"O céu é o limite", profetizou o selecionador, Paulo Pereira, após ter superado a primeira fase do torneio. A vitória sobre a Hungria, por 34-26, no último jogo da ronda principal, fez saber que o 'céu' português ficará algures entre os quinto e sexto lugares.
A seleção nacional, que até quarta-feira tinha como melhor resultado no Campeonato da Europa o sétimo lugar conquistado em 2000, na Croácia, chegou a sonhar com a qualificação para as meias-finais, mas encontrará na perspetiva de terminar no quinto posto um irrecusável 'prémio de consolação'.
"Este desempenho, naturalmente, eleva os patamares de exigência, mas também eleva os patamares de oportunidade. Temos de aproveitar os dois", assinalou o presidente da Federação de Andebol de Portugal, Miguel Laranjeiro, à agência Lusa.
No sábado, em Estocolmo, a equipa das 'quinas' terá pela frente a Alemanha, colosso da modalidade, detentor de três títulos mundiais, dois europeus e um olímpico, mas uma das maiores virtudes da representação lusa no Euro2020 é acreditar que a história existe para ser reescrita.
Foi dessa forma que venceu - e eliminou - a campeoníssima França, por 28-25, na estreia no grupo D da ronda preliminar, na qual cumpriu sem igual brilhantismo a tarefa de vencer a Bósnia-Herzegovina (27-24), antes de perder com a impressionante Noruega (34-28), que parece destinada a chegar à final.
A derrota em Trondheim com uma das anfitriãs do campeonato foi duplamente penalizadora, uma vez que os resultados entre as equipas apuradas transitam para a ronda principal, na qual voltou a estrear-se com um triunfo retumbante (35-25) sobre a Suécia, que já se sagrou quatro vezes campeã mundial, olímpica e europeia.
O triunfo sobre a anfitriã do grupo II da ronda principal, em Malmö, parecia capaz de lançar Portugal até para algo mais do que a melhor classificação de sempre, mas o sonho de subir pela primeira vez ao pódio desvaneceu-se nas derrotas com Islândia (28-25) e Eslovénia (29-24).
"Ainda ninguém me perguntou pelo Gilberto Duarte", observou Paulo Pereira, ainda em Trondheim, considerando essa 'omissão' a maior prova do sucesso da equipa que lidera. Afinal, nem se notou que Portugal está a disputar o Europeu sem o seu melhor jogador e marcador na fase de apuramento, devido a lesão.
Sem Gilberto Duarte, mas com o guarda-redes Alfredo Quintana, um dos três cubanos naturalizados portugueses que representam a seleção, "um coelho tirado da cartola" por José Magalhães, diretor desportivo do FC Porto - como definiu o selecionador -, a par dos colegas na equipa portuense Alexis Borges e Daymaro Salina.
O guarda-redes está a ser a principal figura da equipa das 'quinas' no torneio, ao ponto de ter sido designado o jogador mais valioso nos jogos com a Bósnia e a Suécia, deixando quase sempre sentado no banco de suplentes o veterano Humberto Gomes, de 42 anos, que tem o dobro da idade do pivô Luís Frade, de 21, o jogador português mais jovem no Euro2020.
Antes do jogo inaugural, Humberto Gomes era o único atleta que tinha jogado na fase final do Europeu, em 2004, pois o pivô Tiago Rocha não chegou a atuar no torneio de 2006, apesar de ter sido convocado, reflexo da longa ausência de Portugal das grandes provas internacionais.
O ponta direito António Areia chega ao último jogo como o melhor marcador luso, com 25 golos, mas quase metade (12) através de livres de sete metros, enquanto o colega do lado oposto Diogo Branquinho é o mais concretizador em ações de campo, com 19 remates certeiros.
O pivô e o lateral esquerdo André Gomes representam uma nova geração de sucesso do andebol nacional, tendo sido peças nucleares das seleções que terminaram em quarto lugar no Europeu de sub-20, em 2018, e no Mundial de sub-21, no ano seguinte.
O sucesso de Portugal não pode ser dissociado do FC Porto, que empresta nove jogadores à seleção, ou seja, metade do grupo de 18 convocados, entre os quais Quintana e todos os intérpretes do modelo atacante 'sete contra seis', desenvolvido pelo treinador portista, o sueco Magnus Andersson.
Quando há dias lembrou a 'geração de ouro' do andebol português, da qual Carlos Resende, jogador com maior número de jogos (22) e golos (108) no Europeu, é a maior referência, Paulo Pereira observou que talvez a melhor geração pudesse estar a fazer o seu caminho no Euro2020. Não precisou de muito tempo para ter razão.
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