"Afinal havia outra", revelava, há uns anos, uma conhecida cantora popular aos portugueses. E, acrescentava ela, que sem nada saber, sorria. Esta mesma desiludida e chocada constatação, poderão ter, daqui a uns meses, alguns fãs da NBA mais distraídos, aqueles que pensam que esta temporada vai ser apenas um longo e aborrecido prelúdio para as quartas Finais consecutivas entre Cleveland Cavaliers e Golden State Warriors, que esta época já está decidida e que poucos motivos têm para ver os jogos este ano.

Fãs que, seguramente, perderam estas (pouco mais de) duas primeiras semanas de ação. Porque, sim, o desfecho da temporada (salvo alguma lesão, bate na madeira) pode até estar decidido e, em circunstâncias normais, ninguém deverá derrotar os Warriors e estes serão campeões de novo. Mas, até isso acontecer (se isso acontecer), afinal há muitas razões para acompanhar mais uma época da melhor liga de basquetebol do mundo:

Os melhores rookies dos últimos anos

Esta é uma das melhores colheitas de caloiros dos últimos anos, com muitos nomes a fixar e vários jogadores que serão estrelas nesta liga: Jayson Tatum (um talento ímpar, com um arsenal ofensivo como poucos, com uma confiança e maturidade raras para a idade e que está a mostrar porque os Celtics não se importaram de trocar a primeira escolha no draft pela terceira), Ben Simmons (tecnicamente não é desta colheita, mas estreou-se este ano, depois de ter perdido a época passada por lesão; é um triplo-duplo ambulante e um encaixe de pesadelo, um jogador com altura de poste e visão de jogo de base), Lonzo Ball (outro triplo-duplo ambulante, um miúdo com uma capacidade de passe que não se via desde Jason Kidd e Steve Nash, mas que, infelizmente, devido ao seu demente pai, está a sofrer um escrutínio ridículo e a jogar com um alvo nas costas), Dennis Smith Jr (um Damian Lillard em potência, que foi a nossa aposta para surpresa no prémio de Rookie do Ano), D’Aaron Fox, Lauri Markkanen, Josh Jackson ou Malik Monk. Sem esquecer Markelle Fultz, o jogador escolhido na primeira posição do draft, que já sucumbiu à maldição dos Sixers e está lesionado na sua época de estreia, mas que é outro dos maiores talentos desta safra.

Os jovens Celtics

A propósito de jovens, os dos Boston Celtics estão a dar muito boa conta de si depois da horripilante lesão de Gordon Hayward. O rookie Jayson Tatum e o jogador de segundo ano Jaylen Brown foram obrigados a assumir um papel principal na equipa e estão a aproveitar a oportunidade da melhor forma. Se Gordon Hayward recuperar a 100% e regressar ao seu nível All-Star, esta lesão até poderá ter sido um mal que veio por bem e, a longo prazo, ter ajudado a equipa. Acompanhar este verdadeiro curso intensivo de competição que os miúdos de Boston estão a ter, e ver como se estão a sair tão bem, está a ser uma das melhores coisas desta época.

O Greek Freak Show

Até os fãs mais distraídos devem estar a par desta. O jogador grego dos Milwaukee Bucks está a fazer um dos melhores inícios de época de sempre (31.3 pontos, 10.6 ressaltos e 5.3 assistências de média nos primeiros oito jogos) e a subir rapidamente na hierarquia de estrelas da liga. Se no ano passado assistimos ao Russell Westbrook Show, este é o ano do Greek Freak Show.

As novas personagens do Russell Westbrook Show

A propósito desse premiado espectáculo da época passada, Paul George e Carmelo Anthony são os novos co-protagonistas. E está a correr bem. Sim, Russell Westbrook, Paul George e Carmelo Anthony estão na mesma equipa e, ao contrário do que todos pensávamos, não está a correr mal.

Westbrook está a passar mais a bola e a deferir para os seus colegas (até passou a Carmelo para o último lançamento!), Paul George está a jogar de forma muito eficiente e a aproveitar da melhor forma os espaços abertos pelos outros dois e Carmelo está a jogar na sua versão FIBA. Para já, tudo corre bem para os Oklahoma City Thunder, mas, de qualquer das formas, corra bem ou mal, é um espectáculo imperdível.

Milos Teodosic

Já vos dissemos que a estrela do basquetebol europeu foi para a NBA?

A ressurreição de Dwight Howard

Parece que foi no século passado, mas a verdade é que não foi assim há tanto tempo que Dwight Howard era um poste dominante na liga. Dominar pode ser exagerado para o que anda a fazer este ano, mas pelo menos Howard voltou a ser relevante. Depois de anos perdidos (ora por lesões, ora por passagens infelizes por várias equipas), reencontrou um sistema onde encaixa bem e uma equipa que aproveita os seus pontos mais fortes, e está a ser um dos responsáveis pela boa época dos Charlotte Hornets.

Aaron Gordon

Que a qualquer momento pode fazer coisas destas:

Jerami Grant

Que, a qualquer momento, pode fazer coisas destas:

Os Clippers

Os Los Angeles Clippers continuam bons e as notícias da sua derrocada foram manifestamente exageradas. Perderam Chris Paul, mas têm assegurado a produção na posição por comité (entre Milos Teodosic, Patrick Beverley e Austin Rivers) e com Blake Griffin (que é um excelente passador) com um papel mais central no ataque. E este ano têm, finalmente, o extremo (small forward) que faltou sempre nos anos anteriores. Já esperávamos que os Clippers fossem melhores do que muitos auguravam, mas estão a superar as expectativas.

Os Grizzlies

E os Memphis Grizzlies idem. Depois de anos a jogar “na marra”, com um estilo de jogo lento e da velha guarda, a equipa do Tennessee reinventou-se com jogadores jovens a atléticos e reconstruiu-se muito mais rápido do que alguém imaginava. Esperava-se que esta fosse uma temporada de transição e afinal parece que vamos ter de continuar a contar com eles. Grit’n’… não, espera, agora é Grit’n’Run’n’Shoot.

Milos Teodosic

Já tínhamos dito que Milos Teodosic está na NBA?

No fim de contas, em junho, podemos (devemos?) mesmo acabar por ter o quarto ato de “Cavaliers vs Warriors” e a equipa de Stephen Curry, Kevin Durant e companhia a levantar o troféu Larry O’Brien. Mas, até lá, há muita coisa para ver e tanta coisa para apreciar e desfrutar. Até podemos saber como termina este filme, mas pelo meio há tantas cenas imperdíveis e que vale a pena assistir... Estas são apenas algumas delas. Estas são algumas das razões para não perder mais uma temporada do melhor basquetebol do mundo. Qual é a vossa?

Márcio Martins já foi jogador, oficial de mesa, treinador e dirigente. Atualmente, é comentador e autor do blogue SeteVinteCinco. Não sabe o que irá fazer a seguir, mas sabe que será fã de basquetebol para sempre.