José Mourinho não deve ser fã do Villa Park. Das suas várias experiências na Premier League, o técnico português só por uma vez em seis visitas se sagrou vitorioso em Birmingham. Se na sua primeira passagem pelo Chelsea somou três empates e uma derrota, da segunda vez que assumiu os blues ganhou uma vez e perdeu da última vez que foi à casa do Aston Villa. 

De resto, este histórico não mais poderia ser alterado até hoje porque Mourinho foi demitido do Chelsea antes de voltar a Birmingham em 2015/16 e mais tarde, quando o técnico assumiu o Manchester United, já o Aston Villa estava relegado ao Championship, o segundo escalão da liga inglesa. Até hoje.

Com os regressos do Aston Villa e de José Mourinho, agora pelo Tottenham, à Premier League, esta partida era a oportunidade para o português amenizar esse historial negativo, isto enquanto procurava somar pontos na corrida ao top-4.

Se o Tottenham vinha de uma vitória sofrida mas saboreada contra o Manchester City (melhorando um registo francamente dúbio de quatro vitórias, quatro empates e duas derrotas em 10 jogos), o Aston Villa foi um anfitrião ferido pela derrota em Bournemouth (tendo um registo ainda pior: quatro vitórias, quatro derrotas e dois empates), apesar de depois ter conseguido apurar-se para a final da Taça da Liga contra o Leicester.

Nesta 26ª jornada da Premier League, tínhamos um Tottenham em sexto lugar, com 37 pontos, passando para o quinto posto em caso de vitória (passando o extraordinário Sheffield United), sendo que o “retornado” Aston Villa tinha todo o interesse em ficar definitivamente no primeiro escalão, apesar de se encontrar logo acima da linha de água, apenas com mais um ponto que os “lanternas vermelhas” West Ham e Watford.

Para o Tottenham, este era um jogo que precisava de encarar com máxima seriedade na procura de preciosos pontos para chegar aos lugares da “Champions”, mas sem esquecer o duro calendário que se avizinhava: partida em casa frente ao RB Leipzig para a Liga dos Campeões e jogo no fim-de-semana seguinte em Stanford Bridge, contra os rivais do Tottenham.

Mourinho optou por um 4-2-3-1, deixando a defesa a cinco para apostar em Davinson Sánchez e Toby Aldeweireld no centro do campo, apoiados por Sèrge Aurier à direita e Ben Davies na esquerda. Este foi, aliás, o regresso do galês à titularidade desde o empate consentido frente ao Sheffield United a 9 de novembro, ainda na era Pochettino, tendo sido forçado a paragem por lesão no tornozelo. No miolo do meio-campo, o técnico português colocou Eric Dier e Harry Winks, tendo à frente o trio de Lucas Moura, Dele Alli e o reforço Steven Bergwijn. Na frente, quem não tem Harry Kane (ainda em lesão), caça com Son Heung-min.

Numa tarde chuvosa em Villa Park — o jogo até esteve em risco, devido à tempestade Dennis —, o Tottenham procurou iniciar as hostilidades a tentar chegar à baliza de Pepe Reina, mas sem rasgo nem engenho. Os fãs do Villa cantavam “Sit down, Mourinho”, mas o que aconteceu a seguir deve ter levado o técnico português a perder qualquer vontade de se acalmar.

Com a partida congestionada a meio campo, coube ao extremo dos Villains El-Ghazi fugir a Davies pela lateral e pingar um cruzamento entre Hugo Lloris e Toby Aldeweirld. O guarda-redes francês hesitou e o belga, pressionado por Mbwana Samatta, tentou desviar a bola do atacante da Tanzânia mas colocou-a na própria baliza. Um disparate da defesa dos Spurs a colocar os Villains na frente do marcador aos 9 minutos de jogo, num início de horror para o Tottenham.

