As expectativas, como é habitual nos Gunners dos últimos anos, começam altas. Poderá esta época ser diferente para o clube do norte de Londres? Poderá o Arsenal ultrapassar o seu arqui-rival Tottenham como o grande candidato a interferir na luta a dois que se espera mais uma vez vir a acontecer? A resposta a essa questão poderá não ser tão fácil quanto isso.

Dois jogos, duas vitórias

Pela primeira vez em dez anos o Arsenal venceu os seus primeiros dois jogos da temporada, a contar para a Premier League. No primeiro encontro ainda assim, frente ao Newcastle, os problemas foram constantes. Ora por Joelinton, ora por Jonjo Shelvey, os Magpies foram assustando os Gunners durante toda a partida. O poder físico da equipa do Newcastle provou ser suficiente para ganhar primeiras e segundas bolas com alguma recorrência. E este é o primeiro sinal de que o Arsenal poderá não estar tão diferente assim dos últimos anos.

Na segunda partida, desta feita em casa frente ao Burnley, o Arsenal apesar do maior domínio sobre o adversário, acabou por conceder espaços e fazer do jogo uma tarefa mais complicada do que à partida poderia ter sido. Ainda sem o onze que poderá em breve vir a ser mais regular, os Gunners parecem manter a tendência de instabilidade durante os noventa minutos a que nos tem habituado nos últimos anos.

Que sinais de mudança parecem existir no Arsenal 2019/20?

Apesar dos primeiros cento e oitenta minutos não revelarem muitas diferenças, existem alguns sinais de mudança na equipa de Unai Emery.

Pierre-Emerick Aubameyang, Alexandre Lacazette, Dani Ceballos, e muito provavelmente com a sua estreia a titular este fim-de-semana, Nicholas Pepe, serão um dos mais potentes arsenais apontados a qualquer baliza adversária na Premier League. Tal facto não poderá ser nem ignorado nem subestimado. Em três anos o Arsenal montou uma frente de ataque de fazer inveja à grande maioria dos emblemas mundiais. Com Lacazette em 2017, Aubameyang em 2018 e, na janela de transferências que passou, Ceballos e Pepe, os Gunners estão prontos para atacar. Onde é que já vimos este ‘filme’? Precisamente na equipa que o Arsenal defronta este fim-de-semana, no Liverpool. 

Já com Philippe Coutinho no plantel desde 2013 e Roberto Firmino desde 2015, foi em 2016 com Sadio Mane e 2017 com Mohamed Salah que o Liverpool despertava o gigante que sempre existiu em si. Com uma poderosa frente de ataque, mas sem a consistência necessária no meio campo e eixo defensivo, o Liverpool de Klopp esteve muito perto de não conseguir dar o salto que necessitava para conseguir competir com o City de Pep Guardiola.

Em minha opinião, o que fez os Reds darem esse salto foi a saída de Philippe Coutinho. Não pela qualidade do meio campista, mas sim pela necessidade de sacrifício que, quer se queira, quer não, o brasileiro não tem, pelo menos em comparação com Wijnaldum, Henderson, Keita, James Milner, Fabinho, etc. Todos eles elementos mais batalhadores para outros jogadores, como seja o trio ofensivo, terem mais liberdade de rutura, conseguindo eles fazer um trabalho de maior sacrifício quer na manutenção do equilíbrio, quer na recuperação de bola.

Assim sendo, é precisamente aqui que o Arsenal poderá, ao contrário do Liverpool, poder não conseguir dar o salto necessário não só para ultrapassar o rival Tottenham, como para chegar ainda mais perto que os Spurs dos dois grandes favoritos.

Os dois grandes testes

É fundamental que o Arsenal encontre um onze mais equilibrado que nos últimos dois jogos. A combinação, pela primeira vez, do quarteto ofensivo mencionado acima, parece poder vir a ser uma realidade mas o facto de o jogo ser em Anfield, em casa do Liverpool, poderá colocar um travão na audácia do treinador espanhol. 

O que veremos, muito provavelmente, é um Arsenal receoso e sem se dar a si mesmo as melhores chances de vencer a partida. Caso o Arsenal não entre com o poderoso quarteto ofensivo, não só não terá as armas defensivas para parar o trio de ataque do Liverpool - porque não as tem - como, por outro lado, não terá a capacidade de surpreender o Liverpool no outro lado do campo, o que, com o quarteto, poderia ter.

Já no fim-de-semana seguinte, frente ao Tottenham, o Arsenal corre os mesmo riscos, mas por motivos diferentes. Com um estilo de jogo muito diferente da equipa de Jürgen Klopp., a equipa de Mauricio Pochettino tem outros argumentos que terão, também eles, a capacidade de anular um meio campo que apesar da qualidade, é ainda muito inexperiente. Matteo Guendouzi, Reiss Nelson e Joe Willock são as três peças que parecem ser os grandes candidatos a formar o trio de meio campo dos Gunners e, entre eles, não só têm uma média de 19.6 anos de idade, como não terão nem agora, nem no futuro, as características necessárias a segurar um meio campo, da mesma forma que os três jogadores do meio campo do Liverpool, sejam eles quem forem, têm.

Elementos como Henrikh Mkhitaryan, Granit Xhaka e Mesut Özil vão também contra a tendência de combate centro campista que poderia ‘ligar’ o motor de ataque formado por Pepe, Lacazette e Aubameyang.

A única solução viável parece ser Lucas Torreira, que teve uma impressionante primeira temporada ao serviço do Arsenal mas, de quem se fala hoje, ter estado muito perto de se transferir de volta para o futebol italiano neste mercado que passou.

No futuro, o Arsenal terá de optar por uma estratégia de maior controlo do jogo, ao estilo de Manchester City e Tottenham, ou por uma estratégia de ruptura, ao estilo do Liverpool. Neste momento o Arsenal parece preparado para entrar, ou continuar podemos mesmo dizer, num limbo que não lhe permitirá, tendo em conta a Premier League dos últimos anos, dar um salto qualitativo na direcção dos lugares cimeiros da tabela classificativa. O futebol mudou muito nos últimos anos e escolhas têm de ser feitas. O Arsenal não as tem conseguido fazer.

Esta semana na Premier League

Como não poderia deixar de ser o jogo que despertará todas as emoções, será o Liverpool vs Arsenal. Com pontapé de saída marcado para sábado, dia 24, pelas 17h30, o duelo entre o espanhol Emery e o alemão Klopp será, em teoria, uma explosão de futebol ofensivo. Ainda assim, a jornada arranca já hoje, dia 23, com o Everton a querer afirmar-se como candidato a sétimo grande, visitando o recém promovido, e ainda sem qualquer ponto, Aston Villa, do treinador inglês John Terry.