Quando um país espera 24 anos por um Grande Prémio, são vários os motivos que podem fazer da corrida um momento histórico. A possibilidade de, no regresso da Fórmula 1 a Portugal, Lewis Hamilton poder vir a conseguir o seu 92.º Grande Prémio, um recorde absoluto na modalidade, ultrapassando as 91 vitórias de Michael Schumacher, é um deles.
Depois de o piloto britânico ter conquistado a 97.ª pole position da carreira, depois de um primeiro dia de treinos dominado pelo colega de equipa, Valtteri Bottas, o cenário começava a desenhar-se na cabeça dos fãs, um exercício de imaginação relativamente fácil, não tivesse Hamilton vencido já sete corridas esta temporada, em onze possíveis, antes de chegar a Portimão.
Assim, da ficção à realidade foram menos de duas horas de distância.
A corrida no Autódromo Internacional do Algarve abriu de forma absolutamente louca com várias trocas de posição na frente e um toque de Max Verstappen a Sérgio Pérez, que obrigou o mexicano a ir à box logo na primeira volta. E abrindo-lhe, sem este saber, o prefácio perfeito para uma grande recuperação que culminaria na conquista de um sétimo lugar — já depois do piloto da Racing Point ter chegado a estar na última posição.
Quando na volta quatro a classificação colocava Carlos Sainz em primeiro, Bottas em segundo e Hamilton em terceiro, seguido por Norris, Verstappen e Kimi Raikonen, Portimão começava a cheirar a Monza, prova vencida por Pierre Gasly, da AlphaTauri, que se fez acompanhar por Sainz e Lance Stroll, da Racing Point, no pódio. Era outra forma de o regresso da F1 a Portugal ficar na história - e não de forma improvável, uma vez que era a primeira vez que decorria uma prova neste circuito exigente, com várias subidas e descidas, uma grande variedade de curvas e poucas zonas claras de ultrapassagem.
A ilusão de Monza durou poucas voltas, mera ficção causada por algumas gotas de chuva que caíram sobre o alcatrão de Portimão que obrigaram a uma abordagem mais cautelosa ao início da corrida por parte dos pilotos que partiam na frente e permitiram aos outros , nomeadamente Carlos Sainz, dar um pouco do ar da sua graça.
À 10ª volta o pódio já era o do costume, repartido entre Bottas, Hamilton e Verstappen. Dez voltas depois, o pódio mantinha-se, desta feita com o inglês à frente do finlandês rumo à sua 92ª vitória em Grandes Prémios, próximo a bater o recorde que Alain Prost já tinha conseguido no Estoril, quando também bateu, na altura, o recorde de maior número de Grandes Prémios, superando Jackie Stewart, e alcançando 28 vitórias - tudo isto, obviamente, a uma escala diferente.
A frente da corrida não sofreria muitas mais alterações, à exceção de uma ameaça da Ferrari, por parte de Charles Leclerc, em roubar a terceira posição a Verstappen — sem sucesso, mas que serviu de ponto afirmativo da Scuderia, que continua a 'afinar' os seus carros. Assim, a outra história deste Grande Prémio escrevia-se na sombra do número 92 , nos lugares de meia tabela.
Com Pérez, como já contámos; com Esteban Ocon, que conseguiu terminar a corrida em oitavo lugar, tendo deixado fugir a quinta posição depois da Renault ter adiado a ida à box do francês para a 55ª volta; foi Kimi Räikkönen, que chegou a recuperar 10 posições do 16.º lugar com que partiu da 'pole', apesar de o antigo campeão do mundo ter terminado em 11.º; foi Vettel, que correu de um 15.º lugar da grelha de partida para um 10.º que lhe permitiu amealhar pontos necessários para tentar inverter uma época para esquecer.
A todas estas batalhas de meio da tabela juntou-se ainda um sorriso da Williams, equipa que ainda não conseguiu somar qualquer ponto esta época, depois de uma sequência de pilotos ter ido às boxes e ter deixado George Russell na sétima posição da corrida durante alguns minutos, uma ilusão que terminou assim que o inglês teve de parar, tendo acabado a corrida na 14ª posição.
Pierre Gasly foi ainda outra das estrelas do dia ao ter conseguido um quinto lugar, depois de uma longa batalha com Daniel Ricciardo, da Renault, que não resistiu e terminou em nono lugar. Sainz, que chegou a liderar foi sexto, depois de várias batalhas no meio da tabela.
Lance Stroll foi o único piloto a não terminar a corrida em Portimão.´
Todas estas batalhas enriqueceram a discussão por pontos no Algarve e deram vida a uma corrida que, dê por onde der, peguemos em que ângulo for, não foge ao facto de Lewis Hamilton ter mostrados que os recordes existem para ser batidos. É ainda importante relembrar uma coisa: aos 35 anos, o recordista de pódios (162), de ‘pole positions’ (97) e de vitórias (92), está a mês e meio de igualar o recorde de Michael Schumacher em título de campeão do mundo de F1.
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