"Hoje tem gol do Gabigol" – é esse o mantra repetido pelo adepto do Flamengo, e que já caiu na boca dos outros, a cada jogo do rubro-negro. E, em 2020, assim como em 2019, praticamente todo jogo tem mesmo golo do Gabigol. O avançado, que não se conseguiu afirmar durante a sua passagem na Europa, encontrou no Flamengo de Jorge Jesus o futebol de alto nível que prometia quando surgiu no Santos. 

É hoje um excelente finalizador e um dos melhores avançados brasileiros em atividade, no Brasil ou no extrangeiro. Acima de tudo, Gabriel tornou-se ídolo da maior torcida do Brasil e com carisma — apesar da marra que beira a arrogância — conquistou os rivais. Tirando Neymar, que apesar de ter a imagem bastante arranhada recentemente, Gabigol é, provavelmente, o jogador mais falado no Brasil hoje em dia. 

O adepto médio brasileiro, aquele que gosta de futebol mas não é um fanático que consome todas as ligas do mundo, quase não vê o desempenho dos jogadores brasileiros no estrangeiro. Ouve falar e acompanha os golos e melhores momentos das maiores equipas, mas nunca criou, por exemplo, uma identificação com Roberto Firmino, o brasileiro do ano no estrangeiro. Muito menos com Coutinho, Allan, Fabinho e outros tantos com praticamente nenhum minuto jogado por clubes brasileiros. E isso é fundamental para se identificar com o escrete canarinho.

Num passado recente, o adepto via a seleção reunir os craques da sua equipa e dos rivais, para jogar juntos e unir os adeptos. Ao seu lado, estavam os maiores talentos do país, que vinham do estrangeiro, mas que tinham relevância local por terem passado, pelo menos, uma temporada com as cores de um clube de Serie A, a primeira divisão do futebol brasileiro. E a cada vez mais precoce migração da mão de obra brasileira para o exterior quebrou essa ligação entre Seleção e Torcida.

Convocar jogadores que atuam no Brasil passou a ser visto como algo raro, principalmente pela sensação e senso comum de que o campeonato local estava muito atrás dos campeonatos europeus e, se ainda estava no Brasil, apenas as grandes exceções podiam triunfar na Seleção. Jogar no Shaktar passou a ser mais interessante do que jogar no Flamengo.

Felizmente, isso parece estar a mudar. O sucesso quase instantâneo de jovens saídos diretos do Brasileirão para brilhar por Barcelona (Artur), Real Madrid (Vinicius Jr e Rodrygo), Everton (Richarlysson), Arsenal (Martinelli), mostrou que a distância não é tão grande assim. E o crescimento do Flamengo, reunindo grandes nomes numa equipa que brilha e encarar o gigante Liverpool fez com que a imprensa e a massa adepta olhasse com mais carinho para a Liga Nacional.

Hoje, às portas de uma nova convocatória, todos clamam não só por Gabriel, mas também por Bruno Henrique, Gérson, Dudu, Matheus Henrique, Everton e etc. A Seleção ficaria muito mais simpática e não perderia em qualidade com esses jogadores. Há espaço para bons talentos dos campos do Brasil na Seleção e como seria bom se eles ficassem mais tempo no Brasil.

Gabriel Barbosa é a cara dessa mudança. Se ele não teve sucesso na Europa, por adaptação, personalidade ou o que quer que seja, e as portas dos grandes se fecharam para ele, é melhor ficar no Flamengo. E pode dizer o adepto mais ufanista, azar da Europa. Mas hoje, Gabigol é um dos melhores atacantes do Brasil e não pode ficar de fora. Será que teremos golo do Gabigol na Seleção?