Em 2011, foi o jogador mais jovem de sempre a vencer o prémio de MVP (Jogador Mais Valioso) da NBA. Derrick Rose tinha 22 anos, nos playoffs desse ano liderou os Chicago Bulls até à final da Conferência Este e o céu parecia ser o limite para o jovem base.
 Sete malfadadas temporadas e quatro lesões graves nos joelhos depois, muito longe do nível dessa época de MVP e incapaz de se manter livre destas, está afastado da sua atual equipa, os Cleveland Cavalierse a ponderar a reforma antecipada. Aos 29 anos, poderá dar-se o fim da carreira de um dos maiores talentos da última década (e se a lista de mazelas que teve de suportar ao longos destes anos é desmoralizante só de ler, imaginem para quem teve de viver a mesma).

É uma pena que palavras como “microfratura”, “menisco” ou “rutura do ligamento anterior cruzado” sejam tão familiares para os fãs da NBA, mas, infelizmente, as lesões fazem (e farão sempre) parte do jogo. Enquanto Rose pondera se já chega, evocamos aqui a memória de outros grandes talentos que, infelizmente, se perderam para as lesões:

Bill Walton

Depois de uma carreira universitária em UCLA, sob o comando do lendário treinador John Wooden, recheada de sucessos e títulos, Walton foi selecionado pelos Portland Trail Blazers na primeira escolha do draft de 1974. Um jogador de 2,13m com uma técnica e uma visão de jogo raras para alguém da sua altura (ainda mais naqueles tempos), estabeleceu-se desde logo como um dos mais talentosos postes da liga. E também como um dos mais frágeis, com problemas nos pés desde o início da carreira.

Em 77 e 78, conseguiu manter-se suficientemente saudável para levar os Blazers ao único título da sua história (em 77) e ser o MVP da temporada (em 78). Mas nessa época, sofreu a primeira de várias lesões graves nos pés e passou os três anos seguintes lesionado.
 Em 86, como suplente e ao serviço dos Boston Celtics, ainda conquistou o prémio de Melhor Sexto Homem e mais um título de campeão, mas um jogador que podia ter sido um dos melhores jogadores da sua geração terminou a carreira com o recorde da NBA de “mais jogos perdidos por lesão”.

Bill Walton créditos: 2017 Getty Images

Ralph Sampson

Outro poste que entrou na liga com (justificadas) altíssimas expectativas. Com 2,24m e uma agilidade ímpar para um jogador do seu tamanho, formou, ao lado de Hakeem Olajuwon, as famosas Torres Gémeas de Houston que guiaram os Rockets às Finais de 1986.
Mas lesões recorrentes nas costas e nos joelhos descarrilaram completamente a sua carreira. Depois de três temporadas nos Rockets com médias de mais de 20 pontos e 10 ressaltos e depois de três operações aos joelhos, ainda jogou durante mais 8 temporadas, mas muito longe do nível anterior (e em 5 delas fez apenas 29 ou menos jogos). Para a história ficou aquele vislumbre do que podia ter sido e um dos maiores “ses” da história da liga.

Sam Bowie


Bowie ficou para a história como o jogador que foi escolhido à frente de Michael Jordan no draft de 1984. Mas, na altura, a escolha não foi tão absurda como o tempo veio a mostrar. Os Blazers já tinham Clyde Drexler (que jogava na mesma posição de Jordan) e Sam Bowie era um dos melhores postes da NCAA. Junte-se a isso a importância que um “big man” tinha naqueles tempos e, com o estilo de jogo que se praticava então, a diferença que um poste podia fazer, e a escolha tinha legítima justificação.
Para além disso, em Portland não podiam adivinhar que ele ia passar mais tempo no estaleiro do que a jogar. Mas o potencial e o talento estavam lá e, se não fossem as lesões, Bowie não seria apenas recordado como o homem selecionado antes de Michael Jordan.

Grant Hill

Depois de uma carreira muito bem-sucedida na Universidade de Duke, Grant Hill chegou à NBA em 1994 rotulado como “o próximo Michael Jordan”. E, durante seis temporadas ao serviço dos Detroit Pistons, não defraudou as expectativas. Afirmou-se como um dos melhores e mais completos jogadores da liga, foi várias vezes All-Star e dominou a temporada de 1999-2000 com médias de 25.8 pts, 6.6 res e 5.2 ast.

Contudo, no final dessa temporada, começaram os problemas. Jogou com uma lesão no tornozelo nos últimos jogos da época e na primeira ronda dos playoffs e os Pistons trocaram-no para os Orlando Magic nesse verão. Com os Magic, os problemas no tornozelo agravaram-se e Hill perdeu 292 jogos nas quatro épocas seguintes. Em 2003, perdeu toda a temporada após uma cirurgia para fazer uma reconstrução do tornozelo.

Após esse procedimento, teve uma segunda vida na liga (ainda foi All Star em 2005) e acabou por se reinventar como um bom role player e ter uma carreira que durou até aos 40 anos. Mas perdeu os melhores anos da carreira e nunca mais voltou ao nível Hall of Fame de antes.

Anfernee “Penny" Hardaway

Se Grant Hill era o próximo Michael Jordan, Penny era o próximo Magic Johnson. Escolhido na 3ª posição do draft de 1993 pelos Golden State Warriors e trocado nessa mesma noite para os Orlando Magic (por Chris Webber), prometia formar uma dupla com Shaquille O’Neal para (como Magic e Kareem nos anos 80) dominar a liga durante muito tempo. E nos primeiros anos tudo caminhava nesse sentido. Na sua segunda época, ao lado de Shaq, levou os Magic até às Finais de 95 e, no ano seguinte, foram até à final de conferência (derrota com os Bulls dos 72-10).

