A propósito de uma das equipas revelação desta temporada (uma equipa sobre a qual já escrevemos aqui e que também destacámos no nosso mais recente direto), uma das coisas mais surpreendentes tem sido o seu banco. E uma das maiores revelações desse banco é Fred VanVleet.

Fred VanVleet não é o jogador mais talentoso da equipa. Nem o mais alto. Nem o mais rápido. Não é, seguramente, o mais conhecido. Se calhar, alguns de vocês que estão a ler este artigo nem sabem quem é Fred VanVleet. Mas ele é, provavelmente, o jogador mais determinado dos Toronto Raptors. 

Depois de uma carreira universitária na pequena e pouco conhecida universidade de Wichita State, VanVleet não ouviu o seu nome ser chamado por nenhuma equipa no draft de 2016. Os Raptors ofereceram-lhe uma vaga no seu plantel na Summer League e ele aproveitou da melhor forma a oportunidade. As suas boas prestações nesse Verão convenceram os dirigentes de Toronto a oferecer-lhe um contrato.

Para essa temporada de 2016-17, a formação canadiana já tinha 14 jogadores sob contrato e quando, em Julho, anunciaram que VanVleet tinha ficado com a última vaga no plantel, poucos prestaram atenção. E menos ainda esperavam alguma coisa dele. VanVleet era o quarto base do plantel (um plantel que já tinha Kyle Lowry, Cory Joseph e Delon Wright) e parecia destinado a um lugar no fundo do banco.

Depois de uma temporada de rookie em que andou a saltar entre os Raptors e a sua filial na D-League, os Raptors 905, e depois de ter ajudado estes a vencer o título da liga secundária da NBA, este ano teve nova oportunidade com a saída de Cory Joseph. Aos poucos, foi ganhando um lugar na rotação e hoje não só é um dos habituais dessa rotação e um jogador fundamental na melhor segunda unidade da liga, como é um jogador que já por várias vezes fechou jogos ao lado dos titulares. 
Está com médias de 8.2 pontos, 3.1 assistências e 2.5 ressaltos na temporada. Não são números de arregalar o olho, mas, em cerca de 20 minutos por jogo de média, é uma contribuição sólida e fiável do jovem base. E a sua liderança na segunda unidade tem sido fundamental para o sucesso da equipa. Como ele próprio é o primeiro a admitir, “não sou o atleta mais extraordinário, eu sei disso, mas o meu carácter, o meu QI, a forma como penso o jogo, essas são as minhas forças”.

Fred VanVleet é o mais recente caso de um jogador que não se deixa derrotar pelas probabilidades e, aparentemente do nada e quando pouco o fazia prever, conquista um lugar na liga. O mais recente conto de fadas da NBA. Mais uma história como a de Isaiah Thomas, uma das mais inspiradoras de sempre e que recordámos no nosso primeiro artigo aqui no SAPO24.

Ou como a de Jonathon Simmons, que tem um dos percursos mais improváveis de sempre e transformou um try-out com a filial dos San Antonio Spurs na D-League, os Austin Toros, numa carreira na liga.

Simmons jogava numa liga semi-profissional no Texas e andava a pensar desistir do sonho de ser jogador profissional (a sua mãe dizia-lhe para investir na sua carreira de barbeiro, que era uma opção mais segura), quando viu o anúncio que os Toros iam fazer um try-out aberto a todos. Simmons pagou 150 dólares para se inscrever nesse treino de captação e acabou por conquistar um lugar na equipa. Esse lugar na equipa valeu-lhe, dois anos mais tarde, uma chamada para os San Antonio Spurs. E duas boas temporadas nos Spurs valeram-lhe este Verão um contrato de 20 milhões de dólares por 3 anos com os Orlando Magic.

A de Wes Matthews também é um bom exemplo de perseverança e de agarrar a oportunidade com unhas e dentes. Outro jogador que não foi escolhido no draft e entrou na NBA pela porta das traseiras. Viu passar as 60 escolhas do draft de 2009 sem ouvir o seu nome, fez duas Summer League nesse Verão (uma pelos Utah Jazz e outra pelos Sacramento Kings) a tentar ganhar um lugar numa equipa. Conseguiu um no plantel dos Jazz para a temporada de 2009-10, mas apenas num contrato de um ano. 
A oportunidade bateu à porta quando as lesões assolaram a equipa. E Wes agarrou-a.

Com Deron Williams, Kyle Korver e CJ Miles de fora, Jerry Sloan foi obrigado a alinhar com um backcourt composto por dois rookies, Eric Maynor (que tinha sido escolhido na 20ª posição do draft desse ano) e Wes Matthews. O jovem shooting guard deu tão boa conta do recado que Jerry Sloan promoveu-o a titular para o resto da época e os Portland Trail Blazers ofereceram-lhe um contrato de 34 milhões de dólares por 5 anos no final dessa temporada.

E como esquecer a Linsanity, que tomou a liga (e os nossos corações) de assalto em 2013? Quando falamos de contos de fadas, o de Jeremy Lin é dos melhores de sempre. Depois de fazer a universidade em Harvard (o que, só por si, já não augurava muitas chances de ter uma carreira na NBA) também não escolhido no draft. Andou pela Summer League e pelo fundo do banco dos Golden State Warriors durante dois anos, foi dispensado pelos Warriors, foi contratado e dispensado ainda na pré-epoca pelos Houston Rockets e contratado pelos New York Knicks para preencher temporariamente a lacuna deixada por uma lesão de Iman Shumpert.

Até que, também com Baron Davis, Carmelo Anthony e Amare Stoudemire lesionados, um desesperado Mike D’Antoni atirou Lin às feras. E Lin assinou uma das mais improváveis e inacreditáveis séries de jogos da história da NBA. Nos 12 jogos seguintes, como titular, fez médias 22.5 pontos e 8.5 assistências e levou os Knicks a um recorde de 9-3. Passou, do dia para a noite, de desconhecido a sensação da liga. No verão, os Rockets, que o tinham dispensado anteriormente, ofereceram-lhe um contrato de 25 milhões de dólares por 3 anos.

A propósito da Linsanity, Kobe Bryant afirmou, na altura, que “jogadores destes, que surgem a jogar tão bem, não costumam vir do nada. Parece que vêm do nada, mas se olharmos para trás, a sua habilidade já estava lá desde o início. Provavelmente, apenas não foi notada”.

Estes são, afinal, jogadores que tiveram que trabalhar um pouco mais para ver o seu talento reconhecido. Ou muito mais. Jogadores que não desistiram. E não deixaram de acreditar que conseguiam jogar na NBA. Podem não ter entrado pela porta principal, mas aqui estão eles.

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