“Consegue fintar uma equipa inteira dentro de uma cabine telefónica”. É muito provável já ter ouvido esta frase que serve para catalogar, de forma por vezes depreciativa, alguns jogadores de futebol exageradamente habilidosos, que, embora façam magia com os pés, são inconsequentes no jogo em si e, por isso, rotulados de “brinca na areia”.

Fábio Simões, 26 anos, atleta de futebol freestyle, tem pouco de brincalhão, embora pareça executar um número circense que é feito com muita habilidade e precisão. Não finta nenhum adversário, é certo, mas é capaz de, em pouco mais de dois metros quadrados, fazer “malabarismo com a bola com qualquer parte do corpo”, revelou ao SAPO24 durante o Soccerex Europe, evento que discutiu a indústria do futebol, em Oeiras, e no qual marcou presença como animador da Liga Portugal.

O “qualquer parte”, significa “a cabeça, os pés, as transições da cabeça para os pés, as costas, pernas, pescoço, nuca, cara, costas, nariz ... enfim, todo o tipo de truques”, desvendou o freestyler profissional.

“O futebol freestyle é diferente do futebol. É como comparar patinagem artística com hóquei no gelo, duas modalidades em que ambas têm patins”, explicou.

Ri-se quando é descrito como “cromo dos toques” por aquilo que faz. Para quem não está bem a ver, explicamos. Um toque, dois toques, três toques, a perna passa por cima da bola num movimento semelhante ao saltar à corda, esférico para o ar, mata com o peito, desliza pela perna, sobe de novo e aconchega atrás nas costas e na nuca, o atleta ora salta, ora está sentado, de perna esticada, mais toques, peito do pé, pé de lado, pernas para o ar e ricochete na planta do pé.

Se por norma “o gordo vai à baliza”, o que dá o maior número de toques deveria ter, quase sempre, lugar cativo na linha da frente das escolhas do futebol de rua. Natural de Alverca, o mundo da bola do 11 contra 11 até começou por cativar Fábio Simões. “Joguei quando tinha nove anos”, revelou. Mas cedo percebeu que a sua arte era outra.

“Sempre gostei mais da parte artística do futebol”, recordou. “Comecei, com 13 anos a ver o Red Bull Street Style, juntamente com um amigo. Comecei a gostar da modalidade e arrisquei”, disse.

“Três minutos, dois jogadores, uma bola”

Bicampeão nacional (2010 e 2012) e com quatro mundiais nos pés (África do Sul 2010, Itália 2012, Brasil 2014 e Londres 2016), entre a elite mundial nunca passou a fase de grupos. "Nunca consegui estar entre os 16 melhores do mundo”, diz, referindo-se ao Campeonato organizado pela Red Bull, competição bianual que se disputa, este ano, entre 14 e 16 de novembro, em Miami, nos Estados Unidos da América.

Tal como o scouting observa talento alheio, o bicampeão nacional está sempre atento aos truques e malabarismos que se vão fazendo um pouco por todo o mundo na comunidade dos artistas com a bola. “Vejo muito no YouTube o que fazem”, reconheceu.

Antes de qualquer competição ou exibição, mais que inovar no número artístico ou “apresentar truques nunca feitos” procura ter “transições novas”, revelou. “A combinação e a passagem da bola da cabeça para o pé e vice-versa”, pormenorizou.

Recorda que a Final Mundial do Red Bull Street Style se desenrola sob o lema “três minutos, dois jogadores, uma bola”. “Temos três rounds (de 30 segundos cada)”, acrescentou. “A parte psicológica é muito importante, porque assistimos ao nosso adversário a entrar e a fazer o número e temos que, de seguida, fazer melhor. Temos que surpreender o júri”.

Se no tempo distante da escola para onde levava sempre “duas mochilas, uma com a bola e outra com os livros” e aproveitava “todos os intervalos que tinha”, hoje a realidade é diferente. Trabalha e treina “1h30, por vezes um pouco mais, todos os dias”, sublinhou. Um treino que acontece entre “as 16h00 e as 18h00” porque “de manhã o corpo ainda não está acordado”, sublinhou.

Fábio Simões está a recuperar de uma lesão e à espera que a Red Bull regresse a Portugal para organizar o campeonato nacional, para assim, voltar ao Mundial, competição organizada pela empresa de bebidas energéticas. Espera que tal aconteça para o ano.

Por fim, e porque se trata de uma atuação, quando questionado sobre se sabe quantos toques dá, rematou: “nunca contei”.

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