A partir daí, os jogadores de Dean Smith começaram a pressionar cada vez mais, com Jack Grealish, a estrela de Birmingham, a fazer dois remates consecutivos a passar perto da baliza do Tottenham e Davies a salvar os Spurs de um segundo tento consentido, tirando uma bola de golo a Douglas Luiz.

Já os Spurs iam cozinhando algumas jogadas sem tempero, nunca levando real perigo às redes de Pepe Reina. Aliás, ao invés de somar ataques, o Tottenham ia somando sustos atrás de sustos. Com a equipa de Mourinho subida à procura do empate, o Aston Villa foi explorando os espaços para se projetar em contra-ataque, especialmente pelo lado esquerdo, com Matt Targett e Jack Grealish a aproveitar-se das fragilidades defensivas de Serge Aurier.

No entanto, naquele que foi o primeiro momento de redenção da tarde, o Tottenham conseguiu chegar à igualdade com Toby Alderweireld a fazer um potente remate à queima roupa, resultado de um canto confuso. O belga, que não marcava pelo clube desde maio de 2017, meteu uma bola em cada baliza em 26 minutos.

O Aston Villa encontrava-se melhor no jogo, mais potente a meio-campo e mais incisivo nos duelos individuais, mas o golo fez o Tottenham crescer. Apesar de um bom par de lances para cada lado, foi mesmo a equipa de José Mourinho a conseguir ir para o intervalo na frente, operando a reviravolta em 45 minutos.

Em cinco minutos, o VAR salvou e condenou os Villains. Primeiro, após uma extraordinária jogada de Ben Davis, Bergwjin rematou contra o dorso de Björn Engels e ficaram dúvidas se teria visado o braço do central. O vídeoárbitro desmentiu o lance e o defesa belga deve ter suspirado de alívio. Contudo, no lance seguinte, os mesmos dois protagonistas voltaram a envolver-se, só que Engels carregou o extremo holandês em falta e desta vez o VAR não perdoou. Son marcou o penalty e Reina até defendeu brilhantemente, mas o coreano antecipou-se na recarga e conseguiu à segunda.

Ao intervalo, Mourinho esfregava as mãos perante uma reviravolta onde a sua equipa não brilhou, mas tomou as oportunidades necessárias para se colocar na frente.

No entanto, na segunda parte, se até foram os Spurs a entrar mais espevitados, com Son e Dele Alli a somar boas oportunidades, ambas negadas por Pepe Reina, o Tottenham provou um pouco do seu veneno já que foi também num canto que o Aston Villa regressou à igualdade.

E como o dia estava propenso a bons karmas, foi justamente o belga Björn Engels a marcar de cabeça, o que tinha causado o penalti, sobrepondo-se ao compatriota Toby Aldeweirld e assinando o seu primeiro golo de sempre pelo Aston Villa. Algo que teria deixado Mourinho de cabelos em pé, se ele os tivesse neste momento.

Ao longo da segunda-parte, a toada foi sempre mesma, naquilo que nunca deixou de ser um golo de grande intensidade: o Tottenham a atacar insistentemente — Reina foi uma autêntica muralha — e o Aston Villa, apesar de ser fustigado, nunca perdeu a compostura, e provocou calafrios a Mourinho no contra-ataque.

O jogo parecia terminar empatado, mas o derradeiro fim guardava uma surpresa. Como "Parasitas" nos ensinou, os sul-coreanos têm a mestria do suspense e da reviravolta. Engels — sim, esse — perde uma bola a meio-campo, que sobra para Son, corria o minuto 93. O extremo avançou num contra-ataque mortal e voltou a levar de vencida Pepe Reina, marcando o segundo jogo da partida.

Um final destroçante para o Aston Villa — que fez por um melhor resultado —, mas uma reviravolta gloriosa para José Mourinho. O Tottenham, que vinha de quatro vitórias consecutivas nas suas últimas deslocações ao Villa Park, soma assim a sua quinta, o mesmo ordinal que agora ocupa na tabela classificativa. Já o técnico português, volta a sorrir em Birmingham.

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