Frederico Varandas apresentou hoje os resultados da auditoria à gestão do Sporting, tema da primeira parte da conferência de imprensa realizada em Alvalade. Sublinhando que o relatório final ainda não foi entregue, o presidente do Sporting enumerou os pontos que considerou mais relevantes.
Começando pela contratação em 2018 da sociedade de advogados MRGA por 1,7 milhões de euros. "Gastámos menos com todas as outras sociedades de advogados em 16 anos", afirmou Varandas, acrescentando que "não há visibilidade" no clube do trabalho feito por esta empresa, existindo apenas referências a temas como "assuntos da presidência", "agenda de reunião", " contactos com o presidente" e "aconselhamento ao presidente". Na mesma informação, Varandas adiantou que a MRGA tinha como associado Alexandre Godinho, vogal da direção de Bruno de Carvalho, e que contratou o sogro do ex-presidente também para associado durante o ano de 2018.
O segundo ponto destacado referiu-se a uma empresa de brindes contratada para divulgação da marca Sporting na comunidade chinesa à qual foi paga 70 mil euros. "O departamento de merchandising não conhece empresa", referiu o presidente do clube.
Seguiu-se a referência ao acordo com o Batuque Futebol Clube de Cabo Verde visando o direito de preferência sobre sete jogadores não identificados. "Não existe relatório sobre esses jogadores. Valor de 230 mil euros não foi restituído".
"É legítimo as claques criticarem a exibição da equipa? É.Também é legítimo eu criticar a exibição das claques, nomeadamente nos últimos dois jogos"
O ponto seguinte visou o tema das claques e Frederico Varandas foi particularmente incisivo nas palavras que usou. Começou por recordar o acordo existente com as claques do clube que contempla 875 bilhetes grátis por jogo e 1000 bilhetes adicionais comprados ao preço mais baixo. Sendo este o contexto, a dívida das claques ao clube "passou de 115 mil para 746 mil euros, a quase totalidade da Juventude Leonina".
"É legítimo as claques criticarem a exibição da equipa?", questionou Varandas. " É.Também é legítimo eu criticar a exibição das claques, nomeadamente nos últimos dois jogos", afirmou. "Voltámos a receber ameaças intimidatórias na véspera de um jogo importantíssimo", revelou. "Nos anos 90 fiz parte da Juventude Leonina. Havia excessos mas um amor puro pelo clube. Um dar sem receber. Hoje não reconheço esse espírito. Vejo um negócio".
"Enquanto aqui estiver o SCP nunca mais será refém de quem quer que seja, nem de claques, nem de ninguém, ninguém acima do sócio anónimo que paga as quotas e compra bilhetes", assegurou.
A prioridade do clube, aliás, é precisamente investir no aumento de sócios pagantes, com um objetivo de crescimento de 50% dos 84 mil sócios pagantes existentes a 9 de setembro de 2018. "Temos 93 mil sócios com quotas em atraso e destes 39 mil não pagam há mais de 5 anos".
Frederico Varandas passou então a palavra ao vice-presidente Salgado Zenha a quem coube o diagnóstico financeiro ao clube. "Quando tomámos posse encontrámos o clube numa situação de tesouraria muitíssimo difícil com uma dívida a fornecedores de 40 milhões de euros, a maior parte a clubes e agentes. Herdámos o pagamento de metade do plantel profissional do Sporting. A gestão que foi feita em 2018 foi completamente irresponsável", afirmou. "Para se perceber a dimensão da irresponsabilidade, em janeiro de 2018 o SCP estava antecipar receitas futuras para comprar um jogador", acrescentou.
"Foi um all in mas o Sporting não é um jogo de poker".
Frederico Varandas retomou de seguida a palavra para falar de futebol. Recordou que desde 2013, o clube contratou 108 jogadores e que nos últimos dois anos teve "os dois maiores orçamentos da história tendo vencido uma Taça da Liga"."Sabem quantos destes 108 jogadores jogaram mais de 1000 minutos? 68. Foram comprados 38 diretos para a equipa B e nenhum chegou à equipa A".
"Herdámos um plantel desequilibrado com uma massa salarial muito desequilibrada", sintetizou.
O objetivo da atual direção é "ter um plantel equilibrado, em que haja grandes figuras mas em que todos os outros jogadores possam jogar e com uma redução de custos. Como? Trabalhando na formação e com critério na seleção das aquisições", defendeu, sublinhando que já foi essa a estratégia seguida no mercado de inverno. "Entraram cinco, saíram oito e reduzimos massa salarial em 10 milhões/ano".
A aposta na formação é para Frederico Varandas crítica, considerando que nos últimos dois anos houve desvio no investimento para a contratação. "Entraram 38 jogadores para a equipa B, os miúdos perderam espaço competitivo (...) nenhum dos 38 chegou à equipa A e a equipa B desceu de divisão e decidiu-se acabar com a equipa".
Além da formação, o presidente leonino também frisou a prioridade da atual direção no investimento em infraestruturas. Para exemplificar, referiu situações como a do relvado com mais de 16 anos onde o futebol profissional treina diariamente - sublinhando que "a duração máxima é 10 anos" ou a dos juniores que "treinam num campo sintético com buracos" .
"Esta direção não acredita na sorte, acredita no trabalho, esforço, conhecimento e inteligência. Implementámos uma direção técnica na academia, unidade de performance física coordenada por Francisco Tavares. Hoje um treinador tem toda a informação diária de todo o atleta, nunca se tinha feito isto. (...) vamos construir mais quatro ou cinco campos. Nem Roma nem a Academia se constroem num dia. Estas medidas vão ter frutos a médio e longo prazo. Não se compra na formação, semeia-se e depois colhe-se".
A fechar a conferência de imprensa, Frederico Varandas colocou ênfase na ideia de que a direção "tem um rumo" e que o clube precisa de estabilidade. "Não se vence à custa do grito, na base da ameaça, com demagogia, com venda de ilusões. As ilusões desiludem sempre as pessoas quando a realidade bate à porta. Mas também não se vence a bater com a mão no peito no dia de jogo quando se trabalha mal durante a semana. (...) A camisola tem sempre obrigação de ganhar, mas as camisolas não vencem jogos. É a qualidade que nos faz ganhar, a qualidade vem do trabalho sério e competente. Sem estabilidade ninguém vence".
"Um mentiroso compulsivo será sempre um mentiroso compulsivo"
Só na fase de perguntas dos jornalistas é que Frederico Varandas se referiu a Bruno de Carvalho pelo nome quando questionado sobre a reação ao livro publicado pelo ex-presidente: "Um mentiroso compulsivo será sempre um mentiroso compulsivo. O senhor Bruno de Carvalho já obrigou duas vezes os sócios do Sporting a sair de casa para lhe dizer que o lugar dele é em casa e longe do Sporting".
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