Desde a saída de Sam Hinkie, em abril de 2016, e a estreia oficial de Jimmy Butler, esta quarta-feira, passaram 952 dias. Mas aquilo que passou a ser apelidado de "Processo" é ainda mais longo. Contratado pelos 76ers em 2013 para o cargo de general manager, Hinkie foi o responsável pela reconstrução da equipa de Philadelphia, apostando na estratégia vulgarmente conhecida por "tanking" com o objetivo de conseguir mais probabilidades de obter melhores escolhas de draft. Joel Embiid (3.ª escolha em 2014) e Ben Simmons (1.ª escolha em 2016) foram o resultado desse esforço, que acabou com a saída do antigo GM por falta de resultados. Nerlens Noel (6.ª escolha em 2013) e Jahlil Okafor (3.ª  escolha em 2015) também fazem parte dessa renovação iniciada por Hinkie, embora sejam tiros ao lado. Por fim, Markelle Fultz (1.ª escolha de 2017) ainda está longe de poder ser dado como erro de casting, apesar do início de carreira pouco prometedor.

Contas feitas ao "Processo", salvam-se o base Simmons (22 anos) e o poste Embiid (24 anos). Com essa dupla na liderança, o conjunto orientado por Brett Brown chegou às meias-finais da conferência Este na época passada, onde foi derrotado pelos Boston Celtics em cinco jogos (1-4). Este ano, com a saída de LeBron James para os Los Angeles Lakers, aumentou o apetite das melhores equipas do Este. Os Celtics, sem lesões, e os Toronto Raptors, com Kawhi Leonard, sonham com a ida às Finais da NBA. E Philadelphia decidiu apostar tudo.

Depois de terem falhado as contratações de Kawhi e do próprio LeBron no verão, o novo GM e ex-jogador Elton Brand viu uma oportunidade de ouro em Jimmy Butler. O extremo (29 anos) mostrava sinais de descontentamento em Minneapolis e o responsável dos 76ers conseguiu desbloquear uma troca sem envolver as duas principais figuras da equipa. Está, assim, encontrado um novo «Big 3» na NBA: Ben Simmons, Jimmy Butler e Joel Embiid.

Para já, os 76ers conseguem reunir no seu plantel o que apenas os Celtics têm, no Este: três jogadores de nível All-Star. Simmons, Butler e Embiid representam um capital de talento comparável ao que Brad Stevens tem em Kyrie Irving, Gordon Hayward e Al Horford. Os Raptors, por exemplo, contam apenas com duas super-estrelas em Kyle Lowry e Kawhi Leonard. E comparando os trios mais cintilantes de Philadelphia e Boston, até se poderá dizer que os primeiros têm vantagem, uma vez que, olhando apenas para a qualidade individual e sem o contexto das respetivas equipas, Butler e Embiid são melhores jogadores do que Hayward e Horford.

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Jimmy Butler (Esq) e Joel Embiid (Drt) dos Philadelphia 76ers. créditos: Rodrigo Mendes | Mendes

Desculpa, Simmons, mas ainda tens que comer muita papinha para chegar ao nível do Kyrie.

Ou seja, no papel até podem ser melhores. No entanto, e apesar de o talento individual ser meio caminho andado para o sucesso numa liga como a NBA, a história já provou que só isso não chega. E é aqui que os 76ers ainda têm muito que pedalar. Em comparação com Celtics e Raptors, principais adversários pelo trono do Este, falta-lhes experiência, sobretudo de playoffs, e tempo. Tempo que não têm. A época está em andamento e o "training camp" para adaptar Jimmy Butler a uma nova realidade vai ser feito em plena competição.

Há dúvidas sobre o encaixe entre as três estrelas dos 76ers. Simmons é um base com visão de jogo e atleticismo acima da média, mas que não lança de distâncias superiores a três metros do cesto, e Embiid é um poste dominador, com "skills" de base e bons fundamentos para jogar de costas para o cesto, que invariavelmente se afasta da área restritiva para tentar o lançamento exterior. A equipa pedia um "atirador" nato, coisa que Jimmy Butler não é (média de carreira de 34,1% nos lançamentos de três pontos), ainda que acrescente mais-valia noutras áreas em que os 76ers estavam deficitários, como a tal experiência, o ataque a partir do perímetro, a defesa de elite e a capacidade de ser decisivo nos momentos finais da partida ("clutch").

A pensar nessa falta de tiro exterior, o treinador Brett Brown abdicou da experiência falhada de colocar Markelle Fultz no cinco inicial e promoveu o regresso do veterano J.J. Redick. E com as saídas de Robert Covington e Dario Saric para os Timberwolves, envolvidos na troca de Butler, o extremo Wilson Chandler também passa a ocupar uma vaga entre os titulares. Ou seja, o banco, que já era curto, fica ainda mais reduzido. Markelle Fultz, T.J. McConnell e o "rookie" Landry Shamet, todos bases, Mike Muscala e Amir Johnson, ambos postes, são os elementos do banco de suplentes que podem entrar na rotação. Curtíssimo e desequilibrado. Não é por acaso que já se fala do interesse da equipa em extremos e - tcharaaan - "atiradores", como Kyle Korver (Cleveland Cavaliers), Courtney Lee (New York Knicks) ou Carmelo Anthony (Houston Rockets).

Por fim, há uma questão que se levanta e que não é tangível: os egos. Jimmy Butler mostrou ter uma personalidade bipolar, passando de atleta que subiu a pulso até ao topo da liga norte-americana a diva que falta a jogos e exige ser trocado. Joel Embiid é o rei das provocações nas redes sociais — o Twitter colocou-o no seu Hall of Fame, recentemente — e não se coíbe de dizer o que pensa, sem filtros. E Ben Simmons criticou a sua própria ausência do All-Star Game do ano passado, que era a sua época de estreia na liga. Os egos são tão grandes quanto o talento do trio e harmonizar isto tudo não vai ser tarefa fácil.

Como já referimos, os 76ers não têm tempo. Até porque o contrato de Jimmy Butler termina no final da temporada. Este "aluguer" por um ano é uma aposta de risco que, no melhor cenário, pode terminar com a renovação do contrato do extremo ex-Timberwolves e a química fora de campo das três estrelas a resultar em vitórias dentro das quatro linhas. E os fãs de Philadelphia nem sequer querem pensar nos piores cenários. O apelo "Trust the Process" foi-lhes apresentado. Eles foram pacientes e confiaram. Agora, que o "Processo" terminou, exigem resultados.

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