Na última semana de março, com o país a entrar na fase de mitigação, os portugueses adaptaram-se à vida com restrições. O barómetro semanal da Nielsen nota um decréscimo nas vendas na ordem dos 12,5 milhões de euros, uma quebra de 6% face ao período homólogo. São menos 12% quando comparamos com a semana anterior.

Ainda assim, o comércio no digital regista ganhos: quer em ocasiões de compra (onde cresceu 77%), quer na captação de lares (subiu 75%). “Conduzidos pelo contexto atual, os consumidores parecem mais recetivos à facilidade e comodidade de realizarem as suas compras através de plataformas digitais”, escreve a consultora.

Para além da subida no comércio digital, aumentou também a compra de produtos alimentares, contrariando a quebra generalizada do retalho alimentar.

“O facto de os portugueses estarem agora confinados nas suas casas altera alguns dos seus hábitos e rotinas diárias. No caso da Alimentação, muitas das refeições passaram a ser confecionadas e consumidas em casa. Tomar o pequeno-almoço e o lanche em casa e fazer petiscos e sobremesas levou a um forte dinamismo de algumas categorias, que surgem agora no topo dos maiores crescimentos, como as Bebidas Quentes (+38%) e as Sobremesas/Doces (+30%)”, explica Marta Teotónio Pereira, Client Consultant Senior da Nielsen.

E os Portugueses parecem mais propícios a cozinhar em casa, algo que é também patente no facto de o retalho alimentar perder neste período mais de 70% em Take-Away/Cafetaria face à semana homóloga.

Todavia os frescos caem (4%), mas menos que a média total do mercado.

Aliás, nos frescos há algumas subidas a assinalar, quer nas frutas, quer nos legumes. A compra de laranja disparou 76%, a de limão 43% e a de tangerinas e clementinas 36%. Já a compra de legumes no geral subiu 11%, empurrada pelas courgettes (+59%) e pelo alho seco (+47%).

O maior tempo passado em casa nota-se também no consumo de produtos para a higiene, saúde e limpeza do lar, registando-se crescimentos significativos em Acessórios de Limpeza (+44%), Limpeza do Lar (+20%), Cuidados de Saúde (+9%), entre outras categorias, nota a Nielsen.

Pelo contrário, as categorias com maiores quebras refletem bem que os Portugueses se mantêm em casa, entre as quais se destacam os Produtos Solares (-85%), os Produtos para Calçado (-52%) e os Perfumes (-51%).

“Com as escolas fechadas, as férias da Páscoa são passadas em casa. No retalho alimentar, o crescimento das vendas da semana anterior à Páscoa (este ano é a semana 14) já reflete os preparativos dos festejos que, em Portugal, passa muito pela reunião da família alargada à volta da mesa”, diz Marta Teotónio Pereira, citada no relatório.

“Com o agravamento da limitação à circulação no período da Páscoa, este ano todos sabemos que foi diferente. Com alguns sinais de menos — menos reuniões familiares, menos saídas dos centros urbanos e menos ofertas — mas também com alguns sinais mais —, mas também mais mesas de Páscoa e mais refeições em casa”, comenta ainda Marta Teotónio Pereira.

Para combater a pandemia, os governos mandaram para casa quatro mil milhões de pessoas (mais de metade da população do planeta), encerraram o comércio não essencial e reduziram drasticamente o tráfego aéreo, paralisando setores inteiros da economia mundial.

Na semana passada o Governo português aprovou um decreto-lei com medidas excecionais na área da educação, mantendo suspensas as atividades letivas presenciais nas escolas para os ensinos básico e secundário.

A nível global, a pandemia de covid-19 já provocou quase 127 mil mortos e infetou mais de dois milhões de pessoas em 193 países e territórios.

Portugal regista 599 mortos associados à covid-19 em 18.091 casos confirmados de infeção, segundo o boletim diário da Direção-Geral da Saúde (DGS) sobre a pandemia.

A doença é transmitida por um novo coronavírus (SARS-CoV-2) detetado no final de dezembro, em Wuhan, uma cidade do centro da China.