Um: Aconteceu há duas semanas no estádio do Dragão. Borna Barisic isolou Alfredo Morelos com um passe longo para dentro da área azul e branca que o colombiano não desperdiçou.

Dois: Foi esta quinta-feira, em Glasgow, no Ibrox Stadium. O placard marcava os 69 minutos quando Jack cruzou atrasado para a entrada da grande área, Morelos dominou e atirou de pé esquerdo para inaugurar o marcador e fazer o 1-0.

Três: Também foi esta noite que Morelos fugiu à defesa portista para assistir, com um passe atrasado, Davis, que, à entrada da área, atira forte para a baliza portista com Marchesín a ser traído por um desvio da bola em Marcano.

Foi com estes três momentos (que coincidem com todos os golos com que o Glasgow Rangers empatou e venceu o FC Porto) que o colombiano Alfredo Morelos atirou os dragões para o último lugar do grupo G da Liga Europa.

Três golos feitos e três pontos desfeitos. E o leitor, legitimamente, pergunta: porquê começar logo por entregar os momentos do jogo assim de bandeja? Bem, porque foi um jogo com muito pouco para contar.

O FC Porto teve uma exibição digna de um trambolhão europeu, daqueles que complicam a qualificação de uma equipa para a próxima fase. Sim, os azuis e brancos estão a apenas três pontos da liderança, mas a história não dá uma boa perspetiva: em sete edições com pelo menos quatro pontos em quatro jornadas, numa fase de grupos da UEFA, os dragões passaram uma única vez.

Os comandados de Sérgio Conceição tiveram duas grandes oportunidades de golo. Aliás, ouso dizer, dois meios golos. Foi logo aos oito minutos o "primeiro meio", num cabeceamento de Pepe que Kamara cortou em cima da linha de golo. Depois foi aos 67', quando Manafá desviou a bola ao segundo poste e Goldson impede que a mesma entre na baliza. Mas, no futebol, dois meios golos não fazem um (golo).

Sérgio Conceição decidiu experimentar, talvez demasiado. Alex Telles, Mbemba, Jesus Corona e Manafá na mesma equipa? O FC Porto apresentou uma disposição rara no futebol português um 3-6-1 que se transformava em 5-4-1 nos momentos defensivos. E a referida disposição tática pareceu baralhar mais os pupilos de Conceição do que os de Steven Gerrard. Corona era o perfeito exemplo disso: parecia um vagabundo em campo, ora num papel quase de segundo avançado perto de Tiquinho Soares, ora no de médio mais avançado, ora no de extremo.

Perante uma tática complicada, o Rangers, fiel ao jogo apresentado no Dragão, jogou de forma descomplicada e direta, com um futebol de primeiro toque, em velocidade. É certo que a pontaria só chegaria na segunda parte, mas os pupilos do mítico 10 do Liverpool estão a mostrar trabalho. Com a vitória desta noite assumem o segundo lugar do grupo que se soma ao segundo lugar no campeonato escocês, em igualdade pontual com o Celtic, e a final da Taça da Liga escocesa, agendada para dezembro e também diante do eterno rival.

créditos: ANDY BUCHANAN / AFP

Bitaites e postas de pescada

O que é que é isso, ó meu?

Espero que Sérgio Conceição tenha perdido dois minutos na zona Duty Free do aeroporto de Glasgow para comprar algumas boas garrafas do famoso uísque escocês. A experiência tática não correu bem e este FC Porto europeu voltou a não convencer, depois de uma exibição no estádio do Dragão em que a equipa só apareceu nos primeiros e últimos minutos do jogo. Além disso, Conceição já devia ter aprendido a lição: o que complica, Morelos descomplica e isso nunca é bom para o lado portista.

Alfredo Morelos, a vantagem de ter duas pernas

Tem nome de patrón de um gangue colombiano, digno de ser retratado na série da Netflix, Narcos - parece que já o estou a ver com o cabelo puxado para trás e camisa com o terceiro botão aberto -, mas em vez de ser um assassino, Morelos escolheu ser um daqueles avançados que valem eliminatórias. Boa escolha, Pablo. Ai, Alfredo!

Glen Kamara — fica na retina o bom jogador de futebol

Há quem diga que a melhor defesa é o ataque. Pessoalmente, discordo. Mas que há defesas que deviam valer tanto como golos, lá isso há. É o caso do corte de Kamara em cima da linha em resposta a um cabeceamento de Pepe. Foi logo aos oito minutos e foi decisivo para o rumo do jogo.

Nem com dois pulmões chegava a essa bola

Perdido na nova tática de Conceição, Jesús Corona - que neste FC Porto já foi segundo avançado, extremo e lateral direito - não se fez mostrar, revelando, numa analogia sem qualquer base, perante a exibição do sul-americano Morelos, que o Narcos na Colômbia é muito melhor que a versão mexicana.