Nos dias que correm, as antevisões dos jogos por parte dos intervenientes diretos têm cada vez mais influência. Muitas das vezes os treinadores tendem a ignorar o adversário, dizendo que o importante é a equipa focar-se nela própria e no que terá que fazer para ganhar o jogo. Mas, não raras vezes, surgem criticas ou elogios ao adversário que se vai enfrentar. Foi o caso do clássico entre Manchester City e Liverpool, onde o respeito foi, muito provavelmente, o que mais influenciou um dos jogos do ano da liga inglesa.

Sinais de respeito de parte a parte

Treinadores

Durante a semana os treinadores de ambas as equipas fizeram questão de trocar rasgados elogios. Exemplo máximo foi a declaração de Pep Guardiola, ao afirmar que o Liverpool era a melhor equipa da Europa. Jürgen Klopp, não querendo ficar atrás, devolveu o elogio dizendo que, ainda assim, o City era a melhor equipa do mundo. Contudo, não nos deixemos enganar. Nos jogos psicológicos, ninguém quer perder vantagem ou oferecer elogios gratuitos de forma a elevar o moral do adversário, tudo é feito com o propósito de estabilizar a equipa adversária, levando a que estes façam algo de diferente e que, no final, essa mudança lhes seja benéfica, como veremos mais abaixo.

O 12.º jogador

Não é por acaso que se notou uma diferença na emoção que rodeava as bancadas neste clássico. Todos os adeptos do City sabiam não só a importância deste encontro, como da qualidade do adversário. Dessa feita fizeram-se ouvir. Do princípio ao fim do jogo, para quem teve oportunidade de colocar o som da televisão mais alto do que o habitual, pôde-se viver a emoção do jogo de forma intensa, mesmo através do ecrã.

Opções táticas

O Liverpool não entrou com excesso de confiança e colocou os seus habituais três médios batalhadores. O City, sem exagerar, jogou da forma habitual, mas fazendo questão de pedir aos seus três médios que trabalhassem como se fosse o último jogo da temporada. Até certa altura do jogo parecia que residia aí a diferença no jogo. E residiu, de facto, mas não a favor do Liverpool.

Dureza do encontro

Poder-se-á pensar que quanto mais duro e físico é um jogo, menos as equipas se respeitam. Ontem, quinta-feira dia 3 de janeiro, o caso foi o oposto. A dureza na disputa dos lances, o assumir qualquer carrinho como se do último se tratasse, a união entre setores, de parte a parte, mostrou o quanto estas equipas se respeitaram e o quanto não queriam dar um centímetro que fosse ao adversário, principalmente aos trios ofensivos, que foram os alvos preferenciais das faltas cometidas por ambos os conjuntos.

A diferença pela negativa

Houve dois motivos que fizeram a diferença no clássico entre os dois primeiros classificados da Premier League. O primeiro, vem no seguimento do falado acima, o respeito. Olhando atentamente para o encontro apercebemo-nos da pressão alta de ambas as equipas no início do encontro. A partir do momento em que o Liverpool percebeu que estava confortável com o facto de dar a iniciativa de jogo ao City, saindo no contra-ataque após pressão no bloco médio, e não no último terço do terreno, o jogo começou a delinear-se. A inatividade do Liverpool acabou por colocar a equipa num estado letárgico que, após sofrer o primeiro golo da partida, não permitiu aos Reds voltar à carga. Foi preciso o intervalo para que a equipa de Klopp se voltasse a encontrar. De tal forma que na segunda parte o Liverpool mudou o ritmo e rumo do jogo, obrigando o Manchester City a terminar com menos posse de bola (49,6%) que o seu adversário, o que não acontecia há 97 jogos a contar para a Premier League.

O segundo, tem a ver com as escolhas técnicas de Klopp. Sendo Jordan Henderson a quinta opção para um dos três lugares de meio campo, e tendo o alemão, à sua disposição no banco de suplentes, Fabinho e Naby Keïta, não se percebeu bem ao que se deveu a escolha do internacional inglês. Foram pormenores por parte do médio que fizeram toda a diferença, principalmente quando o Liverpool estava em processo defensivo e tinha que pressionar na altura certa. Muitas das vezes Henderson encontrou-se perdido no meio campo, chegando tarde à pressão e tendo receio de chegar perto das alas, deixando a zona do centro do terreno, quando os jogadores do City são exímios em deixar as suas posições, criando superioridade numéricas que dão depois origem a passes de rutura e situações de perigo.

