ano.
“Foram vários fatores, momentos de stress que levaram a esse diagnóstico, mas o pico de stress foram mesmo os Jogos Olímpicos, e depois foi difícil, por tudo o que procurei, tudo o que troquei na minha vida”, justificou.
Foi em 2018 que a judoca ‘deixou’ a vida no Brasil por uma carreira desportiva em Portugal, primeiro quando assinou pelo Benfica, e, depois, a partir de 2019, já ao serviço da seleção, pela qual chegou a ser vice-campeã mundial em -70 kg.
Mas um ano depois a pandemia abalou a estrutura da judoca, que já tinha alcançado várias conquistas pela seleção, num período em que as fronteiras fecharam e ficou sem poder estar com a família, o que habitualmente fazia duas vezes por ano.
“Foi muito complicado. Não só de não os ver, mas a incerteza em relação à saúde. Um tio meu faleceu de covid-19”, lembrou Bárbara Timo.
Todo o processo afetou-a emocionalmente, com Bárbara a ter tido os primeiros sintomas depressivos, o que a levou também a questionar a motivação em continuar no judo, sabendo que já tinha conquistado uma série de medalhas [Grand Slams, Europeus, Mundiais], com exceção dos Jogos Olímpicos.
“Já tinha as medalhas, faltava mesmo a dos Jogos Olímpicos, mas ao mesmo tempo eu adoro esta vida, adoro treinar, competir, adoro estar no meu clube, na seleção”, disse, para explicar a importância que o judo tem e continua a ter na sua vida.
Para isso precisou de ter novos estímulos e fez das fraquezas forças, ao projetar novas metas e desafios, especialmente com a mudança de categoria, sabendo que a perda de peso era consequência da depressão.
“Parei de treinar após os Jogos e quando fui ver o meu peso já estava em 67 kg, então podia subir ou podia descer. Acho que faço sempre o caminho inverso a todo o mundo, vou por outra estrada”, adiantou.
Bárbara prepara-se agora para deixar os -70 kg, que lhe deram o vice-título mundial em 2019 ou o bronze nos Europeus de Lisboa, já este ano, e assumir a competição nos -63 k, categoria em que chegou a competir até aos 21 anos.
“Considero sempre novos caminhos e acho que é isso que me motiva, sabendo que sou capaz, descobrir até onde posso ir, é mesmo por aí. Juntei forças em consequência de tudo e isso dá-me muita motivação, estou animada”, sublinhou.
O percurso sabe que não será fácil, com a permanente exigência no controlo do peso, uma nova forma de treinar, com novos exercícios, mas com a energia suficiente, sabendo que é uma pessoa a quem a rotina costuma cansar e que este é um novo momento.
“Não é só o perder peso que me estimula. Tenho que treinar de um novo jeito, fazer novos exercícios, a rotina cansa-me um pouco, estou com a minha preparadora física, tenho descoberto maiores potencialidades no meu corpo”, explicou, dizendo que tem de ser mais regrada e que também isso é uma forma de autoconhecimento.
Depois de um primeiro ‘ensaio’ da nova categoria na Taça Kiyoshi Kobayashi, em setembro, a judoca teve também o estímulo dos outros, com ‘feed back’ positivo, encarando a mudança como acertada.
“É engraçado, mas também é para ver como a vida é transitória (…). Nada é fixo, sempre acabamos por recomeçar quantas vezes for necessário, é preciso ter apoio, e sou grata ao Benfica por me ter apoiado bastante e à seleção, à Ana Oliveira que me tem ajudado nesta fase de mudança, e à Ana Hormigo [selecionadora]”, acrescentou a judoca.
Nesta fase, e a poucos dias de competir em Paris, um dos principais torneios do circuito mundial, onde já conquistou um bronze (2019) e um quinto lugar (2020), Bárbara Timo tem expectativa na “boa atmosfera” que costuma existir e diz-se “pronta” para o que aí vem.
“Gosto muito de lutar em Paris, já tenho uma medalha de bronze e um quinto, não sei se o público vai estar, mas é uma competição com uma atmosfera muito boa. Tenho muita expectativa porque já me sinto pronta”, assinalou.
De resto, conta com a ‘vantagem’ de sentir que não perdeu qualidades e está preparada para competir num peso mais leve, mas com a mesma potência muscular.
“Estão quase iguais os meus níveis de força, melhorei no percentual de gordura, que baixou bastante. É o que tenho sentido no treino, não me tenho sentido fraca, mas mais potente e ágil ainda, é o que estou esperando, é chegar lá e vamos ver”, concluiu.
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