O desafio financeiro causado pela pausa no futebol parece ter posto os clubes próximos do limite — inclusive o Flamengo, que vive situação mais confortável —, e a pressão para o regresso dos campeonatos aumenta. Reflexo do que está a acontecer na sociedade brasileira, há um desencontro entre as opiniões de clubes, atletas e governo quanto ao retorno do futebol.

No Rio de Janeiro, o governo parece ser a favor do retorno, apesar de ser um dos estados mais afetados. Entre os clubes, Flamengo e Vasco colocam-se na linha de frente dos favoráveis à reabertura e rivalizam com Botafogo e Fluminense, que são contra. 

Se por um lado, o Vasco precisa voltar pelo dinheiro (é um dos clubes em situação mais crítica, ainda não pagou salários em 2020 e só o retorno ao campo pode fazer dinheiro entrar novamente), a postura do Flamengo é incompreensível.

O Flamengo, com as boas condições financeiras que tem, conseguiu criar uma bolha em redor dos atletas e funcionários e parece ser o clube mais preparado para uma volta.  Mas com a situação caótica que vive o estado do Rio, será mesmo esta a hora de lutar pelo retorno do futebol? 

Landim, presidente do clube, aproximou-se do Presidente Jair Bolsonaro e recebeu críticas de parte dos adeptos. Para além disso, fez o clube voltar a treinar sem a autorização da câmara municipal do Rio de Janeiro e aumentou o desgaste. 

O futebol brasileiro, principalmente com os campeonatos estaduais por terminar, é muito mais complexo do que a Alemanha com a sua Bundesliga. Como conseguirão clubes falidos e sem qualquer estrutura, como os pequenos cariocas, cumprirem com regras de isolamento, testes e outros controlos de segurança? Pior ainda, como é que estados como o Amazonas, onde o futebol é quase amador, conseguirão retornar às atividades desportivas?

Sem jogos, e sem receita de bilhética e TV, com patrocinadores a recusar-se a continuar a pagar sem visibilidade, os clubes estão com a corda no pescoço e isto começar a afetar até o mesmo o Flamengo. Outros já começam a treinar, como os clubes do sul do país, e a pressão só vai aumentar. Qual a melhor opção para o Brasil? 

A CBF, com seus lucros sempre crescentes, tem de ser a responsável pela organização deste retorno, mesmo que com apoio governamental. É lhe exigido que padronize e garanta a segurança nos estádios para os jogadores e outros envolvidos. Até agora, tem se escondido e deixado os clubes e federações discutirem entre si. E num país que não se entende sobre como controlar a pandemia, não parece vir do futebol o exemplo de como vamos superar isto juntos.