Resumindo, Klopp parece ter tido demasiado respeito pelo Manchester City, quando poderia ter pressionado e arriscado mais. Poderia, igualmente, não ter dado bom resultado, mas pelo menos tinha-lo feito à sua maneira. A escolha de Henderson foi, mais uma vez, uma demonstração de excessivo respeito por parte da equipa de Liverpool.

A diferença pela positiva

Apesar da atitude de ambas as equipas ter sido semelhante e extremamente positiva, a do City terá, ainda assim, que ser destacada como ligeiramente acima da do Liverpool. As exibições de Vincent Kompany e Fernandinho forma das melhores que já se viram esta época na Premier League.

Se o instinto goleador de Sergio Agüero e Leroy Sané foram determinantes, o empenho e garra de Fernandinho e do capitão de equipa Vincent Kompany não poderá ficar atrás. Dizia Michael Owen, antigo jogador do Liverpool, durante a semana que, caso estivesse no lugar de Guardiola, colocaria Kompany no onze. Jogadores com a fibra do belga são os que se querem a jogar nos jogos mais importantes da época. Do alto da sua experiência, Owen não poderia estar mais correto. O jogador há mais tempo no plantel, o capitão de equipa e a primeira aquisição do Sheikh Mansour bin Zayed Al Nahyan terá sido fundamental na liderança e compostura da equipa.

Já Fernandinho, terá sido o Homem do Jogo, tal foi a sua entrega, capacidade de recuperação de bolas e apoio à transição ofensiva. Sem ele, muito dificilmente os Citizens teriam levado os Reds de vencidos.

Uma última palavra para Guardiola, que percebendo as suas limitações, Aymeric Laporte e Danilo, jogou com grande precaução, insistindo mais na transição pelo centro, não utilizando os laterais de forma irresponsável, demonstrando não só cautela com o trio ofensivo do Liverpool como também um grande conhecimento acerca dos seus próprios pontos fortes, como principalmente dos seus pontos fracos.

No final, assistimos a um esforço incrível dos jogadores do City que, no seu conjunto, mostraram atitude de campeão.

E agora? Para onde vamos?

Essa é a questão que todos queremos ver respondida. Não existindo uma resposta certa de momento, o que me parece ser fundamental examinar é o futuro imediato de ambas as equipas. A distância de 4 pontos é extremamente importante já que poderá permitir ou a rápida aproximação do City ou o rápido distanciamento do Liverpool.

Nas próximas cinco jornadas saber-se-á o quão afetadas ficaram as equipas após o clássico. Tanto física como psicologicamente.

O Liverpool, com um calendário teoricamente acessível, terá a responsabilidade de vencer os próximos cinco jogos. Supondo que isso acontece, o City, perdendo pontos, poderá dizer um adeus definitivo ao título, uma vez que o Liverpool, não vencendo o campeonato há 28 anos, colocará todos os esforços e recursos na Premier League, o que tornará a missão do Manchester City quase impossível.

Liverpool: Brighton (F); Crystal Palace (C); Leicester (C); West Ham (F); Bournemouth (C).

Manchester City: Wolves (C); Huddersfield (F); Newcastle (F); Arsenal (C); Chelsea (C).

Ainda assim, e caso o City vença os cinco jogos que tem pela frente, poderá colocar uma pressão adicional no Liverpool e tornar-se-á, estando quatro pontos atrás do rival ou até mais perto, no favorito a vencer a liga. Isto dada a história recente dos clubes em questão, e mesmo sabendo que nenhum clube, que tenha passado o ano com 7 pontos de vantagem, terá perdido o título de campeão nessa mesmo época.

Esta semana na Premier League

Com o Manchester City vs. Liverpool a pertencer já ao passado, e apesar de esta semana estar reservada à FA Cup, onde já jogam os clubes da Premier League, a semana seguinte não nos poderia reservar um jogo melhor. O Manchester United que, com Ole Gunnar Solskjær aos comandos, leva já quatro vitórias seguidas, visita os Spurs. Nem por acaso, há apenas duas semanas falámos de como o Manchester United terá que repensar a sua posição na Premier League e de como o Tottenham Hotspur poderá, muito provavelmente, ser o melhor exemplo a seguir pelos Red Devils. Com o primeiro grande teste do norueguês à frente do United, este jogo começará a moldar o futuro imediato do United, no que a treinador diz respeito.