No final do mês de fevereiro, a Internet e a televisão já nos mostravam imagens de uma Itália deserta, em alerta perante um vírus que atingia sobretudo o norte do país. Ruas vazias, lojas e centros comerciais fechados e supermercados de prateleiras despidas de produtos.

O cenário de açambarcamento de bens parecia distante de Portugal que, por aqueles dias, não registava qualquer caso de pessoas infetadas pelo novo coronavírus (Covid-19) em território nacional. À medida que o número de casos suspeitos aumentava lá fora, com a comunicação social a fazer chegar relatos da China e de Itália, dois dos países mais afetados pela pandemia, tornou-se evidente que Portugal não seria um oásis no deserto, e aí sim se começou a ver um aumento das vendas a retalho.

Na primeira edição do Barómetro semanal da Nielsen, empresa de gestão de medição e análise de dados, os efeitos da pandemia em Portugal são notórios. A avaliação feita entre o dia 24 de fevereiro e o dia um de março, entre os quais não houve nenhum caso de infeção por Covid-19 registado em território português, revela que, só nesse período, houve um crescimento de 14% das vendas nos hiper e supermercados nas categorias de alimentação, detergentes e produtos de higiene e frescos, quando desde o início do ano a tendência se situava nos seis por cento.

Entre os maiores aumentos no número de vendas estão as conservas (+42%), os produtos ricos em vitamina C (Kiwi +39%, Laranja +37%, Tangerina/Clementina +37%) e produtos básicos (+36%). Sendo que áreas como a saúde e limpeza também registaram um aumento de venda de produtos, entre os quais figuram os detergentes e os produtos de higiene, uma categoria que, por exemplo, inclui as luvas.

No que toca à preferência pelo tipo de estabelecimentos, os hipermercados foram aqueles que tiveram um maior aumento de procura, na ordem dos 20%, ligeiramente acima dos grandes supermercados (+18%) e muito acima dos pequenos supermercados (+5%).

Na análise feita, a Nielsen identificou "uma reação no comportamento do consumidor perante esta pandemia, em linha com a própria evolução desta situação no continente europeu e em território nacional", tendo-a dividido em seis etapas adaptação: "a compra proativa de Saúde, a gestão reativa da Saúde, a preparação da despensa, a preparação para quarentena, a vida com restrições e a vida sob uma nova normalidade".

No entanto, o relatório realça que nem todo o país reagiu da mesma forma à aproximação da chegada do novo coronavírus a Portugal. Lisboa, Setúbal, Leiria e Santarém foram os primeiros a reagir e foi nestas zonas geográficas que o consumo mais disparou. No caso da capital portuguesa, o consumo de 18% registado nesta semana triplicou a tendência de seis por cento verificada desde o início do ano. No lado oposto, Guarda, Beja e Bragança foram os distritos onde o aumento das vendas a retalho foi mais baixo.

É expectável que os dados das semanas seguintes demonstrem uma situação diferente, uma vez que os primeiros casos positivos de infeção por Covid-19 foram registado na zona norte do país.

Em declarações Patrícia Daimiel, diretora-geral da Nielsen para Espanha e Portugal, diz que é ainda cedo para compreender, na totalidade, de que modo esta pandemia vai afetar os padrões de consumo, alterar comportamentos e ditar novas tendências.

"Vivemos hoje uma situação verdadeiramente sem precedentes. Em todos os mercados e negócios, a nível mundial, a pandemia Covid-19 veio abalar a forma como vivemos, como consumimos e como trabalhamos. Todos seremos impactados, sem exceção. Por essa razão, é fundamental que, agora mais do que nunca, nos mantenhamos informados sobre todas as mudanças e novas tendências que vêm impactar cada um dos nossos mercados. É essencial estar alerta e tomar decisões assertivas que vão ao encontro de um panorama que é novo para todos, em todo o mundo", diz.

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