 Mas a partir daí tudo começou a desmoronar. O’Neal trocou os Magic pelos Lakers no verão de 96 e, no ano seguinte, Penny teve uma lesão devastadora no joelho que o fez perder 63 jogos.
 Quando voltou, tinha perdido muita da sua capacidade atlética e não era o mesmo jogador. No resto da carreira os problemas físicos foram-se agravando e as lesões nunca mais o abandonaram. Não fosse isso e teria sido, provavelmente, um dos melhores bases de sempre.

Shaun Livingston 


Sim, Livingston continua a jogar e até ganhou um título na última época. Não fosse a horripilante lesão que sofreu em 2007 (uma das mais horripilantes de sempre; se viram, sabem do que falamos, se nunca viram, não vejam), em vez de ser “apenas” um suplente e um role player, poderia ser uma das estrelas numa equipa campeã.

Naquela fatídica jogada em fevereiro de 2007, Livingston deslocou a rótula, fez uma luxação da articulação do joelho, fraturou a tíbia, rompeu o ligamento anterior cruzado, o ligamento posterior cruzado e o menisco lateral. Os médicos disseram-lhe que a perna poderia ter de ser amputada e foram precisos meses de fisioterapia só para voltar a andar. Que hoje jogue na NBA, seja a que nível for, é perto de um milagre.

Brandon Roy


Rookie do ano em 2006-07 e três vezes All Star nas suas quatro primeiras temporadas, era um dos melhores shooting guards da liga e estava a caminho de ser uma das suas maiores estrelas.
 Até aos joelhos começarem (rapidamente) a degenerar-se e a perder cartilagem. Na sua quinta temporada, jogou apenas 47 jogos e, na sexta (em 2011-2012), acabou por se retirar, quando tinha apenas 27 anos. 
Ainda tentou um regresso à liga na temporada seguinte, em 2012-13, ao serviço dos Minnesota Timberwolves, mas essa tentativa durou apenas 5 jogos.

Todavia, o número 5 nos dias de hoje não representa uma reminiscência de uma temporada em que mal conseguiu jogar. Passados cinco anos, aos 32, o jogador deu lugar ao treinador (no Liceu Garfield, na sua terra natal de Seattle). Se o seu corpo não o deixou explanar o seu talento dentro de campo, agora ajuda jovens talentos fora dele.

Yao Ming

Outra primeira escolha do draft amaldiçoada. Neste caso, a de 2002. Ao fim de três temporadas, o gigante chinês já era um dos melhores postes da liga e parecia não haver teto para aquilo que podia fazer. A não ser o teto que o seu corpo impôs.

Yao começou a ter problemas nos pés na sua quarta época. Primeiro uma osteomielite no dedo grande, que o fez perder grande parte dessa temporada. Depois, uma fratura num osso do pé na época seguinte. A seguir, uma fratura na rótula.

Ao fim de apenas 7 anos na NBA (sempre ao serviço dos Houston Rockets) e quando era uma das maiores estrelas da competição, os pés já não estavam a aguentar mais (suportar um gigante de 2.29m e 140 quilos não é fácil) e teve mais uma fratura nos playoffs de 2009. Depois um ano sem jogar, fez apenas 5 jogos em 2010-11, antes de tomar a decisão de se aposentar, aos 30 anos.

Saudável, Yao Ming era imparável e, caso assim se tivesse mantido, teria sido um dos melhores postes da história.

Greg Oden

Talvez o mais infame dos casos de carreiras perdidas por lesão. Tal como Sam Bowie para Michael Jordan, Oden vai ficar para sempre como o jogador escolhido antes de Kevin Durant. Mas era uma escolha ainda mais justificada que a de Bowie. Se hoje é fácil dizer que os Blazers deviam ter selecionado Durant, na altura, todos os observadores e comentadores estavam divididos entre qual dos dois devia ser a primeira escolha no draft. E muitos preferiam Oden. O poste da Universidade de Ohio State era uma daqueles jogadores que só aparecem de década em década e as expectativas em seu torno eram enormes. E justificadas. Era um monstro nas zonas perto do cesto, um jogador com uma força e um poder que não se via desde Shaquille O’Neal.

Só que tudo começou a correr mal logo desde o início. Oden foi operado ao joelho direito antes da temporada de estreia e perdeu toda a época. Depois de uma segunda época promissora (em que mesmo assim só fez 61 jogos), na terceira, fraturou a rótula esquerda e perdeu o resto da temporada. Na seguinte, foi operado ao joelho esquerdo e voltou a ficar de fora mais um ano. Nas duas épocas que se seguiram, voltou a ser operado por várias vezes aos joelhos e não jogou.

Esta onda de lesões leva a que a aritmética da sua carreira seja fácil de fazer. Feitas as contas, totalizou apenas 82 jogos em 5 anos. Poucos jogos, muito poucos, levando a que se pusesse os papéis para a reforma ao fim dessas cinco desditosas épocas. Ainda tentou regressar na época seguinte e fez 23 jogos pelos Miami Heat, antes de se retirar de vez em 2014. O potencial estava lá, mas o corpo não quis.

(Apercebemo-nos agora, enquanto fazíamos esta lista, da quantidade de jogadores dos Blazers que estão na mesma. A equipa de Portland devia pensar seriamente em ir à bruxa — a seguir aos Clippers, claro).

[Artigo revisto às 15:29]