Marc Márquez já não está na luta por um título mundial desde 2020, ano em que a pandemia da COVID-19 veio mudar os principais candidatos ao trono no MotoGP.
Uma queda, que lhe partiu um braço, no início de 2020 levou a que o espanhol fizesse quatro cirurgias para regressar, hipotecando por completo a vitória nesse ano. A partir daí, e até hoje, nunca mais foi o mesmo. Em 2019, no ano do seu último título mundial, Márquez venceu doze das 19 corridas do campeonato ficando na frente de Andrea Dovizioso por 151 pontos.
Os sinais do tombo da Honda não se mostraram a partir de 2020, mas começaram sim a ser sentidos mais cedo. Desde a chegada de Márquez que ninguém conseguiu bater o piloto espanhol em iguais condições. Entre os anos de 2013 e 2018, Dani Pedrosa foi a concorrência mais feroz a Márquez. O piloto espanhol, bi-campeão do mundo na categoria de 250cc, teve o seu melhor resultado em 2013 (ano de estreante no MotoGP de Márquez) quando foi terceiro no campeonato do Mundo.
A partir daí, os resultados começaram a cair. Um foco maior do construtor japonês em Marc Márquez fizeram com que a mota, a Honda RC213V, fosse desenvolvida apenas para um piloto, fazendo com as construtoras rivais ultrapassassem o construtor japonês. O facto de Marquéz ter, nos últimos anos, passado mais tempo lesionado do que a 100% fez sobressair ainda mais o défice da mota.
Jorge Lorenzo, cinco vezes campeão do Mundo, chegou em 2019, mas durou apenas uma temporada, depois de ter sido forçado a deixar a competição. Apesar de um início de temporada relativamente decente, Lorenzo sofreu uma queda durante a primeira sessão de treinos livres do GP de Assen e fraturou uma vértebra, o que o afastou dessa corrida e, posteriormente, faltou às três rondas seguintes para recuperar. Quando regressou, afirmou estar a correr sob a pressão de dores intensas, nunca conseguindo controlar a mota. Foi a última gota, em Valência, numa conferência de imprensa, informava que se iria reformar das competições, tendo depois ajudado a Yamaha como piloto de desenvolvimento.
Já em 2020, com Alex Márquez e sem o irmão Marc, e 2021 e 2022 com Pol Espargaró e Marc Márquez a meio gás revelaram-se os mesmo problemas: uma direção errada no desenvolvimento da mota. As vitórias de Márquez (foram três) em 2021 apenas se podem atribuir ao génio que é o piloto espanhol em cima de uma mota. Só os seus dotes fizeram com que a mota japonesa conseguisse alcançar o lugar mais alto do pódio.
Hoje em dia, a Honda RC213V tem um défice aerodinâmica muito grande, comportamentos erráticos, não dando, por exemplo, feedback ao piloto de que algo de errado esteja a acontecer. Estes défices traduzem-se num maior cansaço dos pilotos, logo tornam-se mais propícias as quedas. Em 2023, até ao início de outubro, Márquez já tinha caído 20 vezes (dessas, cinco foram no GP da Alemanha), enquanto o seu companheiro Joan Mir (campeão do mundo em 2020) tinha caído 18 vezes.
Assim, a movimentação de Marc Márquez para outra equipa não parece tão estranha. Contudo não deixa de ser surpreendente a escolha da equipa: a Gresini Racing. Uma equipa satélite da Ducati, o que significa que as motas com que competem tenham um ano. Ou seja, para 2024, Marc Márquez terá ao seu dispor o modelo de 2023 utilizado pelos pilotos da fábrica italiana.
Mas, como é a Gresini Racing e o que já fez no MotoGP?
A Gresini, no início do século era a equipa satélite da Honda, que nos primeiros títulos mundiais de Valentino Rossi tinha Sete Gibernau, que em 2004 batalhou com o famoso piloto italiano pelo título. Mais recentemente, a Gresini foi a equipa escolhida pela Aprilia no seu regresso ao MotoGP.
Com a chegada da fábrica italiana, ainda tentaram manter a Gresini como equipa satélite, mas a Gresini acabou por aceitar um oferta mais lucrativa da Ducati. Em 2022, venceram quatro corridas com Enea Bastiannini (agora piloto de fábrica da Ducati). Em 2023, os picos não têm sido tão altos, mas a equipa continua muito competitiva, com um vitória na corrida de Sprint de Aléx Márquez, irmão de Marc e que para 2024 repetem a dupla da Honda em 2020.
E Miguel Oliveira? Qual o papel do piloto português no meio desta mudança de Marc Márquez?
Miguel Oliveira chegou ao MotoGP através da KTM, primeiro pela equipa satélite na altura, a Tech3, e depois de dois anos deu o salto para a equipa oficial do construtor austríaco. Para todos os efeitos, foram quatro anos a bordo da KTM RC16. Em 2023, o piloto português mudou-se para a RNF MotoGP Team, a equipa satélite da Aprilia.
A saída de Márquez para a Ducati abriu um lugar muito cobiçado na Honda. Correm rumores de que o Falcão, como é conhecido o piloto português, irá mudar para o construtor japonês, a Honda. E essa suspeita cresceu de tal forma que, ao canal oficial do MotoGP, esclareceu que é um privilégio ser considerado para tal, mas que tal lugar acarreta várias responsabilidades.
“Hoje em dia no MotoGP o facto de se ter um lugar numa equipa de fábrica não significa que se vai ter um melhor desempenho. Temos visto nos anos mais recentes em que os pilotos que não são de fábrica, que estão em equipas satélite com motas de fábrica ou não, conseguem estar no top 5 do campeonato, ou até no top 3", começou por dizer Oliveira.
"É também mais trabalho e responsabilidade para o piloto, mas imagino que o objetivo de qualquer piloto é estar numa equipa de fábrica a 100%. Penso que um lugar de fábrica ajuda o piloto no sentido em que ele pode crescer e ter o melhor apoio quando talvez não tenham o melhor pacote de mota. Para ser honesto, é um privilégio ser considerado por um construtor com a Honda. O objetivo de todos os pilotos é estar num lugar de fábrica numa mota de fábrica, com perspetivas apropriadas de crescer juntos. Por isso quero que isso aconteça o mais rápido possível. De qualquer forma, com a Aprilia será um prazer”, concluiu Miguel Oliveira na sua entrevista ao canal oficial MotoGP.
Com estas declarações, Oliveira deixa assim também em aberto um possível lugar na Aprilia oficial, mas, para tal, Aleix Espargaró ou Maverick Viñales teriam de sair da mota da marca italiana.
*Texto e pesquisa por David Pacheco
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